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Hoje é sábado, 23 de novembro de 2024

Danilo Brito: “Acredito em uma contaminação que não chegue a ser uma pandemia, mas cujos números vão subir”

Secretário de Saúde de Mariana fala sobre o caso confirmado de varíola dos macacos no município, comenta a situação atual da pandemia de Covid-19 e explica sobre a recente falta de remédios

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Danilo Brito em seu gabinete na Secretaria de Saúde - Foto: Kaio Veloso/Agência Primaz

No cargo de Secretário de Saúde de Mariana desde 2016, Danilo Brito explica detalhes sobre a varíola dos macacos. A doença é causada pelo vírus Monkeypox, e teve seu primeiro caso confirmado em Mariana na quinta-feira (14). O infectado é um homem, assim como os demais casos já confirmados no estado. Para evitar o contágio, é preciso manter as recomendações já conhecidas e utilizadas ao longo da pandemia de Covid-19. Além de manter a higienização das mãos, inclusive o uso de álcool em gel, indicados por Danilo como hábitos a serem internalizados no cotidiano, é importante retomar o uso de máscaras, sobretudo em locais fechados e no transporte público, que teve um aumento de fluxo em Mariana com o Tarifa Zero. Danilo comenta a situação atual da implantação de UTI’s na cidade, fala sobre a falta de medicamentos que ocorreu na cidade recentemente, dá nota à atuação do setor no enfrentamento à pandemia e deixa recomendações à população marianense a respeito da necessidade de manutenção de hábitos de higiene e de utilização de máscara em locais fechados.

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Confira no link a íntegra da entrevista concedida aos jornalistas Luiz Loureiro e Kaio Veloso, da Agência Primaz, na véspera da data comemorativa dos 326 anos de Mariana, ou leia os principais trechos apresentados a seguir.

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Varíola dos macacos

Até o momento, há 24 casos confirmados de pessoas infectadas pela Monkeypox no estado de Minas Gerais. Em Mariana, o paciente infectado havia se deslocado para o Rio de Janeiro, onde através de um diagnóstico, teve início o seu acompanhamento. Após coleta de material, foi feito um teste, cujo resultado positivo para a varíola foi confirmado pela Fundação Ezequiel Dias (FUNED). Segundo Danilo, o paciente está em boas condições clínicas, e possivelmente já recuperado, tendo em vista o período de incubação e duração da infecção. Não há outros casos suspeitos na cidade. Foi criado um comitê interno, formado por Sueli Brito, coordenadora do setor de epidemiologia, e Ludmila Gomes, subsecretária de vigilância e proteção à saúde, a fim de realizar o acompanhamento junto ao estado de Minas Gerais, mantendo três reuniões semanais.

Dentre os sintomas característicos da varíola dos macacos (que se assemelham em grande parte aos da gripe) destaca-se o surgimento de feridas na pele, que começam no rosto e se espalham para o restante do corpo. Danilo adverte para a atenção a outros sintomas, que podem surgir antes das feridas e indicar o contágio – como febre e surgimento de íngua (inchaço do gânglio linfático). Não há um tratamento ou medicamento específico para a doença, havendo necessidade de acompanhamento e tratamento com o objetivo de aliviar os sintomas.

Sobre o acompanhamento do caso em Mariana, o secretário explica que a situação está sendo tratada junto ao Estado, que possui mecanismos para notificação e acompanhamento. Ele destaca que, mesmo com o aparecimento de características visíveis, é preciso que cada caso seja levado a teste: “Por mais que ele tenha [sintomas visíveis], só fecha o diagnóstico via coleta, que é enviado para a FUNED, e aí sai o resultado positivo. Mesmo que tenha todas as características, a gente trata sempre como possível caso e, após a confirmação, a gente tem esse compromisso de fazer toda a notificação juntamente com a vigilância”.

Um ponto que chama a atenção é o fato que todos os casos confirmados até o momento, em Minas Gerais, ocorreram em pessoas do sexo masculino. Apesar do dado, não há ainda uma explicação para tal característica, como explica Danilo: Nós somos referenciados pela vigilância do Estado. Então é um questionamento que realmente já está sendo feito. Por quê [só] do sexo masculino? A gente, assim como o Ministério da Saúde, vai evoluindo dentro das notas técnicas. [Por enquanto] não tem nada específico sobre porque ser do sexo masculino. Pode ser que seja uma coincidência, ou pode ser que já saia um estudo apontando nesse sentido”.

Outro ponto importante é relativo aos cuidados para se evitar a transmissão, pois estes são praticamente os mesmos já utilizados para o enfrentamento à Covid-19: distanciamento social, uso de máscaras e higienização constante das mãos com água e sabão ou álcool em gel. No caso da Covid-19, cuidados relacionados ao manuseio de superfícies, a princípio motivo de preocupação, mostraram-se pouco relevantes posteriormente, dada a natureza de transmissão do vírus, majoritariamente por partículas expelidas ao falar, tossir ou espirrar. Já com a varíola, cuja transmissão também ocorre por vias áreas, é preciso manter cuidados com superfícies contaminadas, como objetos e roupas de pessoas infectadas. O contato com os ferimentos também representa forte exposição à doença e, como orienta Danilo, a melhor forma de evitar que a varíola do macaco se espalhe, ocasionando novos casos, é procurar uma unidade de saúde o quanto antes, logo ao perceber qualquer sintoma, para que sejam seguidos os cuidados necessários.

Em Belo Horizonte, que apresenta mais de 20 casos confirmados, já se fala em transmissão comunitária, ou seja, há casos de pessoas que contraíram a doença sem se deslocarem para uma localidade onde ela é endêmica. Apesar desse fato, Danilo afirma que dificilmente trata-se do caso de uma nova pandemia. É possível que o uso de máscaras, cuja obrigatoriedade hoje se restringe aos ônibus e espaços de saúde, seja reforçado em notas do Estado e da Secretaria de Saúde, visto que esse uso é essencial para o combate à disseminação da varíola, e evitar a situação que já ocorre em Belo Horizonte. “Eu acredito em uma contaminação que pode ser que não chegue a ser uma pandemia, mas cujos números vão subir, sim. Disso eu não tenho dúvidas”, afirma o secretário.

Covid-19

Apesar de o último Boletim Epidemiológico de Mariana ter sido publicado em março deste ano, a perspectiva quanto à pandemia não é tão positiva quanto muitos talvez pensem. Danilo declara que já é percebido um aumento nas taxas de contaminação no município, e cita a realização de um show da banda Skank, em Ouro Preto, como um ponto relevante, sendo observado, logo após o evento, uma explosão de novos casos. Agora, Mariana passa pela realização do Festival de Inverno, e apesar de valorizar sua realização, o secretário chama a atenção para atitudes de descuido, inclusive quanto ao ciclo vacinal: “É preciso ter essa conscientização. Está tudo liberado? ‘Tá’, mas é preciso tomar a quarta dose”.

Danilo alerta que há muitos indivíduos que não tomaram a terceira dose, o que traz instabilidade para um panorama de imunização que já inicia o uso da quarta para alguns públicos, como os profissionais de saúde. Alguns indivíduos deixam de tomar as vacinas devido às reações, ou por acreditarem, erroneamente, no fim da situação de risco, mas o secretário destaca a importância em se completar a vacinação. “O SUS já está tratando a Covid como uma contaminação como a gripe, mas nós não estamos com um processo de bloqueio resolvido ainda. Porque alguns casos que estão testando positivo, que vieram a óbito, quando você vai verificar, são pessoas que realmente nem tomaram a vacina, ou são pessoas que tomaram e tem comorbidade, uma idade avançada”, complementa.

Apesar da mortalidade hoje ser predominante nestes casos, mantém-se a importância da imunização de crianças e adolescentes. Danilo informa que a adesão foi alta para a primeira dose, mas que foi preciso ampliar a divulgação da campanha vacinal para que a adesão fosse mantida na segunda aplicação.    

Foi criado, há cerca de um ano e meio, um espaço voltado para a pós-covid em Mariana, que funciona no Centro de Especialidades Previne. O trabalho, que exige atenção e diversos cuidados em diferentes frentes, tem predominância da necessidade de fisioterapia, para reabilitação respiratória. Danilo observa também um grande número de encaminhamentos para a oftalmologia, pois muitas pessoas com visão saudável até contraírem a Covid-19, passaram a apresentar sequelas. Dentre o público feminino, muitos relatos de queda de cabelo, além de baixas em vitaminas. Para o secretário, hoje é possível dizer que as sequelas do pós-covid se mostram mais graves que a própria infecção pelo vírus, o que torna necessário o trabalho com a realização de exames e a administração de medicamentos específicos para cada caso.

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Convênio com Hospital e UTIs

Durante o auge da pandemia, houve a necessidade de elevação da disponibilização de leitos de UTI. Referência para a microrregião formada por Ouro Preto, Mariana e Itabirito, o Hospital Santa Casa de Ouro Preto servia como unidade de referência para as demais, até que em novembro de 2021, foi aprovada pela Câmara de Mariana um projeto para a construção de um espaço físico e a aquisição de equipamentos para 10 unidades de tratamento intensivo,  em parceria com a Sociedade Beneficente São Camilo, gestora do Hospital Monsenhor Horta.

Com o avanço da vacinação, houve uma redução na quantidade de internações por Covid-19, porém, consequências da pós-covid são possíveis causas de entradas de pacientes em estado agravado.

Danilo explica que a Policlínica Municipal se mantém como porta de entrada à urgência na cidade, além de continuar em vigor o contrato de 10 leitos de UCI no Hospital Monsenhor Horta, sendo três exclusivos para casos de Covid-19, enquanto os demais atendem outros casos, muitos dos quais podem ser atribuídos a efeitos do pós-covid: “Mariana hoje tem muito AVC, infarto. Se você fizer a comparação com janeiro, lá no início [de 2021] ou pegar qualquer mês antes da pandemia, não tinha tantas internações. Hoje é muito comum acontecer trombose, embolia pulmonar. É pós-covid? É o prazo de dois anos que o paciente ficou sem procurar as unidades? Eu acho que é um pouquinho de tudo isso”.

Sobre o projeto de lei e os repasses financeiros para a instalação dos leitos de UTI em Mariana, Danilo confirma o cumprimento do prazo, que também por outras instâncias de ordem burocrática: “Não é só no município, mas também na vigilância, onde já foi encaminhado pela terceira vez para o retorno, onde tem de fazer algumas adequações, inclusive estruturais. Eles dão um parecer fazendo a devolução e a vigilância vem apontando onde tem que fazer as alterações no projeto. Mas então, já está [em vias de] iniciar as obras e já teve um repasse”.

Falta de remédios

Com uma notificação recente da Secretaria de Saúde e da Prefeitura Municipal sobre a falta de medicamentos na farmácia, Danilo explicou que a situação enfrentada é decorrente da alegação das empresas de dificuldades de matéria prima para fornecer os medicamentos da Relação Municipal de medicamentos (REMUME), que elenca 404 medicamentos aprovados por lei para compra via processo licitatório. O secretário revela que houve dificuldade de conseguir antibióticos, e problemas envolvendo aumento de custos, visto que as empresas precisam manter o preço por 12 meses e realizar o reequilíbrio quando há aumento de custo da matéria prima. E complementa, afirmando que na licitação mais recente, o preço dos antibióticos injetáveis está acima do indicado na tabela SEMED. “Nós vamos ter que sentar com a controladoria, com a procuradoria, dizendo que o que foi licitado está acima do nosso preço de referência. Então nós temos que sentar, ver a melhor forma de fazer esse fechamento, entender o mercado e dar um parecer no processo porque a população também não pode ficar sem o medicamento”.

Com essa realidade, a vida de centenas de cidadãos é afetada, pois muitos precisam manter um uso contínuo de fármacos como a pregabalina, um anticonvulsivo e antiepiléptico, citada por Danilo como um dos que estavam em falta, afirmando que foi preciso notificar algumas empresas que tentaram se aproveitar do momento para justificar aumentos. Essa providência, de acordo com o secretário, foi efetiva, resultando na entrega dos medicamentos, embora, no momento, alguns medicamentos permaneçam em falta no município.

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