- Mariana
Defesa Civil de Mariana continua em estado de alerta
Em apenas 10 dias, o índice pluviométrico superou a média histórica de precipitação para janeiro em Mariana
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A média histórica de precipitação em Mariana, para o mês de janeiro, é de 221,4mm, de acordo com a série histórica disponibilizada pelo site Weather Spark. Mas, nos 10 primeiros dias deste mês, de acordo com os dados colhidos pela Coordenadoria de Defesa Civil do município, a precipitação total atingiu 350,4mm, ou seja, 58,3% a mais que a média. Com base nos dados coletados em pluviômetros instalados nos bairros Rosário, São Pedro e Santa Rita de Cássia, a precipitação máxima ocorreu no domingo (09), atingindo média de 88,4mm, com pico de 91,7mm observado no bairro Santa Rita, no mesmo dia.
Welbert Stopa destacou que as ocorrências em Mariana não foram causadas apenas pela alta precipitação em janeiro, mas pelo acúmulo verificado desde o final de outubro. “Isso tudo é decorrência do alto índice pluviométrico de outubro, novembro e dezembro, porque choveu todos os meses acima da média histórica. Todos os meses né? Computados pelos pluviômetros automáticos que a gente tem, desde outubro choveu acima da média histórica”. De acordo com o Coordenador da Defesa Civil, desde o dia primeiro de janeiro a situação vem se agravando, conforme previsão feita pelos meteorologistas, em decorrência do acontecido nos três meses anteriores. “Esses problemas que estão acontecendo agora, são só o reflexo da chuva que caiu outubro, novembro e dezembro. Porque, por exemplo, se não tivesse chovido tanto nesses meses, talvez agora em janeiro a gente conseguisse segurar. Mas devido ao índice lá de trás, não teve tempo de secar, não teve tempo de escoar”.
O pluviômetro é um aparelho meteorológico destinado a medir, em milímetros, a altura da lâmina de água gerada pela chuva que caiu em uma área de 1m2. Assim, o acumulado nos 10 primeiros dias de janeiro, em Mariana, representa um total de 350,4 litros de água de chuva que caiu em cada metro quadrado de terreno do município.
Mainart, Monsenhor Horta, Bandeirantes e Cristais foram, de acordo com Welbert Stopa, os locais mais afetados neste início de ano, e Tenente Freitas apresentou um panorama geral, destacando os pontos historicamente mais vulneráveis “Tem uns locais que já é histórico, né? A gente já sabe que vai chover um pouco a mais, o Ribeirão do Carmo vai sair [do leito]. Aí você tem Bandeirantes e Monsenhor Horta, esses dois distritos [mais propensos a inundações]. E aqui na sede tem alguns pontos onde isso acaba acontecendo”.
Em relação a Mainart, subdistrito de Padre Viegas (Sumidouro), o Secretário de Defesa Social ressaltou a diferença geográfica e os antecedentes do local “Mainart já é outra coisa. É outro rio lá. É o rio Mainart, que depois se transforma no Gualaxo do Sul, e vem de Ouro Preto. Ele passa por Santa Rita, e lá foi o grande problema que nós tivemos, não ‘pra’ nós da Defesa Civil, mas em termos de comunidade. Em Mainart aconteceu um caso diferente, porque eles nunca passaram por isso. Na verdade, passaram por uma enchente em 1979, quase cinquenta anos atrás. Então, de 79 ‘pra’ cá, nunca tiveram um problema como esse, que foi causado pela quantidade de chuva aqui na cabeceira, em Ouro Preto, que chegou a 135mm em um dia”, explicou.
A situação foi agravada pela abertura de uma válvula em uma barragem situada antes de Mainart, o que provocou uma elevação adicional de 90cm do nível das águas no rio. “Essa chuva toda caiu e ela acabou fazendo com que a barragem da CEI [Central Energética Integrada], que é a empresa que produz energia elétrica e vende pra Cemig, chegasse a níveis muito altos. Eles têm lá o que a gente chama de uma válvula que é tipo um ladrão só que na parte baixa e eles abriram essa válvula 100%, causando um status de 90cm, que foi o suficiente ‘pra’ tomar conta do subdistrito de Mainart”, esclareceu Tenente Freitas, acrescentando que a situação causou o isolamento da comunidade, dificultando o acesso do socorro. “Eles ficaram numa situação muito complicada porque eles ficaram ilhados, e nós só conseguimos entrar no outro dia, às dez e meia da manhã, porque você não tinha acesso pelo Sibrão, que é onde a gente poderia passar, por Passagem de Mariana e Vargem. E também porque, na ponte de ligação até Mainart, estava tudo tomado. A gente até pensou em usar um barco, mas era difícil encontrar o piloto e também por questão de segurança ‘pra’ você atravessar à noite. Então, no outro dia de manhã, levamos barco ‘pra’ lá, ‘pra’ ir todo mundo. Quando abaixou e aí chegou em torno 53cm, foi possível entrar dentro do distrito”.
Freitas contou que, na noite de domingo (09), houve um momento que o nível das águas voltou a subir ultrapassando 60cm, existindo ainda o estado de alerta, “Agora é igual um copo d’água, né? Você vai enchendo com a mangueirinha, chega um momento que transborda e depois fica aquele fluxo constante. Vai ter, em certos momentos, elevação do rio, mesmo porque o rio Mainart recebe vários afluentes e a represa da CEI também recebe a contribuição de vários afluentes. Então vai ter momento que o rio vai ter elevação, mas não decorrente da represa, porque a represa já abriu a válvula toda. Tanto é que está baixo lá agora, em torno de 26cm”, acrescentou Welbert Stopa.
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Prejuízos e desabrigados
“O que foi muito pesado, ‘pra’ Mainart, foi a questão sentimental. Homens e mulheres muitos sentidos, porque eles nunca passaram por isso. Então eles ficaram muito assustados com água tomando conta, perderam tudo. Isso, ‘pra’ eles, foi um choque muito grande”, afirmou o Secretário de Defesa Social.
De acordo com Tenente Freitas, 27 pessoas tiveram que deixar suas casas em Mainart, sendo recolhidas a um abrigo improvisado na escola local. “Foram nove famílias, [totalizando] 27 pessoas. As pessoas não ficaram em casa, elas foram ‘pra’ um abrigo que a gente fez na escola, na parte de cima, e também numa igreja. Eles ficaram, à noite na igreja e no salão comunitário, e depois a escola foi transformada num abrigo”. Depois da limpeza, a Defesa Civil vai fazer uma avaliação da estrutura das casas para ver o que precisa ser feito e garantir o retorno às residências, em segurança.
Em relação à sede do município, Tenente Freitas fez questão de ressaltar a importância das obras realizadas anteriormente, em termos da diminuição dos problemas em pontos que, tradicionalmente, havia a ocorrência de inundações. “Inicialmente a gente teve um problema localizado lá na Colina, na parte baixa, e também nas proximidades da Arena e no Catete. Se você pegar o histórico lá da parte baixa da Colina e do bairro Santo Antônio, nós tivemos pequenos probleminhas. Mas são locais que a gente não tem problema há muito tempo, desde 2001, quando deu uma enchente muito pesada aqui em Mariana e esses locais foram muito atingidos. Desde lá a Defesa Civil veio trabalhando o município ‘pra’ que se fizesse os gabiões e algumas outras obras, e isso melhorou sensivelmente. Nós não tivemos mais problemas tanto no bairro Santo Antônio quanto na parte baixa da Colina, mas a quantidade de chuva [dos últimos dias] foi muito grande”, afirmou Freitas.
De acordo com os dados da Defesa Civil, na quarta-feira (12) o município contava com 146 famílias desabrigadas e alojadas em hotéis (na cidade) ou em abrigos provisórios (distritos), além de 12 desalojadas, ou seja, retiradas de suas residências, mas abrigadas em casas de parentes ou amigos. Com isso, a estimativa do total de pessoas diretamente afetadas pelas chuvas, chegava a 635 na ocasião da entrevista.
Ainda na quarta-feira (12), o prefeito interino, Juliano Duarte, anunciou o encaminhamento, à Câmara Municipal, de um projeto de lei solicitando autorização para destinar R$3mil a cada família que sofreu perdas com as chuvas, de modo a “fornecer o básico e essencial para que possam reconstruir e continuar a viver com dignidade”.
Em termos de recuperação das casas e outras intervenções, Tenente Freitas disse que aguarda a finalização das vistorias para que seja traçado o plano de ação, destacando a necessidade de realização de novas obras estruturantes, com a finalidade de reduzir os riscos futuros. “A equipe de engenharia do município está rodando, está fazendo as avaliações, mas em todos esses locais alguma obra de intervenção terá que ser feita. Mas são obras estruturantes mesmo, que têm que ser feitas por exemplo no São Gonçalo, na Perimetral de Bandeirantes, como foi feito na parte de baixo da Colina, como foi feito na Prainha”, declarou.
Welbert Stopa destacou também a conclusão do Plano Municipal de Redução de Riscos, previsto para ser entregue até o final de março. “É um instrumento importante para ação preventiva. O Plano Municipal de Redução de Riscos é o caminho pelo qual vai ser possível identificar todos os problemas da cidade e direcionar as obras”. O Secretário de Defesa Social e o Coordenador da Defesa Civil entendem que, mesmo em uma situação de interinidade da Administração Municipal, a efetiva participação da Guarda Municipal na Defesa Civil garante a continuidade das ações, independentemente do quadro político do município. “Eu acho que uma grande vantagem que a gente acaba tendo, é que a nossa Defesa Civil é composta por guardas municipais de carreira. Então, a resposta que é dada a esse trabalho todo que vocês veem, é porque existe essa coordenação, e é possível por causa dessa experiência, desse know-how. Então esse plano é importantíssimo ‘pra’ mostrar onde que estão esses pontos. Qualquer Prefeito que se coloque lá no Executivo, qualquer um que esteja naquela cadeira não tem outra opção, não é uma questão nem mesmo dele, né? Ele não tem outra opção a não ser vim aqui e conversar com a Defesa Civil, entender, compreender e dar atenção”, finalizou Tenente Freitas.
Estado de alerta
A preocupação de Welbert Stopa, mesmo com o surgimento de uma estiagem, é com a possibilidade de pancadas de chuva típicas de verão. O Coordenador da Defesa Civil avalia que é fundamental a continuidade do acompanhamento das condições climáticas e do comportamento de encostas e nível das águas nos rios. “Com todas as mudanças que nós estamos sofrendo no cenário climático mundial isso tem interferido bruscamente aqui em Mariana. Então nós vamos ter pancadas de chuva. E aí a gente vai ter que estar acompanhando ‘pra’ ver a intensidade. Se serão muito fortes ou moderadas. Pode acontecer de cair 27mm em uma hora, como pode acontecer de cair mais de 200 em quatro horas, como aconteceu em Cachoeira de Brumado no início de dois mil e dezenove. Pode ser que a gente tenha outros cenários de vários dias seguidos de chuva. Então, o estado de atenção e o estado de alerta vai ter que continuar sim, até o final do período chuvoso. E, mesmo havendo essa estiagem, a população deve estar alerta para uma questão de deslizamento, não em função da chuva, mas agora de evaporação. Até que em relação a estiagem possivelmente nós não tenhamos problema de escorregamento. Mas qualquer chuvinha que der, desce. Onde está propício a descer vai descer”, alerta Stopa. E recomenda atenção especial às pessoas situadas em áreas de risco: “A população deve manter a atenção, está sempre monitorando, principalmente os moradores de área de risco, próximo às encostas. Moradores que já foram notificados pela Defesa Civil, que sabe que está inserido numa área de risco, ela tem que estar sempre monitorando se o terreno está movimentando, se está ocorrendo inclinação de árvores, o aparecimento de rachaduras e trincas nas paredes dos imóveis, a dificuldade de abrir uma janela ou uma porta. Enfim, esses pequenos detalhes é que ajudam a salvar a vida lá na frente”, finalizou Welbert.
Previsão do tempo
De acordo com o site CLIMATEMPO, há 90% de probabilidade de pancadas de chuva à tarde e à noite, de segunda (17) a quinta-feira (20), com precipitação variando entre 8 e 10mm. A partir de sexta (21), até domingo (23), a previsão é de sol e aumento de nuvens de manhã, sem chuvas na sexta e sábado e 60% de possibilidade de pancadas leves (3mm) no domingo.