- Mariana e Ouro Preto
Sant’Ana Mestra, obra esculpida por Aleijadinho, volta a ser exibida após restauração
Pertencente à Capela de Sant'Ana da Chapada de Ouro Preto, a imagem vai permanecer no Museu Arquidiocesano de Mariana por questões de segurança e integridade da obra.
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Segundo a gestora cultural da Casa Fiat, Ana Vilela, em entrevista concedida ao portal G1, a imagem de Sant’Ana estava muito danificada. “Ela chegou com um processo de degradação muito grande na pintura a ponto de estar até fisionomicamente deformada. Descobriu-se inclusive uma franja na testa de Sant’Ana que não era possível ser vista por que estava sob várias camadas de tinta”, disse.
De acordo com Fabiana Martins Souza, Museóloga do Museu Arquidiocesano de Arte Sacra em Mariana, antigamente não existia um cuidado tão grande em manter a essência das obras. Nos dias de hoje, os avanços técnicos de restauro auxiliam em descobertas como esta.
“Normalmente essas peças do século dezoito, peças de muitos anos, as pessoas vão fazendo outras intervenções. Hoje em dia a gente tem uma visão mais de preservação, de manter as características e antigamente não tinha. ‘Quebrou? Sujou? Vamos lá, pinta por cima!’ Não se tinha essa dimensão de preservar as características originais da peça”, explica.
Já para a cuidadora da Capela de Sant’Ana, Ana Conceição Guimarães Pereira, também conhecida como Preta da Chapada, a revelação de um novo detalhe na obra foi motivo de surpresa para os moradores de Chapada de Ouro Preto.
“Foi muito legal! ‘Pra’ gente que não entende as questões técnicas, no primeiro momento eu pensei que haviam trocado nossa Santa, mas em conversa com a restauradora, ela me explicou que foi feito um raio X em busca de mais detalhes e então encontraram a franjinha”, conta.
Preta da Chapada ainda conta da felicidade em ver a imagem da comunidade fazendo parte do projeto. “Muito emocionante, pois apenas três imagens foram selecionadas. ‘Pra’ gente foi uma grande conquista!”, afirma.
O projeto da Casa Cultura Fiat permitiu que os visitantes pudessem acompanhar o processo de restauração ao vivo através de um ateliê-vitrine. Assim, o público teve acesso a um tipo de exposição diferente que garantia a visão das obras e do passo a passo dos reparos. Apesar do fim da exposição, ainda é possível navegar em um Tour Virtual disponibilizado no próprio site do centro cultural.
Além disso, no portal existe um catálogo que traz a história de Aleijadinho, sua relação com movimentos artísticos Barroco e Modernismo, diversas fotografias de suas obras e muitos outros detalhes do processo de restauração das 3 obras. O catálogo pode ser acessado através deste link.
Sant’Ana Mestra foi atribuída a Aleijadinho na década de 60
Protetora dos mineradores e expressão dos valores da educação, Sant’Ana Mestra foi mãe de Maria e avó de Cristo. Sua figura é representada através da imagem de uma mulher sentada que tem Maria ao seu lado e um livro aberto acomodado no colo.
A peça sacra de Sant’Ana Mestra foi identificada como obra do Aleijadinho no ano de 1961 durante restauro executado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Além da franja, a museóloga Fabiana Martins conta algumas outras características do estilo do escultor.
“No rosto a gente vê o traço dos olhos, o queixo proveniente, as maçãs do rosto mais volumosas e a franjinha. Normalmente as peças do Aleijadinho tem esse traço do cabelo, o movimento das roupas e das túnicas dos Santos”, aponta. Ela ainda menciona a presença forte destas características em outra obra famosa de Aleijadinho, os Doze Profetas, localizada no adro do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, na cidade de Congonhas.
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Datada da virada do séc. 18 para o séc. 19, a Sant’Ana Mestra pertence à Capela de Sant’Ana da Chapada de Ouro Preto, mas no momento segue sob a guarda no Museu Arquidiocesano por questões de segurança e integridade da obra.
Guardiã da Capela há mais de 20 anos, Preta da Chapada diz que a comunidade está ciente de que, no momento, a capelinha não tem condições para receber a imagem, que está sendo substituída no altar por uma réplica de gesso. “A parte externa recebeu uma pintura há alguns anos, mas já está bem debilitada. Não há condições de trazer de volta [a imagem]”, relata.
Fabiana deixa claro que muitas imagens ficam sob os cuidados do Museu, mas aquelas que são de uso eventual podem ser retiradas em ocasiões especiais, pois elas seguem sendo da comunidade. Tudo é feito com bastante segurança porque muitas das obras são tombadas.
“A comunidade continua tendo a imagem de devoção. Ainda durante as festas a comunidade utiliza as imagens, usam esse material, as lanternas, os crucifixos. É tudo formalizado, quando sai daqui tem a documentação assinada, autorização de tempo que elas podem ficar fora do museu para as festividades”, finaliza.
A imagem de Sant’Ana Mestra pode ser vista no Museu Arquidiocesano de Arte Sacra, localizado na Rua Frei Durão, número 49 com horário de funcionamento de terça a domingo, das 9h às 12h e das 13h às 17h.