Luiz Linhares: e-terno artista mineiro-brasiliense
Insira o subtítulo
Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “Editoriais”
Compartilhe:
Sinto dores, dores de perdas físicas, dor poética também. Poeta é fingidor. Finge sentir que é dor, a dor que deveras nem sente. Minhas dores são imaginárias, somatizadas em altas doses de poesia. Minhas dores físicas findaram-se. Já não doem na porção física da alma, aquela porção corpórea, na qual habita o espírito. O espírito não dói. Não sei precisar o lugar específico da dor. Só sei que a dor de perder é que deve doer, mas vai doer pouco. É passageira, depois viram doces e ternas saudades. Levam fé? Eu levo. O tempo é sol que clareia manhãs. Cá e lá a natureza exuberante é marcada por flores. Sou ou não sou a favor da liberdade de expressão? Sou a favor do riso solto, estampado na cara do palhaço. Nos fragmentos de mim levo a vida. Luiz de quê? Luiz de todos. Luiz dos camaradas que repercutem a notícia, os bastidores do trabalho metódico e burocrático da TV Câmara Nacional, mas de alma, olho e coração na arte. Sou ou não sou artista? Sempre foi, Luiz. Luiz Linhares, Luz Linhares, ser humano multifacetado, talentoso, multiartista, multimodal. Apaixonado pela plenitude da vida e pelas filhas: maravilhosas! Você tem que conhecê-las, vai gostar de todas. Creio na arte e em suas potencialidades criativas, emancipadoras, terapêuticas. Em abril deste ano, Linhares voltou a ler “Lagripoemas”, que, segundo ele, “é uma autobiografia das lágrimas de Andreia Donadon, que rolam pelo coração. É que tirei esta madrugada para ler”. “E obrigado por existir e ser minha melhor amiga…” Em “Lagripoemas “, pinça o jornalista: “desde que nasci sou meio riso, meio choro”. E me emociono ao ler nova mensagem de Luiz: “É isto aí, minha chegada da Primaz de Minas. Sou artista desde que nasci. Mas aviso: não tenho medo de chorar, mesmo depois da morte. Mesmo porque não vai haver fluido lacrimejando. Não dói, nem vai doer. Vou ver o pragmático se encerrar, fechar as cortinas. Sempre a partir de seus poemas, vou passando meus dias na internação, declamando suas poesias para as enfermeiras, fazendo caras e bocas para rirem de mim. É que nasci palhaço, vou renascer palhaço. A madrugada é boa para ler poemas: quanta beleza há em cada palavra? Mistérios”.
Eu bem sei que você, artista-jornalista Linhares, apreciava ler poemas de madrugada. Levantava-se do leito, com sua voz de locutor feito barítono, para recitar os versos sintéticos do “Cenário Noturno”. Linhares, com um lápis, escreveu nos espaços em branco do livro, suas sensações ruminadas sobre cada texto. Eram poemas, também. Não se contentou em ler para si, caminhou pelas ruas de Pirenópolis e declamou para transeuntes e animais. Que imaginação e amor à arte da interpretação! Dizia que era palhaço, artista na alma e jornalista de profissão. Isto eu sabia, desde a primeira vez que o vi, em 2007. Pois é, meu amigo, 14 anos de convivência, perto e distante; aliás, nunca fomos distantes, sempre estivemos juntos, socializando e confidenciando sobre nossas andanças e devaneios poéticos. Artista e jornalista Linhares, sete alagoano-brasiliense, artista não morre, vira pó de estrela, caçando rumo no espaço estelar, voa feito a velocidade da luz. Pousa de um jeito meio arteiro, desinibido, escorregando, chega chegando, com seu melhor sorriso. Vejo a tela do palhaço sendo exibida pelo menino jornalista, brincalhão na tela, brincalhão no rosto que se superpõe à tela. Que seria da vida, não fossem os palhaços? Que seria do humor, não fossem os palhaços? A vida corre para muito além das amplas avenidas deitadas no Plano Piloto, pista do avião que foi pelo arquiteto desenhado. O avião decolou, levando o jornalista para as alturas. Esse avião não tem previsão de retorno. No desenho original ficou apenas a dor pela percepção do vazio que fica tatuado na pista de decolagem.