- Antônio Pereira
Prefeito de Ouro Preto faz visita aos atingidos de Antônio Pereira e Vila Antônio Pereira
Objetivo é fazer o levantamento dos problemas enfrentados pelos atingidos e buscar soluções
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Na manhã de hoje(18), uma comitiva formada pelo prefeito de Ouro Preto, Angelo Oswaldo, a vice, Regina Braga, secretários de governo e servidores da assistência social, saúde, defesa social, obras e meio ambiente, visitaram as Zonas de Autosalvamento (ZAS) em Antônio Pereira, Vila Residencial Antônio Pereira e arredores. Moradores esperam que a visita se converta em soluções. Pelo menos três famílias ainda moram sobre a “mancha invisível”.
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Com cartazes que pediam a remoção de famílias, o prefeito foi recebido pela população. Já no início, na Rua Água Marinha foi possível observar que as reclamações feitas no início de março para a nossa reportagem, não foram atendidas e os problemas permanecem. As famílias continuam morando sobre a “mancha invisível”, não houve qualquer tipo de limpeza aparente das propriedades ou das rotas de fuga, ao contrário do que foi prometido pela Vale no fim de março.
José Tomás é morador da Rua Água Marinha e fez questão de dizer que é do interesse dele e da família se mudar da localidade, mas com garantias. “O que a gente precisa pra sair de casa é de garantias, isso a Vale não nos deu ainda, o que a gente quer é o nosso direito preservado”, argumenta.
Outra moradora da mesma rua, Ana Carla, reclama de problemas de saúde e é categórica: “Eu nunca soube da existência de alergia por stress e agora estou toda empolada, isso aqui [aponta para sua pele empolada] é resultado da falta de compromisso da Vale com a nossa situação”. Sobre a não remoção, Ana conseguiu uma promessa de tentativa de intervenção da Prefeitura e do secretário de defesa social, Juscelino Gonçalves na busca de uma reunião entre representantes da mineradora e a atingida para tentar resolver a situação.
Leslier Torres mora na rua Ametista e sua casa fica na divisa da “mancha invisível”. Por sua casa ficar a cinco metros da mancha, sua família não consta entre aquelas que deverão ser removidas. Entretanto, sua família está em um estado de isolamento e a atingida reclama da insegurança, “Eu não tenho vizinhos mais, meu marido está doente, eu perdi a clientela do meu pet shop e fui assaltada a mão armada às 20:30h na porta de casa”, denuncia.
Patrícia Rodrigues morava na Rua Irineu Faria, em Antônio Pereira e por conta própria se mudou para uma casa mais distante da barragem que era vista de seu quintal. Porém, a mudança não foi suficiente para contornar os problemas que ela passou a enfrentar após a Barragem de Doutor ter seu nível de segurança rebaixado para o risco 2 de rompimento.
A moradora cuidava de sua família, agora precisa ser cuidada, “eu não consigo nem cozinhar. Eu tenho dois laudos, um médico e um da defesa civil. O laudo médico diz que eu não posso mais viver em minha casa. Você sabe o que é isso? Não tenho cabeça nem tranquilidade mais para morar em casa. Hoje em dia eu não vivo mais, eu flutuo”, desabafa.
Lorrayne Ramalho mora com o marido e dois filhos pequenos na Rua Irineu Faria, a atingida reclama de problemas de saúde que se agravam em decorrência das obras de descomissionamento. “É horrível morar aqui, eu tenho sinusite, tem os meus pequenos em casa, com essa obra, levanta muita poeira e eu preciso levar meu filho direto pro hospital, ele é alérgico”. A moradora vive em estado de suspensão, sem saber exatamente o que poderá acontecer, “uns falam que vão nos tirar daqui, outros dizem que não, então a gente fica sem saber o que vai acontecer”, relata.
Questionado sobre os riscos que os moradores da Rua Irineu Faria poderiam correr em um eventual rompimento, o secretário de defesa social, responsável pela Defesa Civil de Ouro Preto, Juscelino Gonçalves afirma que “em agosto a Vale deverá encaminhar o próximo estudo de impacto e com ele será possível determinar os possíveis riscos geológicos que os moradores da Rua Irineu Faria estão expostos”.
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Lina Anchieta, militante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), viu com bons olhos a iniciativa do executivo em visitar as ZAS, “Nós entendemos que é muito importante o poder público, prefeito e secretarias pisarem aqui e entenderem melhor a situação do território e do povo atingido, o medo constante do rompimento da barragem e outros problemas como o barulho e a poeira gerados pela empresa. A partir daí é possível pensar em ações para melhorar a situação da população”, explica.
Edvaldo Rocha, secretário de desenvolvimento social, habitação e cidadania, prometeu a criação de uma força tarefa para diagnosticar e atender pelo menos as situações mais graves encontradas no distrito, “eu não consigo prometer que a gente vai conseguir resolver todos os problemas aqui, até porque a demanda é muito grande para a quantidade de profissionais que temos hoje disponíveis no setor de assistência social”, justifica.
O prefeito Angelo Oswaldo avaliou positivamente a visita ao distrito e afirma que a Prefeitura de Ouro Preto está em diálogo constante com os atingidos de Antônio Pereira. O Prefeito explica que a visita foi planejada após reunião com atingidos no último dia 12. Ângelo explica que são diversos os problemas que surgem em decorrência da instabilidade da barragem: “O que pudemos observar aqui foram problemas relacionados à segurança das pessoas, há um processo de violência em todas as áreas de Antônio Pereira. Tem problemas relacionados à saúde da população; o grave problema de saúde mental e psicológica da população acaba a gerar problemas de saúde de ordem física nas pessoas. Ouvimos diversos relatos dos moradores aqui e a partir daí será feito um relatório para darmos prosseguimento aos trabalhos”.
Em relação à diminuição do nível de risco de emergência da barragem pela Vale, o prefeito faz uma analogia com as ondas do programa Minas Consciente: “Sair do risco 2 para o risco 1 é a mesma coisa que sair da onda roxa para a onda vermelha. Eu parabenizo o trabalho da Vale em reduzir o risco de rompimento da barragem, mas nós sabemos que o risco ainda existe”.
Sobre a redução do risco de rompimento da Barragem de Doutor, a Vale garante que “as famílias da Zona de Autossalvamento (ZAS) da barragem Doutor que foram removidas permanecerão realocadas preventivamente até que seja concluído o processo de descaracterização da estrutura”.