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Hoje é sexta-feira, 20 de setembro de 2024

A Mulher na Janela é, pelo menos, honesto

Filme de Joe Wright estreou no meio de maio na Netflix e traz um suspense que tenta homenagear o mestre do gênero, Alfred Hitchcock.

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Ao se deparar com a sinopse ou até mesmo com o nome do filme, A Mulher na Janela, o espectador mais atento é levado instantaneamente a pensar em Alfred Hitchcock, precisamente em um de seus clássicos mais aclamados: Janela Indiscreta.

É de se aceitar que as pessoas criem certas suspeitas – ruins – com esses sinais. Afinal, obras que tentar ser uma cópia de outra nem sempre dão certo. No entanto, em sua primeira cena, o filme já entrega uma honestidade ao passar por um breve frame de Janela Indiscreta.

Não é apenas aí que está a referência ao filme de 1954: tanto o roteiro quanto algumas tomadas são claramente inspiradas em Hitchcock – vale até mencionar alguns tributos a Psicose e Um Corpo Que Cai, outros clássicos do cineasta.

Se entregar, dessa maneira, às referências, não é ruim. Ainda mais se assumido. Essa honestidade e o elenco de peso, fazem A Mulher na Janela merecedora de atenção. Amy Adams divide tela com os oscarizados Gary Oldman e Julianne Moore. Também em cena o Falcão da Marvel, Anthony Mackie, e a sempre competente Jennifer Jason Leigh.

Amy é Anna, uma mulher que sofre de agorafobia e vive trancada dentro de casa. Seu passatempo, bem como o do personagem de James Stewart em Janela Indiscreta, é “vigiar” a vida de seus vizinhos pela janela. O que a faz presenciar um assassinato e a se envolver com uma família problemática.

A perspectiva da história sempre é o ponto de vista de Anna que, não apenas pela agorafobia, mas também pelo excesso de álcool e de remédio, demonstra ter outros tipos de distúrbios, deixando o suspense sempre alto devido a desconfiança que o espectador cria por aquela personagem.

O suspense pelo suspense não é de todo mal e o espectador pode achar que suas quase duas horas são bem desenvolvidas. Contudo, há problemas claros e tudo pode ser explicado pelo complexo processo de produção do filme, que passou por refilmagens, mudanças de produtor e até mesmo um “abandono” do diretor antes de ser lançado.

É de se esperar mais, também, de um filme tão recheado de astros. Amy Adams é sempre talentosa, mas parece sofrer, nos últimos anos, com projetos ruins, vide Era Uma Vez Um Sonho.

Gary Oldman apenas aparece em cena pontualmente e não dá uma dimensão de sua capacidade de performance. Bem como Moore, digna apenas de um diálogo e não muito mais. Anthony Mackie, então, nem se diga: apenas empresta sua voz na maior parte do filme.

Se o desperdício de talento é evidente, o desenvolvimento do suspense é problemático. A partir do momento em que a história é colocada sobre o ponto de vista da protagonista, seu enredo é contado de forma dúbia, colocando o espectador sempre atento a o que é real e o que é devaneio de Anna.

Mas, o caminho até o final se mostra um pouco mais tradicional do que se espera. A revelação final é surpreendente, mas nada que condiz com o desenvolvimento do filme. As soluções dos problemas são simples e até um pouco fáceis demais.

A Mulher da Janela é um honesto tributo, não há como negar. Os talentos em cena são muitos e valem a atenção. Mas os problemas de produção prejudicam o desenvolvimento da história, que poderia ser, muito mais, do que uma celebração a Hitchcock.

Ainda assim, não dá para dizer que você desperdiçará seu tempo assistindo. Talvez tenha, apenas, a impressão que essas 1h40 de duração valessem mais do que se entrega.

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Kael Ladislau é Jornalista graduado pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
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