- Mariana
Prefeito Interino e Secretário de Obras são citados em depoimento na CPI
Responsável técnica da Construtora Schiavo revela detalhes das negociações para execução de obras na Rua da Tijuca, no Bairro N. S. Aparecida
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Convocada pela CPI das Obras, após ter protocolado na Câmara Municipal de Mariana um ofício relatando a situação de falta de pagamento da GMP Construções, a engenheira Marli Schiavo Coelho, responsável técnica da Construtora Schiavo, prestou depoimento acompanhada de Yasmin Coelho Ferreira, proprietária da empresa.
Respondendo inicialmente a perguntas do vereador Pedrinho Salete (Cidadania), presidente da CPI, Marli afirmou que já havia prestado serviços à Prefeitura de Mariana, mas como responsável técnica da Construferras, contratada pela Prefeitura de Mariana para a construção da pista de skate e para execução de serviços de drenagem pluvial em ruas do bairro N. S. Aparecida, entre 2019 e 2020. De acordo com Marli, por já ser conhecida da administração municipal, recebeu o convite de Fábio Vieira para voltar a Mariana e executar um serviço emergencial na Rua da Tijuca.
“Quem solicitou foi Sebastião Lamounier, em janeiro de 2021 e o Juliano também, porque ele já me conhecia. Eu fiz uma planilha dos serviços propostos, memória de cálculo… Deram uma questionada, mas acertamos que eu faria meio-fio, sarjetas, passeio, caixas duplas e simples (boca-de-lobo) com instalação de grelhas, e também na Rua Urca. O valor foi de 300 e poucos mil reais. O convite anterior foi do Fábio, que era secretário de obras e pediu pra eu vir, porque era urgente, estava chovendo, e a Rua Tijuca era uma situação mais crítica, com erosão muito forte no local. Depois que o serviço já tinha sido iniciado me falaram que eu faria pela ata do Dorimar [GMP Construções]. Aí começaram os meus problemas”, afirmou.
A depoente relatou que, inicialmente, Dorimar questionou o preço total acertado com a administração municipal, no valor de R$394 mil, incluindo também obras na Rua Urca. Ao final de um mês de trabalho, Marli afirma ter feito a medição e entregue ao fiscal Allen, no valor de aproximadamente R$114 mil, cabendo a ela 75% pela execução dos serviços. “Começamos pela Rua Tijuca, fiz 15 caixas duplas, uma caixa simples, fizemos meio-fio e, no final de um mês, até 26/02, a gente finalizou, na Rua da Tijuca, os seguintes serviços: 357m de meio-fio; 115m de sarjetas; demolição, cortes, remoção; 15 caixas duplas e uma simples; assentamento de grelhas e cantoneiras de ferro, e também uns tubos de 400mm por causa da erosão. Esse serviço, eu medi, a minha parte teria dado R$85,693 mil. […] O boletim de medição deu R$114 mil. Descontando os 25% dele, daria R$85 mil”.
Relatando ter tido muita dificuldade para fazer o acerto com Dorimar, Marli informou que sequer havia assinado contrato e em reunião com a presença dela e de seu filho, além de Sebastião e Alenn, Juliano Duarte teria sugerido um desconto de R$10 mil, sendo acertado o pagamento em duas parcelas de R$37,5 mil. “Dei o desconto para ficar livre do Dorimar, porque ele estava enchendo o saco. Foi pra ver se conseguia receber e pelo menos pagar meus custos, sem ganhar nada”, declarou Marli, acrescentando que depois, pelo Portal da Transparência, ficou sabendo que a GMP teria recebido R$142 mil, e que talvez tenha recebido valor ainda maior, por conta das grelhas e cantoneiras que estariam em um contrato de serralheria.
Em relação a André Belico, atual secretário de obras, Marli afirmou ter se reunido com ele, para tentar resolver a situação do pagamento, e foi informada que o pagamento já havia sido feito à GMP.
Fiscalização e qualidade da obra
Marli Schiavo declarou que, por pressão de Dorimar (GMP), Sebastião Lamounier foi afastado da fiscalização da obra, tendo sido Allen o responsável pela medição. De acordo com a depoente, teria ficado acertado o retorno da empresa à Rua da Tijuca para finalizar as sarjetas e os passeios, mas foi impedida por Dorimar e Allen: “Eu falei com o André que depois que a 3T entrasse com a pavimentação asfáltica, eu voltaria para colocar as sarjetas e os passeios para conter definitivamente a situação da erosão lá. O Dorimar falou comigo que eu não precisava voltar aqui mais. Junto com o Allen, que foi muito claro, dizendo que era pra deixar o Dorimar continuar”.
A responsável técnica da Construtora Schiavo contesta afirmações de que o serviço feito por ela não tenha tido a qualidade adequada. “Não procede a afirmação de má qualidade, usamos meios-fios novos, tenho relatório fotográfico [feito em 26/02, quando finalizou a medição entregue ao engenheiro Allen]. No dia 12 de março estivemos aqui na tentativa de receber dele [Dorimar] e vimos máquinas mexendo lá e estragando tudo. Até trouxe o vídeo pra mostrar. No dia que entreguei, o serviço estava perfeito, até relatei para o André, secretário de obras, e para o Allen, que era o responsável técnico, que estava acompanhando a gente lá”, declarou Marli.
No final do depoimento os integrantes da CPI levantaram a possibilidade de Marli Schiavo voltar para uma eventual acareação, ficou acertado também um possível retorno de Allen, uma vez que há suspeitas de um possível falso testemunho, ao negar que tenha sido fiscal de obras executadas pela GMP. Tendo sido solicitado que a depoente entregasse à comissão os documentos relativos às negociações e medição das obras das ruas Urca e Tijuca.
Por telefone, a Agência Primaz fez contato com Marli Schiavo, a engenheira prometeu encaminhar cópia do ofício protocolado na CPI, bem como o relatório fotográfico da obra realizada na Rua da Tijuca. Entretanto, até o momento da publicação desta reportagem, ainda não havíamos recebido o material.
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Prefeitura de mariana
Ao final do evento de inauguração da torre de telefonia móvel no subdistrito da Barroca, realizada no sábado (26), a Agência Primaz solicitou um posicionamento do prefeito interino a respeito do depoimento de Marli Schiavo. “Eu vejo a CPI como uma CPI política que tenta prejudicar um governo que tá trabalhando muito, então eu prefiro não me manifestar em relação à CPI da Câmara”, declarou Juliano Duarte. Nossa reportagem perguntou se essa posição seria mantida, mesmo tendo havido citação nominal do prefeito interino e do atual secretário de obras, Juliano afirmou: “Podem citar meu nome inúmeras vezes, [mas] eu não vou me manifestar, porque tenho muito compromisso com meu trabalho, e não vou preocupar com uma CPI que quer, simplesmente, prejudicar a imagem do governo”, finalizou Juliano Duarte.
Em relação ao secretário de obras, a Agência Primaz havia encaminhado, no dia 14, via assessoria de comunicação, uma série de pedidos de informação a respeito dos relatórios apresentados à CPI pelo vereador Manoel Douglas, referentes a obras da Construtora Israel, que não foram respondidas. Dois dias depois encaminhamos nova mensagem por e-mail, solicitando a marcação de uma agenda com o secretário de obras, sendo informados que a solicitação havia sido encaminhada ao setor e que a resposta seria encaminhada “assim que possível”, o que ainda não aconteceu.
Na sexta-feira (25), dia seguinte ao depoimento da representante da Construtora Schiavo, encaminhamos nova mensagem, específica sobre as questões levantadas por Marli Schiavo, mas não recebemos retorno até o momento da divulgação desta reportagem.