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Hoje é sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Movimentos sociais e sociedade civil se unem para tentar amenizar a fome na região dos inconfidentes

Conheça alguns projetos de arrecadação de alimentos e saiba como ajudar

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Movimentos sociais se articulam para somar forças e dividir os alimentos com quem mais precisa - Foto: Karla Rezende/Agência primaz
Após pouco mais de um ano de pandemia, a situação da Covid-19 no Brasil segue se agravando, os efeitos da longa duração deste cenário na vida da população brasileira são diversos e preocupantes. A falta de propostas do governo para minimizar as consequências aumentam o estado de vulnerabilidade das famílias e na Região dos Inconfidentes, algumas iniciativas começam a surgir na tentativa de amenizar um pouco a dor das famílias com fome.

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De acordo com levantamento realizado entre novembro e dezembro de 2020 por pesquisadores do grupo “Alimentos por Justiça”, no Brasil cerca de 59,4% das casas estão em situação de insegurança alimentar leve, moderada ou grave. Ou seja, mais da metade das residências brasileiras lidam com algum nível de preocupação com a falta de alimentação ou a necessidade de substituição de alimentos por aquilo que caiba no orçamento familiar.

Durante o ano de 2020, com auxílio emergencial no valor de R$600, uma parte da população que vivia em extrema pobreza conseguiu sair deste estado. No entanto, em 2021, com o auxílio emergencial bem abaixo do valor inicial e com o aumento dos preços nos mercados, o índice de famílias em insegurança alimentar moderada e grave aumentaram significativamente.

Ainda de acordo com o estudo, uma parceria da Universidade Livre de Berlim (Alemanha), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade de Brasília (UnB), 63% das pessoas entrevistadas para o levantamento usaram a renda do auxílio para comprar comida e o Índice Geral de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) sobre o valor dos alimentos em 2020 foi de 14,09%, a maior variação desde 2020 quando o mesmo índice fechou em 19,47%.

A dificuldade em nossa região não é muito diferente, apesar de iniciativas das prefeituras em criar projetos de distribuição de renda e cestas básicas, a paralisação da educação tirou das crianças a alimentação escolar. Em decorrência disso, as famílias passaram a ter maior demanda por compra de comida bem quando o dinheiro mais falta.

Foi pensando nisso que algumas pessoas passaram a criar alternativas para tentar trazer um pouco de alento para as famílias que mais precisam. O que é possível perceber a partir dos resultados dessas iniciativas é que o bom uso de tecnologias na construção de redes de solidariedade, são capazes de fazer a diferença para muita gente.

Periferia Viva Ouro Preto

A campanha nacional “Periferia Viva” surgiu no início da pandemia, construída por movimentos sociais em diversos estados do país. Em Ouro Preto, a campanha começa a se formar a partir do Levante Popular da Juventude e conforme os avanços, passa a agregar outros movimentos sociais como o Movimentos dos Atingidos Por Barragem (MAB), o Coletivo Outro Preto, a Organização Consulta Popular, o Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE) e a Cáritas Brasileira Regional de Minas Gerais.

Com o prolongar da pandemia, as arrecadações começaram a se fragilizar e pensando em como alcançar mais as pessoas e incentivar as doações, a Periferia Viva Ouro Preto realizou ações em datas comemorativas. A mais recente sendo a “Páscoa Sem Fome” que arrecadou alimentos e distribuiu cestas básicas durante o mês de abril. 

Conversamos com Tamires Aquino, que faz parte da organização da campanha, sobre a urgência de ações como essa. “Em um período de ápice extremo, com muita contaminação, os hospitais lotados, muita gente está com medo do vírus, mas também com medo da fome. Então, foi em torno desse momento que a gente construiu a campanha de ação solidária Páscoa Sem Fome”, comenta.

A ação conseguiu ultrapassar a meta inicial de 20 cestas básicas, alcançando cerca de 40. Já a campanha segue recebendo doações que são convertidas em alimentos e outras necessidades como kits de higiene. Tamires também menciona que, mesmo diante da pontualidade das ações em datas comemorativas, a campanha é contínua.

“Ela [Periferia Viva Ouro Preto] é permanente. A gente realiza essas ações pontuais em torno dessas datas, mas a nossa intenção é conseguir acompanhar, de fato, essas famílias que se encontram em vulnerabilidade por causa da pandemia”, completa

O mapeamento de famílias carentes é feito através de formulário digital. Levando em consideração aspectos de acessibilidade, o cadastro oferece duas opções de preenchimento. Uma para si e sua família e a outra para pessoas que têm o conhecimento de famílias que precisam de ajuda. “Você é a única pessoa da rua que tem acesso a internet, um dispositivo de celular? Você pode cadastrar pra você, para suas vizinha ou para uma outra pessoa que você sabe que tá precisando”, explica Tamires.

Atualmente há cerca de 400 famílias cadastradas no banco de dados. Existem pontos de coleta de doações nas cidades de Ouro Preto, Mariana e no distrito de Cachoeira do Campo, a lista completa está disponível no Instagram da organização. Para fazer uma doação em dinheiro para a campanha Periferia Viva Ouro Preto, qualquer valor pode ser transferido em:

PIX: (31) 975333175 (Tamires Aquino)

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Movimento Correnteza

Uma iniciativa surgida na região para auxiliar famílias em situação de vulnerabilidade surgiu do Movimento Estudantil Correnteza. Formado durante as ocupações de universidades e institutos federais em 2016 por estudantes da UFOP e do IFMG, o Correnteza se alinha a “defesa dos direitos da classe trabalhadora e aos estudantes por uma Universidade popular, rompendo com os muros de um espaço historicamente ocupado pela elite do país”.

Em um movimento de solidariedade, os militantes lançaram uma campanha de arrecadação e distribuição de cestas básicas e álcool em gel para a população mais necessitada. Nós conversamos com Érika, estudante do curso de serviço social e militante do Correnteza para conhecer detalhes da campanha.

A estudante explica que no momento a campanha está em fase de arrecadação e mapeamento das famílias que serão atendidas por essa “rede de solidariedade da classe trabalhadora”. Para Érika, no momento crítico da pandemia que estamos vivendo, “é legítimo e cumpre um papel fundamental esse tipo de rede de solidariedade, ainda mais nesse momento em que as políticas sociais do país se mostram ineficientes pela ausência de recursos, bem quando temos uma emergências sociais, como a miséria, a pobreza e a própria fome”, esclarece.

Ainda de acordo com a militante, em nossa região, outros fatores econômicos e sociais são complicadores no que se refere a situação das famílias mais carentes, “analisando aqui o território que a gente tá inserido, há um valor exorbitante dos supermercados, tendo em vista que o público da mineração são compradores em potencial, né? Além disso, as hortas nem sempre são possíveis por questões climáticas e pelas próprias condições de habitação que a gente se insere. Então, entendemos que a fome é algo urgente, ela não espera o processo de crescimento dos legumes, sabe? O pobre não tem só que comer feijão e o arroz feito no fogão a lenha”, pontua.

Para quem quiser ajudar a campanha de arrecadação do Movimento Correnteza, seja com itens de cesta básica, álcool em gel ou contribuições financeiras via PIX, existem dois pontos de coleta: 

  1. Rua Aníbal Valter, 100, São Gonçalo, Mariana/MG
  2. Rua Alexandre Kassis, 213, Bauxita, Ouro Preto/MG

PIX: +5531988260984 (Heyder)

// +5531987209581 (Rayele)

Outras Iniciativas

Mesmo sem um grupo organizado prévio, Carol e Dani, duas colegas de trabalho e assistentes sociais, encontraram uma forma de contribuir. A partir do relato de uma amiga em comum e colega de profissão. A amiga contou sobre a situação familiar de crianças atendidas por uma creche no distrito de Antônio Pereira e a partir daí, Dani e Carol resolveram lançar uma campanha para arrecadar fundos e reverterem a quantia arrecadada em alimentos para serem distribuídos para aquelas famílias.

De acordo com Carol, para agilizar todo o processo e na tentativa de atingir um maior número de pessoas, “nós circulamos um zap no dia 16, sexta-feira, às 10h da manhã, nos meus grupos de trabalho, nos grupos de trabalho da Daniela. Isso passou para outros lugares, foi para outras pessoas, acionado por várias pessoas. Eu particularmente nunca mobilizei uma ação, eu apenas contribui. E a nossa intenção, te confesso, era conseguir 10 cestas. Entre as 10h da manhã da sexta até às 10h da manhã do sábado, a gente já tinha conseguido transferências com o PIX suficientes para comprar 71 cestas básicas”, revela.

Ainda de acordo com a assistente social, “o que mais impressiona a gente é que tinham as doações de R$5,00 e doações de R$500,00. Os R$5,00 fazem muita diferença no montante. Tem quem pense ‘Ah, mas R$5,00 é pouco, nem vou doar…’, não é pouco quando se faz uma vaquinha para alcançar um objetivo, de cinco em cinco, conseguimos muitas cestas”. 

Outra preocupação das amigas foi a compra dos itens das cestas básicas, Dani e Carol fizeram questão de negociar a compra das doações diretamente com um supermercado do distrito ao invés de negociar com uma grande rede, além disso, como o valor superou a quantidade de cestas pretendidas para a distribuição na creche, foi possível dar uma incrementada nas doações com a inclusão de leite, já que se tratava de famílias com crianças pequenas.

Carol se diz satisfeita com o resultado, explica que foi uma arrecadação pontual e comemora que o próprio movimento de fazer aquela grande compra no supermercado local, acabou por chamar a atenção de uma empresa que pretende fazer uma campanha similar neste mês. “Foi um trabalho que não deu trabalho, deu muita gratificação a mim e a Dani que nunca tínhamos conduzido nada nessa linha, foi muito gratificante perceber a mobilização das pessoas. Pessoas que eu particularmente conheço muitas, mas mais de 50% não sei quem são”.

Foi dada ainda uma atenção especial à prestação de contas das doações, de acordo com Carol, “muitas das pessoas que contribuíram, depositaram dinheiro na minha conta sem saber quem eu sou. Tem uma responsabilidade ao receber um dinheiro de uma pessoa que está acreditando que você está fazendo o bem e depois você prestar conta. A gente fez um relatório com os itens da cesta, nota fiscal, comprovante de transferência, extrato e algumas fotos das cestas montadas e encaminhamos tudo pelos mesmos grupos que fizemos as solicitações de doação”, explica. 

Em comum, as iniciativas têm o desejo de ajudar e o emprego de tecnologias de informação para que você possa ajudar sem precisar sair de casa. Muitas famílias precisam de ajuda neste momento e infelizmente a fome não espera, nosso apelo é para que você, se tiver condições, por favor, doe.

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