- Mariana
Câmara aprova verba para instalação de UTI’s em Mariana
Construção de espaço físico e aquisição de equipamentos para 10 Unidades de Tratamento Intensivo representa investimento de R$4,8 milhões
- Luiz Loureiro
- Colaboração: Kaio Veloso
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Antecedentes
A instalação de leitos de UTI em Mariana vem sendo motivo de debates já há algum tempo. Já em 2014, ao final de seu mandato como Presidente da Câmara Municipal de Mariana, Bruno Mol teve a iniciativa de devolver aos cofres públicos mais de R$2 milhões, provenientes de economia da verba repassada à edilidade. Em entrevista concedida à Agência Primaz, publicada em 29 de outubro de 2019, Bruno comentou o assunto: “Conseguimos economizar ali 2 milhões e 400 mil reais, e queríamos destinar para a construção de uma UTI de 10 leitos em Mariana. Conseguimos economizar o recurso e [também]a autorização do Estado para a construção dessa UTI. Infelizmente, forças ocultas, aliás não tão ocultas assim, não permitiram essa UTI ser construída em Mariana, mas nós conseguimos o nosso objetivo, no final da nossa gestão, inclusive também voltando a Brasília para receber um prêmio lá, da UBB [União de Vereadores do Brasil], por essa iniciativa nossa de implantar ali um modelo de gestão, e conseguir a economia desse recurso”.
Ainda em 2019, na audiência pública para discussão da reforma do Jardim, isso foi colocado como prioritária, em relação à obra proposta, mas a administração municipal alegou que a verba tinha destinação específica. E, inclusive com o apoio Juliano Duarte, à época vereador, foi alegado que a instalação de UTI é prerrogativa do Estado. “Sei que Mariana precisa de UTI, mas quem é da área de saúde sabe que UTI é responsabilidade estadual. Não depende de vereador, não depende de prefeito, não depende da Câmara. Você tem que ter uma autorização do Estado porque é alta complexidade. Tem várias cidades de Minas que têm uma receita altíssima e não têm uma UTI porque o Estado não autoriza. Hoje nós temos uma UTI que atende Ouro Preto, pertence à micro (região) de Mariana e Itabirito”, afirmou o atual prefeito interino.
No ano seguinte, com o aparecimento da pandemia da Covid-19, o assunto voltou a ser mencionado e foram feitas tentativas de sua viabilização. Em abril de 2020, causou acaloradas discussões a notícia da liberação, pelo TRT (Tribunal Regional do Trabalho), de R$2,275 milhões para a instalação de 10 leitos de UTI e 15 de isolamento na Santa Casa de Misericórdia de Ouro Preto. Em despacho judicial de 25 de março, a juíza Graça Maria Borges de Freitas estabeleceu o prazo de seis meses para prestação de contas dos valores transferidos, “deixando ao critério do Ministério Público estabelecer a forma de acompanhamento da aplicação do valor”, justificando “que o atendimento à cidade de Ouro Preto decorreu de ser uma cidade turística, com muita circulação de pessoas de origem estrangeira e indicada como uma das cidades com potencial foco da pandemia no Estado, além de ser a cidade que sedia o Hospital de referência para Itabirito e Mariana”. Acrescenta, ainda, que “a montagem da UTI da Santa Casa e a aquisição dos equipamentos atenderá, portanto, às três cidades da jurisdição”. A decisão foi duramente criticada por Bruno mol, para quem os recursos da multa paga pela Samarco seriam “moralmente nossos [do município de Mariana] porque Mariana foi o epicentro da tragédia”. Danilo Brito, Secretário de Saúde de Mariana, defendeu a decisão da juíza. “Todos os municípios [de Minas Gerais] se organizam através de microrregiões e a nossa micro é Ouro Preto, Mariana e Itabirito”, declarou Danilo, explicando que a UTI de referência desta microrregião fica na Santa Casa de Ouro Preto, entidade que recebe da Prefeitura de Mariana, mensalmente, de R$ 70 mil a R$ 75 mil de diária para custeio dos leitos de UTI utilizados pelo município. “Foi uma decisão muito bem acertada, (…) foi muito bem articulada e [a instalação dos leitos] vai estar pronta nos próximos 20 dias”, afirmou Danilo, lembrando que a implantação de UTI fora do sistema microrregional não recebe ajuda do governo para custeio.
Em 27 de abril de 2020, uma notícia divulgada no site oficial do município, anunciava: Prefeitura de Mariana garante construção de 10 leitos de UTI. De acordo com o texto publicado, o prefeito Duarte Júnior anunciou, três dias antes, em transmissão ao vivo no Facebook, que a quantia de R$6 milhões já estava disponível nos cofres públicos e garantiria a construção de 10 leitos de UTI no município, além da aquisição de quatro ambulâncias tipo UTI móvel, 20 camas hospitalares eletrônicas e 30 manuais, 20 ventiladores pulmonares mecânicos e 10 carros maca para complementar o serviço de saúde pública de Mariana. “Agora poderemos tratar o nosso marianense com mais cuidado e, melhor ainda, dentro do município! Temos o dinheiro, estamos trabalhando no Projeto de Lei e, assim que o enviarmos para a Câmara e for aprovado, a quantia será repassada ao Hospital Monsenhor Horta para que, caso entendam que sim, construam os leitos. Agora, sim, é realidade”, afirmou o prefeito. Na ocasião, a Agência Primaz apurou que a iniciativa de Duarte Júnior não havia sido precedida de uma consulta formal ao Hospital Monsenhor Horta e que a Sociedade São Camilo não teria condições de dar andamento na instalação dos leitos de UTI, uma vez que o Hospital Monsenhor Horta não dispunha de espaço físico para essa finalidade, sendo necessário o planejamento minucioso, o que não seria viável na situação de emergência e sobrecarga de trabalho decorrente da intensificação de casos de internações e óbitos decorrentes do novo coronavírus.
Somente em março deste ano, de acordo com a documentação anexada ao projeto de lei encaminhado à Câmara, foi tomada uma iniciativa de manifestação de intenção da Prefeitura de Mariana, de instalação de 10 leitos de UTI no Hospital Monsenhor Horta. No ofício GAB.SMS-17/2021, encaminhado à Direção Administrativa do HMS, no dia 17 de março, a administração municipal oficializou a intenção, dispondo-se ainda a discutir a questão do custeio.
Esse comunicado gerou um relatório de viabilidade elaborado pela empresa Sotilo & Mulatti Arquitetura (São Paulo/SP), com detalhada análise arquitetônica preliminar da área, da localização, do layout e do custo para a implantação. A partir desse estudo, o documento “Análise da Viabilidade Econômico-financeira para a Implantação de Unidade de Terapia Intensiva – UTI Tipo II”, foi elaborado por Tiago Henrique Alvarenga Lopes, Diretor Administrativo do Hospital Monsenhor Horta, e revisado por Jorge Luiz Alves, Diretor Adjunto da Regional Sudeste da Sociedade Beneficente São Camilo. Nesse documento, encaminhado à Prefeitura de Mariana no dia 13 de outubro (ofício nº 139/2021/ADM, são incorporados os valores levantados para a aquisição de equipamentos, mobiliários e materiais, além dos custos de manutenção, envolvendo também a remuneração da equipe necessária.
O que é uma UTI – Tipo II
A Portaria 3.432 (12/08/1998) do Ministério da Saúde estabelece os critérios de classificação das Unidades de Tratamento Intensivo. Para as do tipo II, o dispositivo legal exige que deve contar com equipe básica composta por um responsável técnico com título de especialista em medicina intensiva ou com habilitação em medicina intensiva pediátrica; um médico diarista com título de especialista em medicina intensiva ou com habilitação em medicina intensiva pediátrica para cada dez leitos ou fração, nos turnos da manhã e da tarde; um médico plantonista exclusivo para até dez pacientes ou fração; um enfermeiro coordenador, exclusivo da unidade, responsável pela área de enfermagem; um enfermeiro, exclusivo da unidade, para cada dez leitos ou fração, por turno de trabalho; um fisioterapeuta para cada dez leitos ou fração no turno da manhã e da tarde; um auxiliar ou técnico de enfermagem para cada dois leitos ou fração, por turno de trabalho; um funcionário exclusivo responsável pelo serviço de limpeza; além de acesso a cirurgião geral(ou pediátrico), torácico, cardiovascular, neurocirurgião e ortopedista.
Também são estabelecidas as exigências referentes à estrutura laboratorial, de equipamentos e mobiliário, bem como de condições das instalações propriamente ditas, em termos de climatização, iluminação e privacidade dos leitos, sendo obrigatório, ainda, garantir a possibilidade de visitas diárias dos familiares, à beira do leito, e de acesso a informações da evolução diária dos pacientes aos familiares, por meio de boletins.
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Tramitação inicial do projeto de lei
Na 38ª reunião ordinária de 2021, antecipada para o dia 12 de novembro, em virtude do feriado de 15 de novembro, foi feita a leitura do projeto de lei nº 183/2021, encaminhado pelo Executivo Municipal três dias antes. Na exposição de motivos, o Prefeito Interino, Juliano Duarte, justifica a iniciativa de repasse de valores e estabelecimento de parceria com a Sociedade Beneficente São Camilo (Hospital Monsenhor Horta), ressaltando que “uma das lições deixadas pelo momento difícil da pandemia é a importância do esforço coletivo em favor da saúde pública”, destacando ainda a participação do Hospital Monsenhor Horta. O documento ainda menciona as ações executadas até o momento na área de saúde e informa a disponibilidade de recursos, obtidos via excesso de arrecadação. No projeto de lei, são estabelecidos os valores máximos de R$ 1.926.300,00 para aquisição de materiais, móveis e equipamentos, e de R$ 2.878.100,19 para obras e instalações, fixando o valor máximo de R$500 mil para o desembolso ainda em 2021, destinados à execução e mobilização inicial das obras e instalações.
Imediatamente após a leitura do projeto, o líder de Governo, vereador Fernando Sampaio (PSB), informou que, juntamente com o vereador Maurício da Saúde (AVANTE), tendo em vista a urgência da tramitação da proposta, tomou a iniciativa de agendar uma reunião para a manhã do dia 16, com a participação de representantes da direção do HMS, da Secretaria Municipal de Saúde e do Conselho Municipal de Saúde, para discutir detalhes do projeto e conseguir agilizar o processo de análise e votação. Manifestando aprovação à iniciativa do colega, o vereador Marcelo Macedo (MDB) sugeriu que tanto O Hospital Monsenhor Horta quanto a Secretaria de Saúde já se mobilizassem para trazer as informações de maneira mais detalhada possível, para que os vereadores pudessem entender “como que vai ser e como que vai funcionar” a parceria, antes mesmo que o projeto seja analisado nas comissões internas da Câmara.
O vereador Ricardo Miranda (Republicanos) solicitou permissão para ser acompanhado pelo médico Rodrigo Miranda na reunião, o que foi acatado pelos vereadores Fernando e Maurício, autores da iniciativa. “É um projeto grandioso, complexo, e é importante ouvir os profissionais da área de saúde. Dr. Rodrigo é um médico da nossa cidade, que sempre vem pontuando em prol de que nós tenhamos uma saúde que atende a todos. E eu sinto honrado em discutir esse projeto [com ele] para que nossos munícipes tenham um tratamento digno e de qualidade. É importante termos a participação de todos e sou a favor da participação do Dr. Rodrigo”, afirmou Maurício da Saúde.
Discussão e 1ª votação do projeto de lei
No dia 22 de novembro foi realizada a 39ª Reunião Ordinária de 2021 da Câmara de Mariana. As comissões internas de Finanças, Legislação e Justiça (Fernando Sampaio, Adimar Cota e Ediraldo Ramos) e de Educação, Saúde, Assistência Social, Esporte, Lazer e Turismo (Maurício da Saúde, Ricardo Miranda e Edson Agostinho Carneiro) encaminharam parecer favorável à tramitação do projeto, considerando que a proposição obedece à Lei de Responsabilidade Fiscal, “traz exposições de motivos oferecendo subsídios suficientes e necessários para a plena aplicabilidade e consequentemente sua aprovação” e que também recebeu parecer favorável da assessoria contábil CENAP, que presta serviços à Casa.
Já no início da fase de discussão, o Líder de Governo, vereador Fernando Sampaio, solicitou à Presidência que fizesse consulta ao plenário, para tramitação em única discussão e votação. Por se tratar de matéria orçamentária e financeira, haveria a necessidade de três votações, mas esse procedimento de votação única é previsto no parágrafo 2º do artigo 175 do Regimento Interno da Câmara, a critério do plenário. O vereador Marcelo Macedo, entretanto, afirmou ter questionamentos quanto à execução do projeto, que considera confusa, apontando a necessidade de conversar com a direção do Hospital, a fim de entender melhor a execução e a sustentabilidade do projeto. “Eu entendo e sei da importância desse projeto, mas é um projeto que tem que passar por três votações por se tratar de matéria orçamentária. E eu conversei com o vereador Fernando sobre esse projeto, porque eu ainda tenho algumas dúvidas, e eu gostaria que o Diretor do Hospital e o Secretário de Saúde, e também o Diretor Clínico e a Diretoria Técnica do Hospital, que a gente pudesse sentar [para conversar], porque eu tenho alguns questionamentos”, argumentou o vereador. Para Marcelo Macedo, a reunião poderia ser realizada na terça (23) ou quarta-feira (24), com a inclusão na pauta da reunião extraordinária já agendada para a quinta-feira (25), sem prejuízo à relevância, importância e necessidade da população. “Não são três dias ou quatro dias que vão atrasar qualquer execução futura deste projeto, até mesmo porque o hospital não tem todos os levantamentos, assim como não tem um projeto executivo”, argumentou. Com isso, Fernando Sampaio retirou seu pedido de única votação, obtendo do Presidente da Câmara, vereador Ronaldo Bento, o compromisso de incluir o projeto na reunião extraordinária.
Solicitando a palavra, o vereador Maurício da Saúde informou que o Diretor Administrativo do HMS e o Secretário Municipal de Saúde, bem como o vereador Marcelo Macedo participaram da reunião conjunta das comissões, ocasião em que o colega havia pontuado a necessidade de ouvir também a direção clínica da instituição, reconhecendo a importância de que a equipe médica seja ouvida.
Também ocorreu a manifestação do vereador Manoel Douglas (PV), declarando sua preocupação quanto ao valor do repasse mensal necessário para operacionalização dos leitos de UTI e ressaltando a necessidade de ser conhecida a demanda por esse serviço por cidadãos marianenses, de modo a quantificar o número de leitos efetivamente necessários, eventualmente menor que 10, de modo a reduzir o custeio mensal. “Sou totalmente favorável à saúde, sou favorável a ter UTI em Mariana, tem necessidade, mas eu ainda não sei se esse levantamento, se é esse número realmente que Mariana precisa, se é menos, se é mais. Minha preocupação é que, além do custo de implantação, de quase R$5 milhões, e mais R$500 mil mensais. Isso independente de qualquer marianense utilizar ou não UTI nesse período, será pago, será repassado o valor de R$500 mil mensais. Então eu queria esse levantamento, porque não tenho a consciência se mariana precisa de mais ou menos [leitos]. Se fosse o caso de mariana precisar de cinco UTI’s, seria uma economia de R$250 mil por mês. E se você considerar que R$250 mil reais por mês, aplicados na atenção primária [à saúde], você evitaria que vários marianenses precisassem de usar essas UTI’s futuramente”, finalizou Manoel Douglas.
Colocada em primeira votação, o Projeto de Lei 183/2021 foi aprovado por unanimidade, ficando as demais rodadas de discussão e votação para a reunião extraordinária.
Votações complementares
Na manhã desta quinta-feira (25), foi realizada a reunião extraordinária deliberada na reunião ordinária anterior (segunda-feira, 22). Após a leitura de outros projetos de lei e pareceres, assim como de suas respectivas votações, foi aberta a discussão complementar do projeto de lei 183/2021, ocorrendo a manifestação inicial do vereador Marcelo Macedo, que fez um breve relato da reunião ocorrida no dia anterior, com a participação da equipe de direção do Hospital Monsenhor Horta, além dos vereadores Ricardo Miranda, Manoel Douglas e Ediraldo Ramos. De acordo com Macedo, a reunião foi proveitosa, tendo sido feitos questionamentos e recebidos os esclarecimentos sobre a execução do projeto. “[Nós pedimos ao Hospital Monsenhor Horta que] encaminhe para esta casa o plano de trabalho, para que a gente possa acompanhar toda a execução desse projeto. É um projeto que vem ao encontro dos anseios da população marianense, que é o sonho de todos, que tenhamos realmente uma UTI. E com isso nós não vamos ter que ficar pedindo a outros municípios para que possam internar os nossos marianenses, os nossos irmãos. E aí a gente sabe da importância, da relevância que é este projeto, e o que ele representa para a cidade de Mariana, e todos sabem o que nós passamos, um período aí de pandemia, onde nós não tínhamos UTI na cidade”, declarou Marcelo Macedo, acrescentando que tanto ele quanto todos os demais integrantes da Câmara vão estar vigilantes, acompanhando a execução a obra. “[Eu] sempre falei aqui que não voto projeto com dúvidas, e ontem pôde ser esclarecido aqui, pelos responsáveis do Hospital Monsenhor Horta, a forma que vai ser executado. Enfim, a gente espera que realmente tenha sustentabilidade essas UTI’s, que realmente a gente possa estar contribuindo aí, na execução, acompanhando e fiscalizando esse aporte, que é um aporte considerável, de 5 milhões de reais”, afirmou o vereador, destacando que o projeto definitivo ainda será elaborado e que é importante o acompanhamento da Comissão de Saúde e de todos os vereadores nesse processo. “A responsabilidade é dessa casa, porque nós vamos votar e vamos autorizar (…) lembrando que os questionamentos realizados na data de ontem estão todos gravados e vão ser todos postados de ata, para que a gente possa realmente acompanhar tudo aquilo que foi dito pelo Tiago [Henrique Alvarenga Alves, Diretor Administrativo], pelo doutor Antônio [José Azzi, Diretor Clínico] e a doutora ‘Beth’ [Elizabeth da Silva, Diretora Técnica], para que possamos realmente termos um documento dessa casa, que é uma ata, que é o registro da reunião, e possamos acompanhar”, finalizou.
Seguiram-se outras manifestações rápidas de vereadores. Ricardo Miranda acrescentou que a reunião do dia anterior também contou com a presença do Secretário de Saúde, Danilo Brito. Manoel Douglas ressaltou que o questionamento feito por ele na reunião ordinária não representava oposição ao projeto, mas apenas um cuidado especial com o rito de tramitação do projeto e esclarecimento de dúvidas. “É importante respeitar isso, porque a gente tem o tempo de tirar as dúvidas, já que a gente não tem o conhecimento técnico como têm a doutora ‘Beth”, o doutor Antônio Azzi e o doutor Tiago. E ali eles puderam tirar todas as nossas dúvidas. Então, desde o início eu fui e sou favorável [ao projeto], e a preocupação foi o susto quando você fala que vai ter um custo fixo [de manutenção das UTI’s]. A gente tinha essa preocupação, mas a gente conseguiu esclarecer e, como na primeira votação, novamente meu voto é favorável”, declarou Manoel Douglas.
Pedrinho Salete (Cidadania) e Maurício da Saúde também fizeram manifestações relacionadas à importância do projeto para a população marianense e a respeito do papel dos vereadores, tendo ocorrido também a participação da vereadora Sônia Azzi (DEM), cuja fala foi prejudicada por problemas técnicos de transmissão.
Encerrando as discussões do projeto, Fernando Sampaio, líder de Governo, também fez uma manifestação a respeito de seu posicionamento anterior em relação ao projeto. “Algumas pessoas quiseram interpretar que eu era contra o CTI. Eu não sou contra o CTI, mas se o município não repassar o dinheiro pro hospital, o hospital não consegue manter o CTI. Então cabe a nós, agora, também fiscalizar o município para que o município nunca deixe de repassar o dinheiro pro hospital. (…) Eu falo assim, a política, ela é feita de 4 em 4 anos, pode ter troca de prefeito. O prefeito hoje teve a hombridade de ver o que o povo quer e fazer o CTI, mas [corte na transmissão] repassar ao hospital”, finalizou Sampaio, provavelmente referindo-se à necessidade de garantir os repasses de manutenção dos leitos de UTI.
Na sequência, colocado em 2ª e 3ª votação, o projeto foi aprovado por unanimidade.
Custo de manutenção dos leitos de UTI
O documento de “Análise da Viabilidade Econômico-financeira para Implantação de Unidade de Terapia Intensiva – UTI Tipo II”, elaborado pela direção do Hospital Monsenhor Horta, é baseado em um levantamento das transferências de pacientes feitas pela instituição para hospitais que dispõem de UTI nos anos de 2020 e 2021, estabelecendo ainda uma estimativa de ocupação dos futuros leitos, tanto por pacientes SUS (Sistema Único de Saúde), quanto por portadores de convênios de saúde. Nesses anos, a média mensal foi de 34 transferências de pacientes SUS e 7 de pacientes com convênio, apurando-se um tempo médio de 11 dias de permanência. Foram 20 transferências mensais para a Santa Casa de Misericórdia de Ouro Preto e 21 para outros hospitais, com predominância para instituições de Belo Horizonte, considerando-se apenas os casos de utilização de UTI Adulto. O documento ainda leva em consideração que a microrregião de saúde (mariana, Ouro Preto e Itabirito), com população estimada de 188 mil habitantes, teria a necessidade de dispor de 30 leitos de UTI, considerando que 80% da população é dependente do SUS e que é recomendável a existência de 2,5 leitos de UTI por grupo de mil residentes. Desse modo, considerando a existência de 10 leitos de UTI existentes em Ouro Preto, o déficit regional é de 20 leitos, sendo que Itabirito também discute a possibilidade de implantação de outros 10.
Com esses números, o custo mensal de manutenção foi calculado pelo HMS a partir de “dados do mercado em relação aos valores praticados em janeiro de 2021 e dados de referência de outros Hospitais geridos pela São Camilo”, como explicado no documento. Partindo dos números médios de transferência e de tempo de permanência, e adotando-se um modelo de ocupação de 8 leitos pelo SUS e 2 por convênios, foi estimada a receita mensal de R$171 mil para convênios (diária de R$2.850,00), com o acréscimo de R$114.892,80 originários das diárias pagas pelo SUS, que paga apenas R$478,72 por dia. Portanto, a capacidade de receita atingiria R$285.892,80 mensais, insuficientes para cobrir as despesas, estimadas em R$653.821,47 a cada 30 dias, relativas a pessoal e materiais.
Resulta, portanto, como estabelecido na análise, em um déficit mensal de praticamente R$367 mil, a ser coberto pelos cofres públicos municipais, de modo a garantir o funcionamento do sistema. Com o agravante que, até que ocorra a habilitação dos leitos pelo Ministério da Saúde, o repasse municipal deverá ser superior a R$500 mil, considerando-se existência apenas da receita estimada para a utilização dos leitos por convênios de saúde no período.
Em contato telefônico com a reportagem da Agência Primaz, Tiago Henrique Alvarenga Alves, Diretor Administrativo do HMS, esclareceu que o tempo de habilitação é extremamente variável, afirmando conhecer casos em que isso se deu com apenas três meses, mas que também ocorreram casos de se chegar a 10 ou 12 meses. Por outro lado, reafirmando uma observação incluída no documento de análise, Tiago Alves ressaltou que “a implantação do serviço justifica-se pela demora na transferência de pacientes graves do Hospital Monsenhor Horta para Hospitais que possuem UTI, bem como, pela possibilidade de ampliação de cirurgias mais complexas, que demandam retaguarda de leitos de UTI, na região de Mariana/MG”.