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Hoje é segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Apoiadores de Bolsonaro e de Lula promovem embate na Câmara de Ouro Preto

Membros da Direita Ouro Preto MG e MTST lotaram a Casa Legislativa e trocaram farpas durante a Tribuna Livre.

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Na imagem, apoiadores de Lula (à esquerda) e eleitores de Bolsonaro (à direita), durante reunião da Câmara Municipal de Ouro Preto - Foto: CMOP
A Câmara Municipal de Ouro Preto foi palco de embate entre grupos de Direita e Esquerda na noite dessa terça-feira (24), durante a Tribuna Livre, na 30ª reunião ordinária. Membros da Direita Ouro Preto MG e do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) encheram a Casa Legislativa e promoveram discussões calorosas e com alto viés ideológico.

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O motivo do embate foi uma discussão entre o vereador Wanderley Kuruzu (PT) e membros do “Patrulha da Água” (movimento que luta pela retirada da Saneouro de Ouro Preto), ao final da 27ª reunião ordinária, ocorrida no dia 12 de maio. Tudo começou quando o membro do poder Legislativo recebeu uma reação negativa de um dos membros do movimento ao citar uma pessoa supostamente bolsonarista.

Os ânimos começaram a ficar exaltados, o vereador chegou a sugerir que o membro da “Patrulha da Água” fosse até o microfone falar, mas isso não chegou a acontecer. Em seguida Kuruzu chamou o cidadão de defensor de fascista, miliciano e bandido, fazendo referência ao presidente Jair Bolsonaro. Dessa forma, a “Direita Ouro Preto MG” pediu direito de resposta na Tribuna Livre da Câmara, que foi concedida e marcada para a noite da última terça-feira.

Dois representantes da “Direita Ouro Preto MG”, Maurita Moreira Rodrigues e Antônio Clésio Ferreira, tiveram 10 minutos cada para darem a resposta. Porém, de forma calorosa, os cidadãos de esquerda fizeram diversas interrupções, manifestando grande descontentamento com o discurso dos bolsonaristas, sendo necessária a intervenção do serviço de segurança da Câmara para conter os ânimos da plateia presente.

Maurita Moreira, filósofa de formação, iniciou sua fala se autointitulando ouro-pretana, bolsonarista, pobre de Direita e uma das “tias do zap”. Ela pediu que Kuruzu a olhasse nos olhos e falou: “O senhor disse que aqui em Ouro Preto tem meia dúzia de bolsonaristas. Eu gostaria de esclarecer que essa meia dúzia à qual o senhor se refere, na verdade, corresponde a 14.664 ouro-pretanos, cerca de 35% do eleitorado brasileiro. É a esse número que o senhor ofendeu gravemente e acusou de fascista, bandido e miliciano. O senhor também disse nas redes sociais que as pessoas que nem lhe conhecem ficam achincalhando. Achincalhados fomos nós, pelo senhor”.

A cidadã questionou as ações políticas de Kuruzu no passado, definindo o vereador como “político de contradição”. Isso porque o vereador, na gestão do ex-prefeito Júlio Pimenta, era oposição radical, segundo ela, até supostamente “ganhar” uma secretaria. Além disso, Maurita citou que, no ano passado, durante a Comissão Parlamentar de Inquérito da Saneouro, o membro do poder Legislativo voltou a ser oposição a Júlio Pimenta, tendo, inclusive, humilhado o ex-representante do poder Executivo de Ouro Preto durante a oitiva.

Na tentativa de desqualificar o vereador, Maurita questionou o perfil de Kuruzu no site da Câmara, onde está escrito que ele tem Ensino Superior Incompleto. Segundo a bolsonarista, Wanderley abandonou a graduação há mais de 20 anos e, por isso, a informação que consta na página da Casa Legislativa se trata de uma fake news. “Se o senhor não tivesse abandonado a graduação, saberia o que é fascismo. Eu vou dar três características do facismo, já que não fugi da graduação e me formei: um regime autoritário, antidemocrático e violento. Fazendo um exercício de pensamento, o senhor acha que na sua fala ao cidadão Antônio, o senhor foi autoritário? O que é ser antidemocrático?”, questionou Maurita.

Por fim, a participante do “Direita Ouro Preto MG” acusou o vereador de tentar impedir que o seu grupo tivesse direito de resposta e pediu respeito ao movimento e às suas posições ideológicas. “Se a cidade de Ouro Preto não tiver lhe agradando, o senhor pode fazer sua mala e ir para a Serra, onde não dá para fazer vídeos sensacionalistas na época das chuvas ou fazer acampamento populacional no mar”, finalizou.

Maurita Moreira em seu discurso na Tribuna Livre da Câmara de Ouro Preto, nessa terça-feira (24) - Foto: CMOP

Antônio Clésio teve a palavra em seguida. Engenheiro Metalúrgico, com pós-graduação em Engenharia Mecânica. Além disso, o coordenador do movimento “Direita Ouro Preto MG”, Clésio é professor na Escola de Minas desde 1980 na área de desenho técnico e projetos mecânicos, tendo sido candidato a prefeito municipal nas eleições municipais de 2020. Nascido em Santa Vitória, é casado com uma ouro-pretana e recebeu o título de cidadão honorário ouro-pretano em dezembro de 2012.

Clésio disse que Bolsonaro é o único candidato à presidência que preenche a ideologia política do “Direita Ouro Preto MG” e que Kuruzu adjetivou o seu grupo “de forma covarde”, chamando-os de fascistas, milicianos, bandidos, armamentistas, criminosos, homofóbicos, desrespeitadores de mulheres e craques em fake news. “Somos de Direita sim, jamais extremistas. Lutamos pela democracia e pela liberdade de todos os brasileiros. O facismo é uma política ultranacionalista e autoritária. As extremidades políticas, tanto de Direita quanto de Esquerda, são abomináveis. Tudo isso não tem nada a ver conosco”, declarou.

O coordenador do “Direita Ouro Preto MG” pediu que o vereador provasse as supostas acusações sobre os direitistas ouro-pretanos. Disse que os integrantes de seu grupo “jogam dentro das quatro linhas da Constituição”, dão valor à liberdade, à família e são contra a ideologia de gênero e autores de roubo. “Kuruzu, onde você nos viu armados? A defesa do porte de armas só vem com responsabilidade jurídica e aprovação psicológica, com o objetivo de defender a Nação, os patrimônios e, principalmente, a família. Você nos acusa de armamentista dizendo para pegarmos as armas e que te espere lá fora, na Praça Tiradentes. Você está propondo um enfrentamento armado, querendo promover uma guerra entre os ouro-pretanos? Que coisa absurda! Se depender de nós, isso jamais acontecerá”, continuou.

Clésio ainda fez uma provocação à Ocupação Chico Rei, dizendo que tem pessoas em Ouro Preto que “ao invés de trabalharem e adquirirem suas propriedades, preferem invadir propriedades alheias”. Também mencionou que pode pedir a cassação do mandato de Kuruzu, que o Partido dos Trabalhadores quer implantar um regime comunista no Brasil, e acusou o vereador do PT de ter conseguido cargos políticos para o seu partido dentro da gestão pública ouro-pretana na luta pela retirada da Saneouro da cidade.

Além disso, Clésio acredita que Kuruzu irá se surpreender com Ouro Preto nas eleições presidenciais deste ano, afirmando que Lula é consagrado ao demônio, e que o pré-candidato petista quer fechar as igrejas. O bolsonarista finalizou valorizando ações do Governo Federal, à liberdade, as cores verde e amarela, e continuou relacionando o PT ao comunismo. “Kuruzu, eu quero dizer para você o tanto que nós somos democráticos, peço que você e o ex-presidiário não parem de falar, só falam coisas que fazem o nosso movimento crescer. Não pare de falar, quanto mais você falar, mais o povo ouro-pretano saberá exatamente quem você é. O nosso grupo, Direita MG, após a sua fala, cresceu 20%. Muito obrigado”, finalizou.

Antônio Clésio em seu discurso na Tribuna Livre da Câmara de Ouro Preto nessa terça-feira (24) - Foto: CMOP

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Resposta de Kuruzu

Quando Kuruzu foi se pronunciar na tribuna, quase todos os representantes de Direita se retiraram da Câmara, o que fez com que o vereador petista os chamasse de covardes. “Os covardes vão fugir? Vocês vão tomar balaiada aqui em Ouro Preto de 90% na próxima eleição. Na passada foi 70%, na próxima será 90%, porque aqui não é lugar para fascista, Ouro Preto é terra da liberdade. Voltem aqui covardes, venham ouvir. Olhem no meu olho conforme eu fiz quando a líder de vocês estava aqui. Vocês vieram aqui usar da democracia que vocês não defendem, porque defendem intervenção militar”, disparou.

Depois disso, Kuruzu chamou o grupo direitista de “craques em fake news” e se mostrou horrorizado com as falas do professor universitário, afirmando saber o que Clésio e sua família “fizeram no verão passado”, chamando-o “sem voto”.

Ainda declarou que os vereadores de Ouro Preto estão há mais de um ano sendo difamados, caluniados e achincalhados por um grupo de WhatsApp frequentado majoritariamente por bolsonaristas. “Está cheio de criminosos naquele grupo e vocês terão que se ver na Justiça. Fascista não suporta o contraditório, nem o debate, ele se impõe na força da arma, ameaçando colocar o exército nas ruas, com pacto com os milicianos. Assim que eles querem ganhar a eleição, armando a sua base eleitoral para amedrontar os eleitores nas urnas em outubro, porque sabem que o Lula não foi inocentado, ele é inocente. Ele foi julgado por um juiz parcial e voltou ao seu estado de inocência, ele não foi inocentado não. Vocês deveriam pedir desculpas ao povo pobre, porque vocês trouxeram a miséria, a fome e o desemprego de volta”, rebateu Kuruzu.
O vereador, em seguida, apresentou um áudio de um dos membros do Direita Ouro Preto MG, com falas homofóbicas contra o prefeito Angelo Oswaldo e seu servidor de gabinete, Marcelo Rocha.

O crime de homofobia é inafiançável. Esse é apenas um dos muitos áudios colecionados de criminosos que frequentam esse grupo de WhatsApp. São muitos”, afirmou Kuruzu. O vereador petista manifestou o seu desejo de debater com Clésio em uma eventual reeleição na Câmara, com o professor também eleito na Casa Legislativa para que, assim, ele não fuja do debate.

Quanto à sua vida pública, Kuruzu declarou que deve satisfação e agradecimentos ao povo de Ouro Preto que o conduziu à Câmara por três vezes. Sobre seu tempo trabalhando em uma secretaria, durante o governo de Júlio Pimenta, o vereador rebateu as falas dos oponentes políticos, dizendo que foi fruto de reconhecimento de sua qualidade, enquanto Clésio ficou poucos meses exercendo um cargo público durante o mesmo mandato. “Se o professor Clésio durou poucos meses no cargo do Júlio Pimenta, um dos motivos é porque ele quis que os garis de Ouro Preto fossem vestidos, nas palavras dele, com roupas melhores, no dia que o Júlio Pimenta ia lá visitar o departamento de limpeza da prefeitura. Isso tem nome: fascismo! Clésio fascista!”, finalizou.

Confira a discussão completa, com a participação da plateia presente, na íntegra, clicando aqui (de 10:48 a 01:40:20).

Comentários e esclarecimentos

Wanderley Kuruzu em seu discurso de resposta aos bolsonaristas - Foto: CMOP

Ao final da Tribuna Livre, Kuruzu falou à Agência Primaz sobre o episódio que gerou todo o embate nessa terça-feira. Ao contrário do que acusou Maurita, Wanderley vê seu comportamento como “mais democrata possível” na discussão do dia 12. Para o vereador, aquilo foi um estopim, depois de várias interrupções e provocações, em reuniões anteriores, vindas da “Patrulha da Água”. “Eles frequentam as reuniões da Câmara e, por diversas vezes, interrompem as falas dos vereadores, se manifestam e não vejo problema nisso. Agora, eles quererem se manifestar e o vereador não poder responder, já é demais. Está fácil do povo julgar quem é democrata e quem é autoritário. Eu ofereci a eles a palavra, se o presidente deixasse, mas eu começava a falar e eles começavam a falar junto comigo, dificultando a fluidez da minha fala. Eu fui o mais democrata possível. A partir do momento que aquilo me irritou, eu me exaltei, mas não acho que foi acima do tom, é só ver quantas vezes eles vêm e vaiam os vereadores”, explicou.

Kuruzu afirmou que todo debate é bom, ainda que seja acalorado e que gere algum desconforto. No entanto, ao contrário do que se viu no ano passado, o vereador não vê mais a junção dos movimentos de Direita, que pedem a saída da Saneouro de Ouro Preto, e a Ocupação Chico Rei, em prol da retomada do serviço municipal de saneamento. Na pauta ‘Fora Saneouro’, nós podemos marchar em fileiras diferentes e golpear o mesmo inimigo. Não há mais clima para marcharmos juntos. Embora seja uma contradição deles, já que o marco regulatório do saneamento básico, que é altamente privatizante, foi aprovado pela bancada do Bolsonaro no Congresso Nacional”, declarou.

Finalizando, o vereador petista rebateu a acusação de fake news relativa ao grau de escolaridade que é informado em seu perfil, no site da Câmara de Ouro Preto: “Passei em três vestibulares e não concluí os cursos. Passei no vestibular para Geologia, História e Filosofia, em épocas diferentes, mas não concluí os cursos. Fui eleito vereador e me dediquei àquilo que mais gosto, que é a política”.

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