- Antônio Pereira
Cancelado teatro infantil sobre rompimento da barragem de Doutor em Antônio Pereira
Críticas de moradores à Vale e restrições da pandemia levam à suspensão da atividade
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A comunidade do distrito de Antônio Pereira, entretanto, não aprovou a iniciativa. Existem muitas implicações sociais e psicológicas ligadas à situação de perigo iminente a que os moradores da Zona de Autossalvamento estão submetidos. Para eles, uma encenação como a proposta representaria mais uma violência por parte da empresa. Durante toda a semana, diversas manifestações foram veiculadas por meio das redes sociais, alcançando os organizadores do evento.
A Frente Mineira de Luta das Atingidas e dos Atingidos pela Mineração (FLAMa-MG) enviou uma nota de alerta à Vara Criminal e da Infância e da Juventude da Comarca de Ouro Preto, à Coordenadoria da Infância e da Juventude do Tribunal de Justiça de Minas Gerais e ao Ministério Público Federal sobre a ação. No documento, a entidade descreve como sendo “um teatro mórbido, uma encenação da desgraça, que já atormenta diuturnamente a existência dessas pessoas sem qualquer preparo”.
Pandemia de coronavírus
Outro ponto bastante questionado pela população do distrito foi a realização de um evento presencial enquanto o município está qualificado na Onda Vermelha do programa Minas Consciente considerando a pandemia de Covid-19. Questionada sobre a realização do teatro em meio à pandemia, a assessoria da Vale informou, nessa segunda-feira (10), que o evento havia sido suspenso.
Daniel Neri, professor do IFMG e militante da FLAMa, explica que as denúncias “estão relacionadas, obviamente, ao absurdo que é, no auge da pandemia no Brasil, nesse patamar elevadíssimo de mortes diárias, fazer uma aglomeração de crianças e jovens. O segundo ponto gravíssimo é você tratar com teatro para crianças algo que é tão traumático para os moradores do distrito. Muitas pessoas estão adoecidas, com problemas graves em função do medo, da insegurança, das incertezas que a própria empresa produz quando não aceita as determinações da Justiça”. Antes do cancelamento da peça teatral, o movimento já havia informado à Redação da Agência Primaz que os moradores estavam organizando uma manifestação para os dias das apresentações.
“No meu ponto de vista, eu não acho que esse teatro agora vai ser bom. Eles nunca tiveram nenhuma comunicação com a comunidade, nem com as crianças. Eu não levarei meu filho porque acho isso uma falta de respeito. Por que eles não investem mais na saúde das crianças, não colocam um psicólogo para ajudar as crianças?”, questiona uma mãe e moradora da comunidade que não quis se identificar. “Nós ainda estamos na Onda Vermelha. As crianças não vão entender que precisam ficar distantes um do outro. Os meninos não podem ir pra escola, não podem ir num parque, aí para um teatro da Vale eu vou levar?”, acrescenta.
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Charles Murta, geólogo da Defesa Civil de Ouro Preto, explicou que a peça faria parte da programação do simulado de rompimento da barragem e autossalvamento: “Esse teatro foi apresentado como uma alternativa que deu certo em Santa Rita Durão [distrito de Mariana]. Ele foi feito lá a pedido das escolas para abordar os jovens, foi todo acompanhado por psicólogos, com o objetivo de levar informação para o público jovem, com a supervisão e com conhecimento do Ministério Público”.
O cancelamento do evento, segundo ele, decorre da falta de condições sanitárias para a sua realização. “No sábado [dia 8 de maio], fizemos quatro reuniões com os moradores de Antônio Pereira, em que apresentamos toda a programação do simulado. E nós nem falamos do teatro, porque as condições não cumpriam as metas [sanitárias ou protetivas] estabelecidas. Deixamos bem claro à Vale que ele só seria realizado se as condições da Covid-19 permitissem”, conclui Murta.