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Hoje é sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Apesar do aumento no número de óbitos, Prefeitura de Itabirito não detalha informações sobre controle e combate à pandemia

Na contramão do alarmante cenário, a administração municipal não considera adoção de medidas mais restritivas

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Arte: Shutterstock/Artt Lead
Dezoito óbitos em 15 dias (02 a 18 de junho): número sensível e assustador para uma cidade com população de pouco mais de 50 mil habitantes. Itabirito já contabiliza 136 vidas perdidas, enquanto as vizinhas, Ouro Preto e Mariana, marcam 109 e 86 óbitos (dados do dia 23/06). Além da população de Itabirito ser, em número, inferior às das duas outras cidades, o que preocupa em relação aos casos e mortes, é a falta de informações exatas acerca de dados e ações fiscalizadoras, o que também transmite a sensação de que a cidade voltou à sua normalidade com relação às atividades.

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Prefeitura omite dados e ações

De acordo com os índices do boletim epidemiológico, Itabirito havia zerado o número de pacientes em espera por leitos de UTI na sexta-feira (18), mas teve um disparo considerável no número de óbitos, atingindo 77,3% das mortes ocorridas na 2ª quinzena de março, a pior da pandemia nesse aspecto (Informativo Covid-19 – Atualização nº 42). Dois dias depois, porém, um paciente que se encontrava na UPA, com indicação de UTI, foi transferido para um hospital de Betim, supostamente por não haver vaga na Santa Casa de Misericórdia de Ouro Preto (a instituição não disponibiliza dados da taxa de ocupação dos leitos nos finais de semana). Nos últimos 3 dias, os boletins indicaram:

  • Dia 21: um paciente no HSVP aguardando transferência para UTI
  • Dia 22: dois pacientes no HSVP aguardando transferência para UTI
  • Dia 23: uma paciente no HSVP em estado grave

Porém, informações sobre quais ações estão vêm sendo tomadas pelos setores envolvidos no combate à Covid-19), incluindo a fiscalização da prefeitura, quando repassadas, não revelam com exatidão o que está sendo realizado no município para o controle da crise. A Agência Primaz entrou em contato com a PMI com alguns questionamentos, mas as respostas têm sido evasivas ou incompletas, como relatado a seguir:

Solicitamos o número total de óbitos, idade, sexo e se possuíam ou não comorbidades, com a finalidade de traçar um perfil do cenário na cidade, como já feito em outra reportagem da Agência Primaz. Em nota, a administração municipal respondeu que, “quanto a informações individuais dos pacientes que vieram a óbito, contemplando faixa etária, doenças preexistentes, entre outros, os dados estão disponíveis nas notificações apresentadas ao Governo de Minas Gerais”.

A partir das notificações dos boletins epidemiológicos postados nas redes sociais da prefeitura, além da totalidade dos óbitos, alguns pontos chamaram atenção: 3 óbitos em 24 horas e 18 em duas semanas. Questionada sobre as eventuais causas desses números, a resposta foi: “A Prefeitura de Itabirito, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, esclarece que o aumento do número de óbitos é consequência direta do aumento do total de casos graves e de internações de pacientes em UTIs”.

Flexibilização e medidas

Em março deste ano, o Governo do estado determinou a criação da Onda Roxa, a mais restritiva adotada até hoje pelo plano Minas Consciente. As medidas permaneceram vigentes até o mês de abril. De lá para cá, as cidades da Região dos Inconfidentes retornaram para a Onda Vermelha. Outras cidades do estado, devido à evolução de seus indicadores, tiveram avanço para a Onda Amarela, sendo que algumas retrocederam para a Onda Vermelha após um pequeno intervalo de tempo. Porém, a microrregião composta por Itabirito, Ouro Preto e Mariana, além de não ter avançado no plano do governo estadual, hoje é considerada um “cenário de atenção”.

A vizinha Ouro Preto se encontra na mesma situação, sendo determinante para as análises dos indicadores, por concentrar os leitos de UTI, adotou decreto municipal restringindo ainda mais as atividades comerciais da cidade, para controle e diminuição dos números de contágio. São estes números que também determinam a possibilidade de avanço para outras ondas no plano do governo estadual.

Questionada se Itabirito poderia adotar o mesmo método, uma vez que a cidade depende de atendimento hospitalar da vizinha Ouro Preto, a PMI informou que “a adoção de medidas mais restritivas do que as impostas pela onda vermelha, por meio de decreto municipal, é possível desde que norteada pelo Governo do Estado, levando em conta que a adesão do município ao Plano Minas Consciente se deu a partir de judicialização”.

É importante ressaltar que todo município pode adotar medidas mais restritivas que as impostas pelo governo do estado, tendo em vista a necessidade a partir dos números de casos e óbitos. Através de decretos municipais, restrições adicionais podem ser introduzidas, desde que não façam concessões inexistentes nas condições estabelecidas no Minas Consciente, como foi feito recentemente em Ouro Preto. Vale lembrar, também, que a imposição da adesão do município ao Plano Minas Consciente se deu efetivamente por medida judicial, mas após vários decretos municipais serem considerados inapropriados para o controle da disseminação do vírus e demostrarem ineficácia.

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Cidades com mineradoras apontam elevação nos números de casos

Em meados de 2020, após as mineradoras realizarem os testes rápidos em seus funcionários, foi notada uma elevação do número de casos nas cidades em que existe essa atividade, como foram os casos, de Itabira, Barão de Cocais, Mariana e Itabirito, em especial. A Agência Primaz questionou a PMI sobre ações de monitoramento nas empresas, notificações ou quaisquer ações realizadas em conjunto. “No tocante às mineradoras que atuam no município, a Prefeitura reafirma que as empresas são obrigadas por lei a informar todos os resultados de teste positivo. A partir de então, são exigidas medidas preventivas como afastamento de positivados, testagem e quarentena de contatos e manutenção de programas preventivos no transporte e no ambiente de trabalho, entre outros”, foi a informação recebida por nossa reportagem.

A Pandemia continua?

Itabirito se encontra na onda vermelha do plano “Minas Consciente”, mas alguns comerciantes parecem desconhecer a informação e, aparentemente, alguns trabalham de acordo com as medidas adotadas para a Onda Amarela, que é mais flexível. Um exemplo disso são bares, que poderiam ter suas atividades presenciais até às 19h. Porém, contrariando as normas vigentes, vários permanecem com seu funcionamento a partir das 17h, encerrando somente as 22h. Além disso, retiradas de produtos no local também são proibidas após as 19h, podendo funcionar apenas no modelo delivery, o que não está sendo cumprido em diversos estabelecimentos.

Esse foi outro ponto dos questionamentos apresentados à PMI, mais especificamente sobre quais ações têm sido realizadas pela fiscalização, de forma educativa, informativa ou punitiva, especialmente nos finais de semana. A resposta foi: “No tocante à prevenção contra a Covid-19, a Prefeitura esclarece que tem realizado campanhas regularmente, além de contar com a atuação de equipes de fiscalização com a finalidade de conscientização para evitar aglomerações”, sem detalhar o tipo de ações adotadas e de campanhas realizadas.

Considerando a vinculação de Itabirito à macrorregião Centro e à microrregião que também engloba Ouro Preto e Mariana, é possível que, com a melhoria dos indicadores dessas cidades, ou mesmo até da macrorregião, de forma global, o município de Itabirito seja beneficiado com a progressão para a Onda Amarela, mesmo com a assustadora retomada de aumento do número de óbitos da cidade nas duas últimas semanas, revertendo a tendência de queda que vinha sendo observada desde a 1ª quinzena de abril.

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