- Ouro Preto
Ritual indígena, “Caminhos de Pachamama”, é realizado na abertura do CineOP
A 17ª Mostra de Cinema de Ouro Preto inicia sua programação celebrando a produção audiovisual indígena
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Com o uso de ervas, o ritual é uma entrega de respeito e honra à Mãe Terra e aos ancestrais. Jogadas ao fogo, essas ervas foram espalhadas pela Praça Tiradentes e utilizadas como uma espécie de benção nos presentes, enquanto eram entoadas músicas tradicionais dos povos indígenas do Nordeste, o Awê e o Toante.
Avelin Buniacá Kambiwá, indígena e integrante do CMACI, aproveitou o momento para chamar a atenção para uma questão importante que reflete nos povos originários. “O que a gente veio trazer aqui não é uma performance, não é uma cena de teatro, é a junção de várias etnias indígenas desterritorializadas, resultado de um processo que só vai piorar com o Marco Temporal, resultado de um processo de desapropriação de nossas terras, de esbulho e a gente foi parar em contexto urbano”.
A cerimônia multiétnica, realizada na abertura, foi formada por povos indígenas distintos, reunidos pelo Comitê Mineiro de Apoio à Causa Indígena (CMACI). “Na solidão de ser indígenas sem floresta, sem território, a gente se une a outros povos e esse é o resultado. Vários povos que lutam pela Mãe Terra, que lutam pela nossa dignidade. O terreiro, a gente traz no nosso peito”, completou Avelin.
Os presentes, ao final, também tiveram a oportunidade de fazer oferenda com ervas e, assim, um pedido à Mãe Terra. O momento ainda contou com uma pequena apresentação de Brisa Flow, artista ameríndia, componente da programação de shows do CineOP. Na sequência, os homenageados desta edição, a dupla de cineastas Kuaray Poty (Ariel Ortega) e Pará Yxapy (Patrícia Ferreira), da etnia Mbya-Guarani, foram acolhidos por aplausos. Com o Troféu Vila Rica em mãos, Kuaray Poty e Pará Yxapy são celebrados pelos seus projetos no cinema indígena brasileiro.
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Homenageados
Kuaray Poty (Ariel Ortega) já está há 15 anos se dedicando ao cinema, buscando trazer, através do audiovisual, os registros das memórias e tradições dos povos indígenas. “O cinema permitiu muito a nós, povos originários, a contar nossa história, a recontar nossa história, porque ficamos invisibilizados durante muito tempo. Nossos antepassados não tinham oportunidade, como a gente tem hoje em dia, de conversar com vocês não-indígenas, de dialogar, de mostrar o nosso trabalho, de mostrar nossa cosmovisão”, declarou Poty durante a entrega do Prêmio.
Pará Yxapy (Patrícia Ferreira) também comentou sobre luta e reconhecimento. A cineasta manifesta a visão e o papel da mulher indígena, tanto nos seus trabalhos como na própria produção audiovisual. “Esse trabalho que a gente vem fazendo todo esse tempo, esse reconhecimento que a gente ‘tá’ recebendo, que a gente ‘tá’ ocupando esse espaço, que os nossos avós, nossas mães não conseguiram ocupar. Agora a gente tem esse espaço, esse momento ‘pra’ fazer esse diálogo com vocês, acho que isso deveria ter sido normal, mas hoje a gente ‘tá’ conseguindo esse espaço através de muita luta, através de muito trabalho”, afirmou.
Após 2 anos com o evento online, o CineOP retorna em formato online trazendo a celebração do cinema e produção audiovisual indígena. Como temática principal “Preservar, transformar, persistir”, o evento foi dividido em três eixos: Preservação, História e Educação. Uma grande tela, durante a abertura, exibiu os filmes de Poty e Yxapy, “Bicicletas de Nhanderu” (2011) e “Nossos Espíritos Seguem Chegando – Nhe’e Kuery Jogueru Teri” (2021), este último realizado durante a pandemia, quando Yxapy estava grávida.