- Mariana
Derrubada de ipê revolta moradores do Jardim dos Inconfidentes em Mariana
Vizinhança reclama da ausência de áreas verdes no bairro
Compartilhe:
*** Continua depois da publicidade ***
***
Moradores relatam que na segunda-feira(20), já no período da noite, por volta de 19:30, começaram a ouvir sons de machadadas no terreno onde existia a árvore. A partir de então foram várias as tentativas para tentar preservar a árvore. “Nós tentamos ligar na polícia ambiental, tentamos ligar na guarda municipal ambiental, mas chegaram aqui já a noite, a gente ficou sem ter pra quem recorrer, tentamos chamar a polícia, mas eles também não vieram e no desespero o pessoal da vizinhança começou a gritar, tentamos fazer com que eles fossem embora, mas aí chamaram a polícia e eles vieram para dar cobertura para o pessoal cortar”, relata Maria Elisa, uma das vizinhas do ipê.
No último dia 8 foi o primeiro dia que tentaram cortar a árvore, removeram primeiro a mangueira e em seguida a vizinhança conseguiu suspender a remoção do ipê naquele dia. Após o ocorrido, os moradores buscaram o MP para tentar suspender a decisão da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMMADS) que autorizava a remoção. O procedimento não foi instaurado pois o terreno não é área de reserva e pertence ao perímetro urbano (cabe ao poder municipal e conselho municipal tutelar e considerar o clamor/interesse comum).
Fernanda, outra moradora da vizinhança lembra que o bairro, famoso por ter ruas com nomes de plantas, tem poucas áreas verdes e a remoção das árvores para a construção de mais prédios podem deixar o clima ainda mais seco e tirar a luminosidade da vizinhança.
Outro questionamento foi a forma como o ipê foi cortado, o horário que ocorreu e a falta de comunicação prévia, o que afeta tanto a segurança da vizinhança, quanto coloca as suspeitas sobre a ação: “Agiram em prol de uma minoria que tira vantagem às custas de injustiças, e além de ignorar e ridicularizar a opinião pública agem na calada da noite, acham que as sombras acobertam quase tudo”.
Em memória do ipê, um morador anônimo escreveu um poema/obituário em homenagem à árvore que junto com a mangueira traziam frescor, embelezavam, atraíam aves e alegravam a vizinhança que é tomada por prédios:
MORREU na noite de hoje, dia 20 de setembro, por volta das 19:30, um dos mais antigos moradores do bairro Jardim Inconfidentes. Na calada da noite, onde todos os gatos são pardos, onde os olhos não podem ver o acórdão dos injustos e onde a decisão final, nestes termos, parece sempre ser marcada por acordos escusos, morreu nosso Ipê. Ao que tudo indica, tombou frente a ganância. Não fosse assim, porque teria sido assassinado à noite? MORREU nosso IPÊ BRANCO. Tombou, e gritou de uma só vez, quando caiu… mas foi ignorado. Não encanta mais… não embeleza mais… não testemunha mais a grandeza do Criador… apenas, morto, atesta a ganância da criatura. Vão dizer que tinham autorização. Não duvido! O que ainda torna pior a situação!
Ah, como eu queria que este Ipê tivesse alma e assombrasse o sono de quem o fez tombar, com máquinas ou com autorizações executadas na calada da noite. Que não os deixassem dormir! Mas agora ele jaz e nós, atônitos, sem ter mais o que fazer!
Autor (talvez) não identificado!
*** Continua depois da publicidade ***
O motivo alegado para a remoção das árvores é a construção da sede própria da Associação dos Servidores Municipais do Município de Mariana e a autorização para a remoção foi assinada pela secretária interina da SEMMADS, Denise Coelho de Almeida. Em nota, a Prefeitura Municipal de Mariana afirma que: “A autorização para a supressão foi emitida tendo em vista que o local onde a árvore se encontrava inviabilizava a execução da obra para a implantação da sede da associação. A condicionante imposta na emissão da autorização é o plantio de 10 novas mudas de árvores nativas em uma área verde do município”. Além dessas condicionantes, a ASSEMAR deverá plantar duas árvores no espaço externo da construção, logo após a conclusão das obras.
Tentamos contato com a ASSEMAR para questionar sobre o projeto, sobre os motivos que impediam a coexistência do edifício com as árvores e sobre prazos de execução da obra ou quais as árvores que seriam plantadas tanto na área externa à nova sede quanto nas áreas verdes do município, mas até o momento não conseguimos retorno.