- Mariana
Falta de divulgação leva à baixa adesão em oficina do Festival de Inverno de Mariana, no bairro Cabanas
Voltada à arte da palhaçaria, a atividade só recebeu crianças no segundo dia previsto, após ação da diretora que se encarregou de convidar os alunos da Escola Dom Oscar
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Elisângela Vicentini, diretora da Escola Municipal Dom Oscar de Oliveira desde 2020, informou que a Prefeitura Municipal e a organização do Festival não encaminharam nenhum tipo de orientação quanto ao modo de divulgação da oficina, ou esclarecimento quanto ao papel da escola no evento. Elisângela explicou que recebeu uma ligação de um representante da Secretaria de Patrimônio Histórico, Cultura, Turismo e Lazer no início da tarde de 29 de junho, explicando a proposta de realizar uma oficina de palhaçaria no espaço da escola. A proposta foi bem recebida, pois representaria uma atividade para ocupar o tempo ocioso das crianças no período de recesso escolar e, no final da tarde do mesmo dia, a programação foi divulgada pela Prefeitura de Mariana.
Em meio a uma semana de provas e encerramento de bimestre, e tendo em consideração a movimentação política recente – com a troca de prefeito no município -, houve pouco tempo de preparação para o evento, especialmente para pensar em formas de convidar as crianças, tanto as que já frequentam o espaço quanto as demais moradoras da região, para participarem da atividade.
Com o ofício que a escola recebeu em mãos, Elisângela mostra que, apesar de constarem as descrições do festival e da oficina, não há maiores explicações sobre ações que caberiam à escola. Nas redes sociais oficiais da Prefeitura, a atração é anunciada apenas nas artes gráficas com uma programação extensa, sem uma especificação ou destaque para cada atividade em si, e sem mecanismos de apelo para o público ao qual se destina, formado por crianças entre 07 e 14 anos.
A Prefeitura de Mariana se restringiu à publicação da programação, extensa, e sem orientações para os envolvidos com a realização das oficinas e do local onde estas são realizadas. Mas, nas redes sociais da Cia. Lamparina, foram divulgadas artes criadas pela própria equipe da companhia, uma delas a partir daquela produzida para o Festival. Como esclarecido por Yago Rufato, antes da contratação da companhia, houve o envio de materiais, como fotos e textos, que serviriam para as descrições e divulgação das atividades previstas – as oficinas e o espetáculo apresentado nesse sábado (09), mas não houve orientação específica quanto à divulgação prévia à realização.
A respeito da comunicação com a escola, Yago explica que se trata de uma responsabilidade do Festival, cabendo à Lamparina verificar as condições materiais. “A gente vai na escola, vê qual é a sala que vai ser usada, se tem energia, caixa de som. Coisas básicas, ligadas à execução da oficina, e não à divulgação”, esclarece.
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Trocando mensagens
A diretora, através de uma conta profissional no aplicativo Whatsapp, mantém uma série de grupos, correspondentes a cada turma da escola, que atende o ensino fundamental II, entre o 6º e o 9º anos. Foi com este recurso que disparou, na tarde de segunda-feira (11), as mensagens reproduzidas, quando percebeu que nenhuma criança havia comparecido.
Elisângela conta que, ao enviar a primeira mensagem, muitos alunos perguntaram se precisavam levar mochila e utilizar os uniformes. Não haviam compreendido que se tratava de uma atividade externa, integrante da programação do Festival de Inverno. Assim, a diretora esclareceu, em seguida, que estavam apenas cedendo o espaço da escola para a oficina, aberta ao público externo.
Apesar do ocorrido, Elisângela valoriza o evento e conta que vê nele uma oportunidade para proporcionar uma nova experiência aos estudantes, somando-se a outras atividades programadas para este ano, como um projeto de esportes proposto pela instituição Ajudôu. “Tudo o que possa agregar algum conhecimento, ou lazer, alguma coisa diferente para os meus alunos, eu estou sempre aberta”, declara a diretora. E ressalta a importância de eventos do tipo serem realizados no bairro Cabanas, o mais populoso de Mariana e, portanto, representativo de um grande público. “Muitos pais têm medo de deixar uma criança de 11 anos se deslocar sozinha para o Centro, sendo que às vezes eles estão trabalhando. Sendo aqui na escola, no próprio bairro, um ambiente que a mãe já conhece, em que o filho já conhece o percurso da casa para a escola, eles se sentem mais seguros para autorizá-lo a participar. [Da mesma forma] acho que quem é do Centro, da Colina, Vila Maquiné, Rosário, não vai se deslocar para cá”.
Segundo Bruno Regenthal, também integrante da Cia. Lamparina, se a oficina não tivesse sido realizada na terça-feira (12), a alternativa seria a transferência para o Centro de Referência à Criança e ao Adolescente (Cria), onde a companhia já havia realizado oficinas de audiovisual, na semana anterior. Entretanto, após a mobilização promovida pela diretora, a oficina de palhaçaria foi iniciada na terça-feira (12), mas com a participação de apenas sete crianças (foram 40 vagas anunciadas).
Palhaçaria
Responsável pela oficina, Yago Rufato contextualiza o trabalho com palhaçaria, onde são trabalhadas habilidades específicas, como a expressão corporal e vocal, voltada para uma linguagem caricata, havendo também destaque para as habilidades de improvisação. Assim como no teatro, há o desenvolvimento de habilidades físicas que ajudam a perceber o próprio corpo. Para Yago, trata-se de uma forma de se reconhecer enquanto ser humano. “O palhaço aproxima o ser humano de si mesmo, através de suas falhas, seus erros, seus defeitos, e das suas virtudes, que partem geralmente de sentimentos e condições que buscam despertar a empatia e a compaixão com o próximo”.
Em sequência às atividades da Cia. Lamparina com o Festival de Inverno Mariana – 326 anos, mais uma vez, a atividade foi pensada especificamente para o público infantil. “No trabalho com o público infantil, a gente tenta potencializar e fazer eles reconhecerem essa qualidade que eles já têm, para que eles tenham domínio sobre ela e saibam usá-la em uma linguagem cênica. O palhaço não é só uma máscara ou fazer uma piada, ele também desenvolve várias habilidades, como atividades de malabarismos, acrobacias, e até a mímica, que são atividades que trabalham a nossa coordenação psicomotora e a nossa capacidade cognitiva”, explica o oficineiro. Yago acrescenta que, mesmo ao trabalhar com o público adulto, há um retorno para uma percepção de mundo marcada pela experiência e pelo ponto de vista infantil, o “ser brincante” que existe dentro de cada um.
Na terça-feira (12), a atividade teve foco na percepção corporal, e aos poucos, os elementos típicos da figura do palhaço foram introduzidos, como os narizes e a utilização de figurinos. As oficinas de palhaçaria seguem até sexta-feira (15), das 14h às 17h.
Nota da Redação
A Agência Primaz solicitou esclarecimentos da Prefeitura de Mariana em relação ao planejamento para divulgação da oficina, como a produção de material apropriado; posicionamento quanto a ausência de explicações à Escola Municipal Dom Oscar de Oliveira quanto ao modo de divulgar as oficinas, e sobre as instruções passadas às demais unidades onde outras oficinas seriam realizadas. Não houve resposta até o fechamento desta matéria.