Terra sem lei e a dualidade entre ser pacato e ambicioso
Mais um faroeste na Netflix que pode ser um bom entretenimento e mostra o quanto de história (boa) pode ser contada pelo gênero.
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Os faroestes ainda continuam a contar boas histórias, por mais que o gênero tenha sido dado como morto há algumas décadas. Em catálogo na Netflix desde abril, Terra Sem Lei é mais um exemplo de como uma premissa simples pode gerar boas histórias.
Em uma cidade no meio da trilha para a Califórnia, por onde se fazia a corrida pelo ouro, vivia um jovem agente funerário com sua família. A town é bem apegada aos costumes cristãos e, por isso mesmo, a lei vem da igreja.
O clero proíbe na cidade o uso de armas e da bebida alcoólica, o que faz desaparecer um dos cenários mais clássicos desse tipo de filmes: os saloons. Sem esse, digamos, centro de entretenimento no povoado, seus moradores trabalham, vivem na igreja e convivem com suas famílias em plena harmonia.
Algo que faz com que os negócios de Patrick, o coveiro, não sejam dos mais lucrativos. Visando melhorar de vida, ele pretende sair da cidade rumo ao oeste, o que não é muito dos planos de sua esposa, satisfeita com a paz do lugar.
Tudo muda com a chegada de um pistoleiro caçando um outro bandido, escondido na cidade. Vendo que o pacato povoado era regido pela lei da igreja, ele vê a oportunidade de ganhar dinheiro instalando exatamente um saloon na cidade, a contragosto do pastor local.
Patrick vê sua fortuna crescer com o aumento da “demanda” graças aos conflitos de jogos e discussões no saloon, ao mesmo tempo que uma ameaça ronda sua família, sobretudo sua jovem esposa.
Terra Sem Lei não é exatamente o filme que entraria no hall de grandes faroestes, mas é sem dúvida uma obra que dá a profundidade das histórias contadas por ela.
Não é novo que premissas simples ganham complexidades maiores em filmes. E isso não é algo inerente somente ao faroeste.
Outro fato que Terra Sem Lei possui é como sua imersão pelo local consegue levar o telespectador ao clima que o filme propõe, principalmente por conta da luz natural, mesmo que em cenas noturnas quando a única iluminação é de uma tocha incandescente.
Sem falar das boas atuações de Emile Hirsch, no papel do funerário, e do quase irreconhecível John Cusack.
Mas o que sobressai mesmo é o papel da narrativa ao conduzir a mensagem, que fica na dualidade entre o pacato e a simplicidade, justamente numa época em que a perseguição à fortuna era uma espécie de lei, e o lucro e a brutalidade.
E aí que mora o que o faroeste pode ainda ser atual, em mensagens que podem ser contemporâneas, mas contadas numa época bem distante.
Terra Sem Lei está na Netflix!