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Hoje é sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Ensino presencial retorna em Mariana, nesta segunda-feira

Retomada na rede municipal de ensino será parcial, a partir da próxima quinta (16)

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Autorizada pelo Decreto nº 10.600, de 02 de agosto de 2021, a partir de 1º de setembro, a retomada das atividades presenciais de ensino em Mariana será iniciada nesta segunda-feira (13), apenas nas instituições das redes estadual e particular. O adiamento foi decidido em função da conveniência de completar o ciclo vacinal de professores e servidores dos estabelecimentos educacionais. Na rede municipal, devido ao atraso das reformas, em algumas escolas, e à impossibilidade de adequação ao protocolo em outras, a retomada será parcial, a partir da próxima quinta (16). A Agência Primaz aguarda resposta a questionamentos encaminhados à Secretaria Municipal de Educação a respeito dessas questões.

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De acordo com o decreto, “as instituições de ensino públicas e privadas sediadas no Município de Mariana ficam autorizadas a retomarem em regime híbrido – presencial e não presencial – suas aulas e demais atividades pedagógicas, a partir da data de 1º de setembro de 2021, após a comprovação e aprovação dos requisitos estabelecidos no ‘Protocolo Municipal de Retorno às atividades Presenciais nas Unidades de Ensino’ elaborado pela Comissão Diagnóstica Municipal para preparação do retorno das aulas presenciais no município de Mariana”, determinando que o retorno ocorra “de forma escalonada e gradativa, inclusive em regime de revezamento, para que todos os alunos sejam atendidos com isonomia, devendo as instituições de ensino disponibilizar o ensino híbrido, presencial e a manutenção do ensino remoto em caráter complementar e alternativo”. Adicionalmente, facultou aos pais e responsáveis a autorização ou não dos alunos para o comparecimento às atividades escolares nesse modelo.

Para conhecer detalhes dos preparativos para o retorno às atividades presenciais, a reportagem da Agência Primaz ouviu Simone Campos Lima, Diretora da Escola Estadual Dom Silvério, e a gestora pedagógica do Centro Educacional Arte do Saber (CEAS).

Centro Educacional Arte do Saber

Gestora pedagógica do Centro Educacional Arte do Saber, Cleidiane Bento concedeu entrevista à Agência Primaz por videoconferência - Foto: Reprodução

O CEAS atende alunos da educação infantil e do ensino fundamental em Mariana, contando também com uma unidade voltada para crianças entre quatro meses e dois anos de idade, o berçário (cujas atividades não serão retomadas devido à inviabilidade de se promover uma cultura de protocolos de segurança com uma faixa etária tão pequena). 

Cleidiane Bento, explicou que a escola realizou, em meados de julho, uma pesquisa entre os pais e responsáveis para compreender se haveria interesse pelo retorno presencial. Nessa consulta, além de uma baixa adesão, foram manifestadas ressalvas quanto à segurança sanitária e à vacinação, tanto dos profissionais da instituição quanto do núcleo familiar dos alunos. Com o retorno autorizado pelo município para o mês de setembro, os pais foram informados quanto às condições para a volta às aulas, de modo a garantir a segurança sanitária, e tiveram uma semana para responder a um questionário, resultando em uma adesão de 70%.

A escola se preparou para cumprir com as recomendações do Protocolo Municipal de Retorno às Atividades Presenciais nas Unidades de Ensino, como a obrigatoriedade do uso de máscaras, distanciamento na disposição das carteiras em sala de aula, disponibilização de álcool em gel e educação quanto a cuidados e convivência no ambiente escolar, realizada com os alunos durante a acolhida na quarta e quinta-feira da última semana, com continuidade a partir do retorno, nesta segunda-feira (13). A gestora pedagógica compreende que, pela própria faixa etária atendida pela escola, há um desafio para evitar o contato entre os alunos em momentos de interação, como o recreio. A Arte do Saber já era adepta de uma cultura de separação entre as turmas nesses momentos, o que já reduz a quantidade de alunos nos locais utilizados (parquinho, quadra e pátio frontal). Com os cuidados necessários para o retorno presencial, serão adotadas atividades que permitam o distanciamento, além do uso de brinquedos de fácil higienização, sempre com a supervisão de professores e monitores. Além disso, toda a equipe escolar já recebeu a 2ª dose da vacina contra a Covid-19, o que era uma das ressalvas dos pais, quando consultados.

O pátio frontal é um dos espaços que serão utilizados pelos alunos e alunas do CEAS, respeitadas as disposições relativas ao distanciamento social - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz

A escola irá garantir o acesso de alunos cujos pais optaram por não retornar neste  momento, com a oferta do ensino em modelo híbrido. Cleidiane afirma que haverá uma equidade entre as atividades realizadas presencialmente e aquelas realizadas pelo ensino remoto. Sobre o modelo adotado para as aulas transmitidas virtualmente, ela explica que não é recomendado que crianças passem mais de duas horas em frente às telas, já que entram em jogo questões de concentração e autonomia próprias de sua faixa-etária. Portanto, para garantir uma formação que cumpra com os cinco horários previstos, os alunos farão duas atividades complementares ao dia, em que aqueles no ensino remoto realizam o mesmo que os colegas no ensino presencial, porém com o auxílio de pais ou responsáveis. Desse modo, os alunos em casa podem manter a realização das atividades sem uma exposição excessiva às telas de aparelhos eletrônicos.

O ensino remoto nunca vai substituir o presencial. Têm grandes diferenças sim, mas aí, se o pai, se o responsável está com o aluno, a gente também viu uma diferença gigantesca com as crianças, que realmente houve esse envolvimento da família, que houve essa participação (Cleidiane Bento)

Ainda que haja um esforço para que exista uma garantia na qualidade do ensino, Cleidiane reconhece que existem grandes diferenças entre os modelos presencial e remoto, mas afirma também ter observado a participação das famílias nas atividades escolares das crianças, o que as torna viáveis, ainda que distantes da estrutura física da escola. “O ensino remoto nunca vai substituir o presencial. Têm grandes diferenças sim, mas aí, se o pai, se o responsável está com o aluno, a gente também viu uma diferença gigantesca com as crianças, que realmente houve esse envolvimento da família, que houve essa participação”, afirma Cleidiane.

A experiência da Arte do Saber, diante do ensino remoto, evidencia uma grande diferença entre o ensino público e o ensino privado. Pelo relato de Cleidiane, boa parte dos pais e responsáveis possui disponibilidade para auxiliar alunos em suas atividades remotas. Além disso, não há casos de alunos com dificuldades relativas ao acesso à internet ou a aparelhos eletrônicos. Além de condições favoráveis das famílias, a escola também conta com boa infraestrutura, prezando pela limpeza constante e até com a contratação de um profissional para a sanitização completa das instalações a cada quinze dias. Outro ponto é o investimento em tecnologia, em que, para garantir o acesso virtual eficiente, não apenas houve um reforço no cabeamento de internet, para driblar o sinal oscilante da cidade, como também a escola implantou um sistema de ensino com aplicativo próprio, no qual os pais devem preencher, diariamente, informações sobre a saúde da criança, de modo que, caso ela apresente sintomas compatíveis com a Covid-19, é decidido se está ou não apta para frequentar as aulas presenciais. Todas essas características são indicativas de um perfil distinto daquele de escolas públicas, levando em conta a realidade em investimentos e condições dos próprios núcleos familiares.

Apesar de a faixa-etária atendida pelas escolas não ser representativa dos principais grupos de risco, e ainda que haja restrições de segurança, o risco de contágio permanece, e como indicado no Protocolo Sanitário de Retorno às Atividades Escolares Presenciais, documento produzido pelo Estado de Minas Gerais e pelo SUS, conforme a Sociedade Brasileira de Pediatria, crianças, ainda que assintomáticas, podem perpetuar a circulação do coronavírus, transmitindo-o para outras pessoas, inclusive para seus familiares.

Confira, a seguir, detalhes das instalações do Centro Educacional Arte do Saber (Fotos: Lui Pereira/Agência Primaz):

Ao ser questionada sobre como irá lidar com casos positivos de Covid-19 na escola, caso venham a ocorrer, Cleidiane explica que o procedimento adotado será levar a criança, caso ela apresente sintomas da doença, à uma sala de isolamento, onde os pais ou responsáveis deverão buscá-la e encaminhá-la para algum posto de saúde onde possa ser atendida. Em caso de confirmação do contágio, o turno em que o aluno estuda é interrompido; já em caso de alunos infectados em turnos diferentes, toda a escola será fechada durante 15 dias. No momento, Mariana está na Onda Verde, o quê, de acordo com o quadro de regiões e recomendações do Protocolo Municipal de Retorno, indica que todas as escolas podem ser abertas, com fechamento seguido de reabertura, desde que haja um bom controle da transmissão. É importante ressaltar que apenas com o cumprimento rigoroso dos protocolos será viável realizar esse retorno, sendo necessário um grande comprometimento com os cuidados que, associados ao avanço da vacinação, poderão possibilitar a volta tão aguardada das atividades de ensino tanto na rede pública quanto privada, essenciais para o desenvolvimento dos estudantes.

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Escola Estadual Dom Silvério

Com 55 anos de funcionamento, a E.E. Dom Silvério tem 858 alunos matriculados no 1º, 2º e 3º ano do ensino médio e no 2º e 3º ano do EJA (Educação de Jovens e Adultos). A partir desta segunda-feira (13), aproximadamente 22% desses alunos, vão retornar às atividades escolares presenciais, cumprindo as determinações dos protocolos exigidos pelo município e pelo estado.

A E. E. Dom Silvério foi fundada em 31 de março de 1966 - Foto: Luiz Loureiro/Agência Primaz

Em entrevista concedida à Agência Primaz na última quarta-feira (08), a diretora Simone Campos Lima apresentou detalhes da preparação da instituição para a retomada das atividades presenciais, ressaltando que o pessoal administrativo das 11 escolas estaduais instaladas no município já vem trabalhando nesse sentido desde maio, com o apoio da Superintendência Regional de Ensino de Ouro Preto.

De acordo com Simone Lima, os protocolos (estadual e municipal) são semelhantes e coincidem nas limitações de número de alunos por metro quadrado; da segurança do servidor e do aluno, desde a entrada até a saída, incluindo o momento do intervalo. “A única diferença é que o estado não pediu o cartão de vacinação do servidor. Isso foi uma exigência do protocolo da prefeitura, mas a gente negociou e acertou de colocar não a foto e sim as datas da vacinação no protocolo, porque ficaria difícil reunir isso nesse momento. Foi só essa a diferença. No restante os protocolos são complementares”, declarou Simone, referindo-se à higienização das instalações (sanitários, cozinha, sala de aula); à questão da ventilação das salas; disponibilização de álcool; sinalização para distanciamento em fila e uso de sanitários e bebedouros; à aferição de temperatura; ao uso de EPI’s (máscaras e face shields); e aos materiais de consumo (álcool líquido e em gel, papel toalha) exigidos. Ressaltando que nenhum dos protocolos exigiu a vacinação de alunos, Simone informou que a maioria dos servidores fecha o ciclo vacinal antes do retorno às atividades presenciais. “Acho que a última a tomar a 2ª dose sou eu, exatamente no dia 13. Mas também havia um professor, que não havia tomado a 1ª dose quando preenchemos o formulário. Ele já relatou que tomou, ou seja, só esse professor vai iniciar as atividades presenciais sem a 2ª dose”, declarou a diretora, que incluiu nos documentos a informação individualizada de cada servidor, informando que foram apenas cinco casos de contágio pela Covid-19 no quadro da escola.

A gente fez, inicialmente, uma verificação da metragem, para ver a quantidade de alunos que a gente comportaria em cada turma, porque temos salas classificadas como pequenas, médias e grandes, e a gente vai ter de 8 a 13 alunos por sala”, afirma Simone, esclarecendo que 190 matriculados (número confirmado na última sexta-feira) receberam autorização de seus pais ou responsáveis. Essa autorização foi feita mediante o preenchimento de um questionário,  que permitiu o planejamento das atividades e locação dos alunos nos espaços disponíveis. Simone lembra que, antes da pandemia, as salas tinham capacidade para 32 a 47 alunos e que, até o momento da entrevista, apenas uma sala estava com sua capacidade máxima atingida. “Hoje [quarta-feira (8)], o mapa de ocupação das salas mostra apenas uma [sala] do período da tarde com lotação completa [13 alunos], mas os pais têm até sexta-feira [10] para entregar os questionários respondidos. Se mais alunos dessa turma quiserem retornar, vai ser implantado o ‘sistema de bolha’, ou seja, uma parte da turma tem atividades presenciais durante uma semana e passa a ter atividades remotas na semana seguinte, revezando com o grupo restante de alunos da turma”, ressalta Simone Lima.

O atendimento dos alunos que optarem por não voltar vão continuar sendo atendidos via plataforma virtual. “A grande questão que a gente vem discutindo, desde o primeiro dia, em relação ao ensino híbrido, é sobre a situação dos alunos que já vem participando do PET [Plano de Estudos Tutorado] e que não desejam retornar agora. Atualmente, eles estão tendo aulas toda semana, mas vão passar a ter em semanas alternadas”, declara a diretora. Isso significa que o professor vai passar atividades em uma semana e fazer o acompanhamento na semana seguinte, por também estar exercendo também atividades presenciais. Respeitando a carga horária de trabalho do corpo docente, Simone diz que, “para amenizar essa situação, a escola pediu para o professor não deixar esse aluno sem orientação. Que ele coloque atividades na sala da plataforma e, assim que possível, faça a orientação e o acompanhamento. Isso porque eu não posso dobrar a carga horária do servidor. Mas o aluno em atividade presencial não vai ter nenhuma aula diferente da que teria se estivesse em casa [ensino remoto]”. Desse modo, a diretora enfatiza que a proposta do ensino híbrido é buscar atingir o equilíbrio entre os dois grupos de alunos. “A ideia do ensino híbrido é justamente essa: receber aquele que não consegue acessar [a plataforma] por estar em situação de vulnerabilidade, de não ter conexão com internet, um computador ou celular em casa. E, às vezes, nem consegue acompanhar pelo material impresso disponibilizado. A ideia é trazer justamente esses alunos que estão ‘soltos’ em casa, sem nenhum acompanhamento. A gente vai tentar equilibrar a balança, neste momento em que a gente resgata esse aluno que até então não teve nenhum tipo de acesso. Isso foi muito enfatizado para os pais, no momento da entrega do questionário. Se eu tenho um grupo de 26 alunos retornando, o primeiro grupo a ser atendido é aquele em vulnerabilidade, que não teve acesso à internet”.

Em relação aos EPI’s (equipamentos de proteção individual e materiais de consumo necessários para a retomada, Simone informa que a Caixa Escolar, da qual é presidente, recebeu aportes extras de recursos, permitindo que a escola atenda às exigências dos protocolos. Foi recomendado aos alunos que trouxessem garrafinhas e copos de casa, mas, quem não levar, receberá copos descartáveis adquiridos pela instituição.

Eu confesso que estava um pouco apreensiva ao começar esse acolhimento, mas a receptividade me surpreendeu. Eu vi os professores animados, com um olhar assim de quem tá com vontade de voltar, de quem tá com saudade da escola e do convívio, apesar de não poder ter o abraço ou o aperto de mão (Simone Campos Lima)

Entre os dias 8 e 10, a direção da Dom Silvério promoveu uma série de reuniões de “acolhimento do corpo docente e administrativo”, separado em grupo de sete pessoas, para repasse de informações e acerto dos procedimentos contidos nos protocolos sanitários. “Eu confesso que estava um pouco apreensiva ao começar esse acolhimento, mas a receptividade me surpreendeu. Eu vi os professores animados, com um olhar assim de quem tá com vontade de voltar, de quem tá com saudade da escola e do convívio, apesar de não poder ter o abraço ou o aperto de mão. Eu acho que vai dar certo e acho que os alunos também vão estar animados. Eles estão querendo isso, eles vão colaborar. É claro que tem sempre aquela pontinha de receio, de medo, porque a gente ainda está em pandemia. Mas eu senti também uma vontade muito grande de fazer dar certo”, revela Simone.

Para a operacionalização do plano de retorno às atividades presenciais, vai ser feito um escalonamento da entrada e da saída dos alunos, para possibilitar a aferição de temperatura e outros cuidados, bem como para os intervalos, de modo a evitar aglomerações. Como a escola tem áreas amplas fora das salas e outras instalações, a opção foi pelo lanche no pátio, para não obrigar os alunos a ficarem mais de quatro horas consecutivas dentro das salas, mas com controle do número, rodízio de turmas e marcação para distanciamento social nas filas. O escalonamento da entrada é para evitar que haja aglomeração, mesmo fora da escola e, na segunda-feira, por ser uma situação nova, Simone diz ter um certo receio de que eles não respeitem, mas programa conversas bastante em sala de aula, pedindo que o horário seja respeitado à risca.

Confira, abaixo, imagens das instalações da E. E. Dom Silvério (Fotos: Luiz Loureiro/Agência Primaz):

Ao percorrer as instalações da escola junto com a reportagem da Agência Primaz, Simone informou que a quadra não será utilizada neste momento e, indicando a reforma recente do telhado, revelou sua esperança que, em 2022, as instalações passem por uma ampla reforma, incluindo a construção de novas salas de aula e a ampliação da cozinha e refeitório. Referindo-se a esses espaços, a diretora informou que, para o preparo da merenda, as servidoras vão ter atuação exclusiva na cantina, sem contato externo, utilizando luvas, máscaras, aventais e ‘face shield’. “Elas já foram treinadas pela nutricionista da Superintendência Regional de Ensino em termos de cuidados quanto à higienização, manuseio e preparo dos alimentos, bem como a respeito dos cuidados na limpeza dos pratos, talheres e copos”, finalizou Simone Lima.

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