- Mariana
Moradores de Campinas, subdistrito de Águas Claras, precisam desembolsar até R$200 por viagem a Mariana
Pouca disponibilidade de ônibus, baixa qualidade da água e conservação da estrada são outras preocupações da população.
Compartilhe:
*** Continua depois da publicidade ***
***
Água
José Catarino Valentim tem 58 anos, mora em Campinas desde que nasceu e diz que a baixa qualidade da água é o maior problema enfrentado pelos moradores do subdistrito. “O primeiro problema que nós temos é a água. É um lugar de muita água, mas é suja. Tem uma casa em cima e ela vem correndo no pasto.” O morador diz que a comunidade luta há décadas por um tratamento de água eficaz. “A gente faz reunião com a prefeitura, mas até hoje nada. Isso já tem 58 anos e nós continuamos nessa luta. Vem do tempo do meu pai. Tem uns 48 anos que ele morreu e nós estamos nessa até hoje. A prefeitura fala que vai dar um jeito, mas nunca chega esse dia”.
Apesar da abundância de água relatada por Catarino, Luan Prudêncio, outro morador de Campinas, afirma que o recurso não chega em quantidade suficiente nas regiões mais altas do subdistrito. “A água é suja e, para o pessoal lá do alto, ela não chega em quantidade suficiente. De vez em quando chega, mas isso precisa ser revisto para que eles também sejam beneficiados”. A dificuldade de diálogo junto à Prefeitura de Mariana para solucionar os problemas também é relatada por Luan. “A gente precisa muito que isso seja resolvido e que a gente seja visto. Eles demoram muito a vir aqui, só vem na hora da política”.
Transporte público
Outra reclamação dos moradores é em relação ao transporte público. Para o pedreiro Janete Ferreira, o número de viagens por semana é insuficiente para atender as demandas de Campinas. “O ônibus era todo dia, depois que veio a barragem [rompimento de Fundão em 2015], ficou sem ônibus aí, depois a Renova começou a puxar. Agora, é Transcotta, mas tem pouco tempo e é só segunda e sexta-feira. Tudo o que a gente resolve é na cidade. Para sair daqui e ir para Mariana com urgência tem que fretar um carro, que já está R$ 200”.
José Catarino também reclama da redução dos horários e argumenta que os moradores de Campinas não devem ser penalizados pela retirada de outras famílias da região, por ocorrência do rompimento da barragem. “A lama acabou com Paracatu e depois disso, eles tiraram os ônibus, deixando só segunda e sexta-feira. Nós não temos culpa que o pessoal saiu de lá não! Se o ônibus é grande, coloca um micro-ônibus, uma van, para atender o pessoal do lugar”.
*** Continua depois da publicidade ***
O ponto final do ônibus de Campinas fica 1,3 Km distante da parte central do distrito, próximo à ponte de Barretos que atravessa o Rio Gualaxo do Norte. Da ponte até Campinas, a diferença de altitude é de 107 metros, uma subida que dificulta a vida de todos, sobretudo dos idosos e pessoas com maior dificuldade de locomoção do distrito.
De acordo com José Catarino, a alegação da Transcotta para não chegar com o ônibus até a parte central de Campinas seria a dificuldade em manobrar o veículo. Problema que já teria sido resolvido segundo o morador, “já faz dois anos que quebraram uma parte do muro do grupo para o ônibus virar, mas até hoje ele continua indo só até a ponte, lá nem Campinas é, lá é Barretos, se tá escrito Campinas no ônibus, ele deveria vir até aqui”, argumenta.
Comunicação
A sensação de isolamento aumenta com a inexistência de sinal de telefonia celular no subdistrito. Luan e Catarino afirmam que muitos projetos para instalação de um torre foram feitos, mas nenhum foi concretizado. “Há um projeto da antena de telefonia, só que eles vão enrolando e, daqui a 4 anos, continua na fase de projeto. Até hoje a torre não começou a ser montada e não sabemos se virá para cá ainda. Lá no edital está como Campinas vai ser beneficiada, só que até agora a gente não está vendo beneficiamento nenhum”, disse Luan.
José Catarino também lamenta a frustração que persiste, após tantos estudos para o fornecimento do serviço. “Vieram dando promessas que iam pôr a antena de telefone pra nós. Faz muita falta. Depois que a barragem passou, vieram várias vezes, olharam esses altos aí, só fazendo nossa alegria. E nada até hoje. O coitado que ganha um salário mínimo, como ele vai ter uma internet cara em casa?”, questiona Catarino.
Algumas residências do subdistrito possuem sinal de internet, via rádio, como única forma de comunicação. O serviço, segundo Luan Prudêncio, foi conquistado por meio de uma iniciativa dos próprios moradores. “A gente negociou e conseguiu trazer a internet para cá. Fomos na prefeitura, depois na Renova, e eles prometeram ajudar. Só que, para isso, eles falam que tem que ter um planejamento, um monte de coisa, aí eles não arrumam. Então, a gente mesmo correu atrás e trouxemos para cá. Graças a Deus, hoje a gente tem internet por causa disso”.
Estradas
A qualidade das estradas de acesso a Campinas também foi questionada pelos moradores. Eles reclamam de manutenção, limpeza e alegam já terem visto em mapas que parte do trajeto constaria como trecho asfaltado, apesar de o serviço nunca ter sido efetuado. “Eles só falam que vão fazer o asfalto e não fizeram nada até hoje. A Samarco veio, fez um pedacinho, nós achamos que ia continuar, mas foram embora”, lamenta José Catarino.
Janete Ferreira se diz agradecido pelas obras recentes feitas em Campinas, mas mantém-se preocupado com as estradas. “O nosso grande problema aqui é estrada. Essa obra (do centro comunitário, do muro da Igreja, da quadra de esportes e do Posto de Saúde) é um trabalho muito bom e a gente fica agradecido. Por outro lado, a estrada deixa a desejar. Se for preciso sair com uma pessoa doente, de uma hora para outra, é a maior dificuldade. Às vezes a pessoa pode até morrer na estrada. Então, fica muito difícil. O prefeito já veio, já olhou e disse que viriam máquinas aqui. Nós estamos aguardando.”
Ao longo do trajeto percorrido durante esta reportagem, nossa equipe percebeu maquinários da Prefeitura de Mariana realizando intervenções nas estradas. Talvez por isso, não tivemos muitas dificuldades para nos locomover, de carro, pelas estradas de acesso a Campinas. Além disso, como alerta José Catarino, a situação se agrava no período chuvoso. “Em tempos de seca, as estradas ainda conservam, mas tempos de chuva é uma negação”.
Nossa equipe enviou questionamentos à Prefeitura de Mariana sobre as reclamações dos moradores de Campinas, mas, até o fechamento desta reportagem, não obtivemos respostas. Também tentamos contato com a empresa Transcotta, sem sucesso.