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Hoje é sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Dinheiro e a sociedade de consumo: A vida como ela é

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Hoje o assunto é o que todo mundo quer, todo mundo gosta: dinheiro. Hoje nós vamos falar dessa coisinha que simboliza e ajuda a organizar o que nós chamamos – e de fato, é o que vivemos, que é a chamada sociedade de consumo.

Vamos lá, sociedade de consumo. Um modelo de coisas. E em tudo que fazemos, existe consumo: em se vestir, em comer. É assim que nos organizamos e enxergamos as realidades em que vivemos, e na forma de praticarmos a vida.

Quatro elementos fundamentam essa estrutura em que fazemos escolhas, temos desejos, experimentamos. São eles: produção em massa, transporte em massa, as vendas em massa e a figura do consumidor.

Estes pontos se juntam, se conectam e sistematizam de forma massiva, o meio em que vivemos. Que experimentamos a vida. É assunto pro mundo inteiro. Mas hoje o nosso mundo, adivinha só, vai ser Itabirito! E se a Avenida Queiroz Júnior tem algo em comum com qualquer outra avenida famosa de Paris, Londres ou Miami, esse algo em comum é o consumo.

Somos figuras diante de circunstâncias e escolhas, e vamos reproduzindo essa tal “vida de coisas”. E assim, numa sociedade de consumo, suas sensações também viram coisas. A sua experimentação, seja lá qual for. Inclusive de cidadania. Todas sendo reproduzidas dentro desses aspectos que fundamentam o consumo. Enquanto a sua mente se acostuma a enxergar a vida assim, o que nos resta é criar um certo nível de resistência diante deste padrão massivo e que trabalha, também, na subjetividade humana.

Passam carros na Queiroz Júnior. Você aí, que se acostumou, vê o carro. Não estamos acostumados a ver um processo ali, representado por aquela coisa. Observamos o que o carro virou, o seu potencial, o seu desempenho, design, mas é preciso haver uma espécie de “esforço revolucionário” para que você pense em como aquele carro, se tornou aquela coisa. Os processos, as etapas, os momentos. Perceber, e considerar isto, é remar contra a maré do mundo das coisas.

Percebeu que chegamos até aqui, e pouco falamos em dinheiro? É porque o nome da coluna é uma figura ideal para simbolizarmos a sociedade de consumo, e como o conceito de liberdade se transforma numa “prisão sem grade” dentro da sociedade de massas. Dinheiro: o que te dá felicidade, o que te proporciona cidadania. O que te faz existir.

O consumo lhe proporciona até o poder de consumir a ideia de que “lida bem com essa coisa de dinheiro”. Na tabelinha entre ganhar e aproveitar a vida. Mas lembrem-se, tratamos aqui de um problema anterior. E maior. Abordamos algo que toca a subjetividade humana. Uma sociedade de consumo. Inclusive, é estrutura para formamos uma ideia do que seja ‘aproveitar a vida’, ou até mesmo no jeito em que se acha correto viver. Então, lembrem-se, no Mundo de Coisas (na sociedade de consumo) as suas sensações também se tornam coisas.

O dinheiro de Itabirito é majoritariamente controlado por grupos empresariais que dominam setores importantes e estratégicos, inclusive para todo o Brasil. Sim, é o Minério.

A atividade aqui faz o dinheiro girar, uma pena que sob a lógica infame dos super ricos, na sociedade de consumo. É aí que o cara fica transformando sua própria vida profissional, suas conquistas, as suas batalhas, suas próprias experiências de vida, para justificar um modelo de reprodução social.

“Eu cheguei até aqui.” Observa essa frase. É aí que o CEO da própria vida valoriza o processo. Enquanto no mundo real de Itabirito, é o trabalhador rural, pequenos agricultores, todas as condições de subemprego, os braçais, a linha de frente da sociedade de consumo que vive sob a mira social constantemente apontada para si.

O dinheiro romantiza a barbárie.

E vivemos num mundo em que é preciso chegar lá, para depois reconhecer o processo. Tem que crescer na vida pra depois justificar um Estado de Minas Gerais quebrado, uma Itabirito com sérios e diversos problemas, uma exploração massiva de serviços e riquezas, para vir com a frase simplesmente mais dita em Itabirito: gera emprego e renda.

Mas é claro que gera emprego e renda! Pro sistema girar, a massa tem que ter o mínimo pra consumir. Em massa. É a figura do consumidor.

E apenas isso, veja bem, só isso, o mínimo de emprego e renda, justifica um extermínio de tempo, de energia, de florestas, gente, água. Compreende?

Ah, mas porque isto acontece? “Foi na época que a esposa ficou grávida, que eu consegui o emprego na Vale”. O sentido de gratidão é atribuído a uma coisa, no caso, a uma empresa.

Se tudo é consumo, o que resta é escolher o que consumir. O sentido é sempre uma tarefa.

Pra você Itabirito, eu desejo que esta aldeia se reconheça. Que não se renda como um reduto de acionistas e especuladores. E não assine logo, uma carta de rendição a sociedade de consumo.

Itabirito: crie sua identidade, defenda suas terras, lute contra as privatizações da exploração de nossos espaços, e transforme toda a produtividade deste povo, o minério explorado, em riqueza interna. Riqueza do mundo. Riqueza daqui.

E o dinheiro, em? É hora de segui-lo. E colocá-lo, de vez, no bolso do trabalhador.

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Thomás Toledo é brasileiro, latino americano, humano e graduado em Comunicação Social/Jornalismo

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