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Hoje é sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Moradores realizam protesto durante simulado de rompimento de barragem em Antônio Pereira

De acordo com moradores, a sirene estava novamente silenciosa

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Moradores posam para a foto em frente a Barragem Doutor - Foto: Lui pereira/Agência Primaz
Na manhã de hoje (22), durante o simulado de evacuação das Zonas de Autossalvamento da Barragem Doutor, dezenas de moradores realizaram uma passeata para reivindicar direitos em Antônio Pereira. O grupo exigiu a remoção de famílias, cobrou por indenizações da mineradora e pediu por ações que diminuam os impactos da obra de descomissionamento sobre o distrito.

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Às 10h da manhã, assim que a sirene começou a tocar, o grupo saiu em passeata pelas ruas do distrito. Os atingidos, alguns com os corpos cobertos de barro, saíram do loteamento em direção ao ponto de apoio localizado próximo ao CRAS, em seguida, o grupo retornou e o protesto se encerrou próximo ao supermercado Girassol.

Uma das pautas exigidas pelos manifestantes foi a remoção dos moradores da Rua Irineu Faria. Apesar das casas não estarem sobre a mancha hipotética da Barragem Doutor, as construções são localizadas no topo de uma encosta e por este motivo, os moradores temem que em um eventual rompimento, o barranco possa deslizar e levar junto as suas casas.

Patrícia Rodrigues uma das moradoras não esperou pela remoção e se mudou da Rua Irineu por conta própria, “Eu tenho muito medo, tenho crises de pânico, a gente não acredita que essa barragem seja segura. Para fazer essas obras na barragem, o certo era tirar todo mundo primeiro”, afirma.

Claudio, outro morador presente na passeata não acredita na boa intenção da mineradora e diz que a Vale não apoia os atingidos em Antônio Pereira: “A gente decidiu fazer uma passeata hoje porque a Vale diz que dá todo o suporte para a gente desde o início, mas a gente fica desamparado aqui, a gente não concorda com toda essa mídia que ela vem aqui pra fazer não, pra gente isso aí é só mídia”, explica.

O mecânico de máquinas pesadas, Ygor Lopes, está desempregado e para ele a Vale deveria assumir a responsabilidade sobre impactos econômicos no distrito, “se você for em qualquer empresa que presta serviço para a Vale aqui no Pereira, se tiver 100 funcionários, 80 são de fora, mesmo assim profissional mesmo não contrata, daqui só ajudante. Tinha terreno aqui que valia mais de 100 mil, amigão, hoje você não acha quem dá 50 mil nele, desvalorizou a comunidade todinha, como vive em um lugar desses?”, questiona.

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Ainda de acordo com Ygor, a relação entre a mineradora e o distrito é muito injusta, “antigamente tinha aquela política do pão e circo, né? Aqui é a mesma coisa, a Vale dá migalhas e leva as riquezas daqui é de carreta. Cortaram a serra todinha aqui, eu moro lá em cima, perto da lapa e mesmo assim a poeira é insuportável. Tem uma cachoeira boa lá perto da Vila, mas se você chega lá perto, falta o segurança da Vale te dar borrachada. Isso aqui antes era um lugar bom pra morar, mas hoje ninguém suporta mais isso”, desabafa.

Jamir Carvalho tem um depósito de materiais de construção em Antônio Pereira, o comerciante afirma que já entrou em contato com a Vale para buscar reparação, mas até o momento não conseguiu respostas da mineradora, “olha só quanta construção parada aí, ninguém quer construir aqui mais não, não tem segurança de nada. Eu fechei a minha loja pra vir pra cá, se eu ficasse lá não estaria vendendo nada, faz tempo que não vendo é nada”.

Logo no início da simulação, os moradores não conseguiram ouvir a sirene, de acordo com Samuel, ela estava baixa mais uma vez. “O pessoal ficou bem chateado porque mais uma vez a sirene foi bem baixa né? Nem todos os moradores conseguiram escutar a sirene, e estão bem chateados ultimamente, afetados emocionalmente. A gente sente isso no dia a dia, na vivência aqui na comunidade. A gente sempre cobra transparência da empresa e hoje essa manifestação aqui é para cobrar mais respeito com a comunidade”.

Encaminhamos para a mineradora alguns questionamentos sobre o volume da sirene, sobre a avaliação da mineradora sobre o simulado e qual teria sido a taxa de adesão dos moradores ao exercício, em resposta, a Vale encaminhou uma nota com o seguinte teor:

“O simulado é uma atividade preventiva e faz parte do Plano de Ação de Emergência para Barragens de Mineração (PAEBM) em cumprimento à legislação vigente, devendo ser realizado mesmo quando a barragem está sem nível de emergência, onde há declaração de estabilidade emitida. O objetivo é orientar a população sobre como proceder em caso de emergência e seu caráter preventivo e de treinamento permite a correção de eventuais falhas no processo. A Vale reforça seu compromisso com a segurança dos moradores de Antônio Pereira e seus trabalhadores. As atividades deste sábado seguiram todos os cuidados para evitar a disseminação da Covid-19, segundo as orientações das autoridades de saúde e da Secretaria Municipal de Saúde de Ouro Preto. A barragem Doutor teve seu nível de emergência reduzido de 2 para 1, na última terça-feira (18/05). A mudança, que atesta o aumento da segurança e estabilidade da estrutura, é resultado de uma série de ações que vêm sendo realizadas pela Vale nos últimos meses.”

Após o recebimento da nota, questionamos novamente sobre quais teriam sido os resultados preliminares do simulado, dados sobre a adesão dos moradores e novamente sobre o volume sonoro da sirene, entretanto não tivemos respostas.

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