Quem tem sede, bebe água. Quem tem ganância, suga
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Caros leitores e leitoras (e ouvintes), começo aqui mais um projeto em meu caminho com as palavras. Vamos iniciar um espaço de ideias. Moro na cidade de Itabirito/MG, e sou daqui mesmo, nasci e cresci.
Cresci nem tanto. Nasci uma vez só. Um metro e sessenta e oito de altura.
Mas sou tão mineirinho quanto vocês.
Neste espaço, vamos falar de algo que interessa a todo mundo. Riquezas.
Diretamente daqui, do nosso pedaço de universo, vamos em busca das riquezas desse mundo que o chamamos como tal.
Vamos falar de riquezas dentro dos elementos da nossa vida. Vamos falar de riquezas no capitalismo.
Para mim, o primeiro tema não podia ser outro. O que é indispensável a qualquer tipo de ideia. Indispensável a qualquer tipo de pessoa. E de vida.
Água.
Em sua essência, águas que são de todos. Águas, em sua essência, públicas. E divinas. Águas de terras ricas.
Riquíssimas.
Então sejam bem-vindos, estamos no quadrilátero ferrífero!
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Antes de mergulhar nas águas do presente, vamos pegar um rápido túnel do tempo. Brasil, século XVII. Ciclo do Ouro. Coroa Portuguesa. Coroa da Inglaterra. Estima-se que o ouro e diamante extraídos do Brasil passaram a casa dos trilhões de reais. A necessidade de escoar o Ouro de Minas mudou a capital do Brasil de Salvador pro Rio. Mais de um milhão de africanos foram trazidos para trabalhar nas jazidas. Pau Brasil, depois ouro, ferro, diamante, minério… século XX! O minério de Minas salvou a Europa no século XX. E a Vale foi privatizada. Pronto.
Chegamos.
Voltamos a realidade presente. Voltamos a lama. Pouquinho tempo depois de Bento Rodrigues e Brumadinho, a empresa Vale (que deixou de ser do Rio Doce) recuperou na casa dos bilhões o seu valor de mercado, e paga luvas de valores astronômicos aos seus acionistas, e aos seus executivos.
Tomando como propriedade terras riquíssimas. Fonte imensas de riquezas, até mesmo para os capitalistas ainda humanos.
Este modelo de atividade minerária está, na verdade, destruindo as fontes de qualquer possível capitalismo. O que está em curso, na verdade, não é geração de emprego e renda. O que está em curso é a destruição de qualquer ideia de emprego e renda. Um modelo viciado em sugar o que há de riqueza para atender a, literalmente, quase ninguém. Destruição de nascentes, córregos, rios… biomas inteiros.
Poderiam ser evitados. Havendo mineração. Havendo ricos e pobres. O que as riquezas do mundo não precisam são dos multi ultras milionários. Parasitas. Poucos. Quase ninguém. Destruindo tudo. E ainda chamando de evolução.
As Águas Minerais de nossas terras necessitam de uma visão política. Pra quem acha que é exagero, eu te convido pra um último passeio.
Passeio no presente. Na necessidade – e na falta, de um amplo planejamento público sobre preservação e uso das terras de águas minerais. A mercantilização das águas se relaciona, por exemplo, com a chegada de grupos econômicos de laboratórios farmacêuticos pós Segunda Guerra.
Foi extinto, por exemplo, estudos sobre propriedades medicinais das Águas Minerais. Ciência chamada Crenologia. Se estudava na UFMG, na década de 50. Estudo extinto das faculdades de Medicina do Brasil na época. Por interesses dos poderosos do mercado. Por interesse de quase ninguém.
Quem vê a água só como ferramenta econômica, já perdeu a guerra. O que está em curso não é produção de riqueza. O que está em curso não é nem capitalismo. A luta ultrapassa a necessária batalha contra a privatização da água.
Vamos nadar nas águas de Itabirito. Bacia hidrográfica do Córrego do Onça. Córrego Cata Branca. Bacia Hidrográfica do Córrego Seco. Rios. Córregos. Abastecemos o consumo de mais da metade da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
No Distrito de Acuruí (Itabirito/MG), o setor do mercado imobiliário se atiça com a represa da Usina hidrelétrica de Rio das Pedras, administrada pela CEMIG. Loteamentos, loteamentos, loteamentos… e na cultura de condomínio pra fugir da realidade, é o extermínio das nossas águas que segue em curso.
No Distrito de Ribeirão do Eixo (Itabirito/MG), a comunidade se organiza e luta contra a lógica de degradação dos Rios e da vida, não somente humana, movida pela bacia do Rio das Velhas.
O Distrito de São Gonçalo do Bação, Itabirito/MG, é profundamente ameaçado pelo que podemos chamar de Mineração predatória.
Quando mais produzimos, mais pobre a gente fica.
Na atual lógica – a da Água privatizada, a lógica dos acionistas, dos grupos empresariais dominando o setor de mineração, e outros, estamos acelerando o começo do fim. O Poder Público Municipal precisa funcionar, e comprar a briga do lado certo, do lado dos muitos votos que tiveram. Do lado das comunidades. Por essas terras, mineração e água deveria ser assunto de engenheiro e cientista. Deveria ser pública.
Mas o que está em curso, continua sendo a lógica dos quase ninguém.