Como se tornar um tirano
“Há povos que são felizes em não ter mais que um só tirano” (Marquês de Maricá)
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Os tiranos, quer nos meios públicos, quer nos meios privados, não nascem prontos. Estudos recentes demonstram que eles se formam ao longo da linha do tempo, utilizando de vários subterfúgios para enganar seus liderados e alcançar seus objetivos torpes. Uma série recentemente divulgada em um canal de TV pago, através de uma análise sobre o comportamento de diversos ditadores, enumera as principais estratégias utilizadas por eles, desde ascensão à queda, ao longo da linha do tempo. Vale a pena fazer uma breve reflexão sobre esse tema, tendo em vista os tempos turbulentos que estamos vivendo.
A primeira estratégia analisada tem como base o alcance do poder de forma sub-reptícia e é focada em Adolph Hitler, que, aproveitando-se da condição sofrida e insatisfeita do povo alemão na época, traveste-se de messias político e cria uma mentalidade ultra nacionalista, xenofóbica e vigorosa, prometendo o salvamento da pátria. O Holocausto, capitaneado por ele, resultou na morte de mais seis milhões de pessoas.
A segunda estratégia analisada utiliza o princípio de acabar com os rivais ou, mais apropriadamente, com os inimigos. No caso, o exemplo trazido em pauta foi Saddam Hussein que, além de aterrorizar ministros e membros de seu governo para evitar insurreições, ordenou a execução de seus próprios genros. Torturas, confissões falsas e manipulação eram recursos normais utilizados pelo autocrata iraquiano. Grupos de direitos humanos apontam que mais de 250 mil iraquianos foram mortos durante as duas décadas do seu regime, através de expurgos e genocídios.
Idi Amim Dada, ditador que reinou de forma brutal e assustadora em Uganda na década de 70, traz em pauta a terceira estratégia: reine pelo terror! Estima-se que cerca de 300 mil pessoas tenham sido assassinadas por ordens dele. Ele aterrorizou tanto a população, que surgiram rumores de que guardava partes do corpo de suas vítimas para praticar o canibalismo!
A quarta estratégia, manipule a verdade, foi utilizada por Joseph Stalin na Rússia para, maquiavelicamente, se manter no poder. Sob sua cruel batuta, os fatos eram manipulados e veiculados preferencialmente pelo jornal Pravda (que, ironicamente, significa “verdade”, em russo). O regime de Stalin pode ser acusado de causar a morte de cerca de um milhão de pessoas, embora o número causado por “negligência criminosa” e “crueldade” do regime foi consideravelmente maior e, muito provavelmente, exceda as causadas por Hitler.
Crie uma nova sociedade foi a estratégia utilizada por Muammar al-Gadaffi que reinou de forma absolutista por mais de 40 anos na Líbia. Através de uma filosofia ultranacionalista, foi um dos mais sanguinários ditadores do século 20, responsável por diversos crimes contra seu próprio povo e pela morte de centenas de milhares de pessoas.
A quinta e última estratégia, governe para sempre, analisa o caso da dinastia Kim, que teve início em 1948 com Kim Il-Sung e sobrevive até os dias de hoje través de seu neto, Kim Jong, na Irlanda do Norte. Ele e seus descendentes construíram para si a imagem de deuses sobre a terra, com origens míticas, envolvendo o nascimento em montanhas sagradas. O estado opera uma máquina de doutrinação abrangente, que afeta todos desde a infância, para propagar um culto oficial da personalidade para fabricar uma obediência absoluta ao líder supremo (Suryong) de forma eficaz, para a exclusão de qualquer pensamento independente da ideologia oficial e da propaganda do Estado.
Exemplos assustadores como esses devem servir para estarmos bastante atentos aos sinais dos tempos. Os tiranos sempre perseguiram os povos ao longo da história da humanidade. Sábios são os povos que, de forma democrática, consciente, equilibrada e combativa impedem a trajetória ascendente e maquiavélica desses líderes nas suas raízes, antes que atinjam os píncaros do totalitarismo.
Quem tem ouvidos que ouça!
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