- Mariana
Ciclismo em Mariana: como o esporte gera reflexos positivos na cidade
Eventos ciclísticos proporcionam lazer, bem-estar e ainda movimentam economia e turismo da Primaz de Minas
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Cenário dos maiores eventos de MTB
A Primaz de Minas tornou-se polo ciclístico, sendo palco de uma das maiores competições de nível nacional: o Iron Biker Brasil. Idealizado em 1993, com o objetivo de incentivar a prática do mountain bike no país, o evento também é um agente de impulsionamento turístico, cultural e econômico. Desde 2003 a corrida tinha largada em Ouro Preto-MG e o percurso chegava até Mariana. Mas, em 2013, a cidade foi eleita sede do Iron Biker e, a partir de então, vive os reflexos positivos do ciclismo. Este ano, a prova está agendada para acontecer entre os dias 16 e 18 de setembro e já está com todas as inscrições preenchidas.
Outra disputa comum em Mariana é o Bike Enduro, umas das mais tradicionais de Minas Gerais. A competição, que em 2022 teve sua 29ª edição, é caracterizada pela adrenalina e pelos desafios das trilhas marianenses. O Bike Enduro cresceu muito e tornou-se um evento cultural no município, proporcionando lazer e diversão aos atletas, seus familiares, turistas, e para a população de Mariana. Veja na linha do tempo abaixo a progressão da prova:
Devido ao reconhecimento na realização de grandes competições ciclísticas, em março de 2022 Mariana deu largada ao XTerra. O circuito acontece em mais de 30 países e conta com cerca de 70 mil participantes espalhados pelo mundo, sendo consolidado como o maior evento off-road do planeta. Este ano, teve sua primeira etapa na cidade, que é conhecida por muitos como a Capital Nacional do MTB, reunindo cerca de mil atletas de diferentes modalidades.
O ciclismo em Mariana
Por ser referência no ciclismo, os marianenses adotam a prática desde cedo. Com apenas 15 anos, o atleta Ryan Calazans já coleciona diversos títulos. Ele é vice-campeão da 29ª edição do Bike Enduro, campeão do Minas Ride e vencedor da Copa Minas MTB. Incentivado pelo pai, Anilio Calazans, que também pedala, Ryan conta que a cidade é um bom lugar para se praticar o ciclismo. “Mariana leva o mountain bike muito a sério, a cidade apoia bastante a prática. Aqui tem muitas trilhas, elas são limpas para os treinos e tudo isso ajuda bastante”.
Anderson Ricardo Silva, presidente e um dos fundadores da Associação Ciclística de Mariana (ACM), fala que a instituição nasceu com o objetivo de reunir, apoiar e buscar benefícios para os atletas da cidade. Dentre os incentivos que a ACM dá aos membros, Anderson destaca a isenção e desconto nas inscrições das provas. “Nós conseguimos a inscrição gratuita para grandes eventos de MTB para a maioria dos atletas. Quando eles não alcançam a pontuação necessária para serem isentos da taxa, a ACM disponibiliza desconto de 50%”.
De acordo com Anderson, uma vez por mês acontece uma reunião para discutir a prática do esporte em Mariana, as propostas de melhorias e os próximos eventos a serem realizados. Ele discorda da questão da cidade ser a “capital nacional do MTB”: “Para Mariana se consolidar como capital do Mountain Bike é necessário implementar muita coisa que ainda falta. Por exemplo, uma ciclovia ou uma ciclofaixa para que os ciclistas possam se locomover com mais segurança e facilidade. Já cobramos, mas essa solicitação ainda não foi atendida. Nós até somos ouvidos, mas as demandas não são atendidas pelo município. Por essa razão, eu não considero que Mariana possa ser a capital do MTB”.
Ao ser questionado sobre o problema apontado por Anderson, o prefeito interino de Mariana, Juliano Duarte, disse que “existe um plano de mobilidade urbana em tramitação na Câmara Municipal de Mariana e ele prevê a implantação de corredores. Mariana tem uma peculiaridade pois é uma cidade histórica e tem vias que são muito estreitas. Por mais que o poder público queira fazer, infelizmente não é possível. Mas tem pontos sendo estudados e nós pretendemos que sejam implementadas as ciclovias e ciclofaixas”.
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Incentivos ao ciclismo
Apesar de ainda existirem carências no que diz respeito aos incentivos à prática do ciclismo em Mariana, o presidente da ACM reconhece que o município oferece ajuda à associação e aos atletas. Segundo ele, “a Prefeitura apoia na realização de eventos. Eles disponibilizam água, som, ambulância, alimentação e segurança [guarda municipal]”.
A Prefeitura Municipal, por meio da Secretaria de Esportes, também investe nos atletas através do programa Bolsa Atleta. O benefício consiste em oferecer equipamentos, treinamentos, viagens e outras despesas de preparo e participação dos atletas marianenses em competições esportivas. Ryan Calazans já foi contemplado pelo projeto e afirma: “É bom demais. Muitas cidades não têm recursos e não podem ajudar os atletas, mas Mariana nos ajuda bastante, tanto na manutenção das trilhas, quanto pelo Bolsa Atleta, nos dando um valor fixo mensal que custeia a prática do esporte”.
Além disso, outro incentivo dado pelo município foi a instalação de Bike Stations. São 21 pontos de encontro em locais correspondentes às rotas comuns aos ciclistas de Mariana e nos distritos de Bandeirantes, Camargos, Furquim, Padre Viegas, Passagem e Monsenhor Horta. Cada ponto conta com mesas para lanche, painel informativo, estacionamento para as bicicletas, totens de sinalização e postes solares para a recarga das bicicletas elétricas ou celulares, computadores e outros equipamentos.
Também foram instalados novos bicicletários na cidade. Os equipamentos estão localizados nos seguintes pontos: Rua São Vicente de Paula, atrás do ponto de ônibus; Arena Mariana; na pista de skate; Centro de Convenções; em frente à Prefeitura; em Cachoeira do Brumado, Arena Badaró, Pista de caminhada Alameda dos Inconfidentes; bairro Dandara e na Vila Maquiné. O prefeito interino Juliano Duarte comenta sobre o investimento: “Nós substituímos os bicicletários antigos que eram de ferro por novos que são feitos de alumínio. Inclusive, eles vêm acompanhados de cartazes que incentivam o uso da bicicleta”
Ruy Vidal, secretário adjunto da Secretaria Municipal de Esportes, explica que “todos os incentivos disponíveis são distribuídos de acordo com os anseios de cada associação (devidamente registrada e em atividade), projeto social e conselho comunitário esportivo. Há um controle rígido de como os materiais ofertados estão sendo utilizados em cada localidade, modalidade e comunidade”.
Benefícios da prática do esporte
O ciclismo tem atraído cada vez mais adeptos. Desde 2020, quando a pandemia de Covid-19 se espalhou pelo país e as academias foram fechadas para conter o contágio da doença, muitas pessoas viram no ciclismo uma alternativa para manter o corpo em movimento. De acordo com o médico Renato Arruda, “o esporte proporciona diversos benefícios para o corpo, como a melhora na circulação, o emagrecimento, o aceleramento do metabolismo, a melhora da pressão arterial, a diminuição da glicose e consequente redução das chances de desenvolver diabetes e hipertensão, duas doenças mais incidentes entre a população”.
A ascensão do esporte também foi observada por Vidal. “O ciclismo vem crescendo significativamente não somente em Mariana, mas no país como um todo. Penso que as pessoas estão cada vez mais preocupadas com saúde e qualidade de vida e em Mariana não foi diferente”, aponta.
O atleta Francisco Hidebrando pratica MTB há 20 anos e comenta sobre como o ciclismo tem ganhado mais espaço. “O mountain bike está crescendo muito. Quando eu comecei a pedalar em 2002, não tinha todo esse envolvimento das pessoas em geral, mas de cinco anos para cá tenho notado muito aumento de pessoas interessadas no esporte”. Ele também associa esse fenômeno à pandemia e acredita que a prática seja positiva para todos que a fazem.
Além de fazer bem para a saúde física, o esporte também é benéfico para a saúde mental e para criar relações sociais. Chicão (como é chamado pelos amigos do MTB) começou a pedalar para se livrar do vício em drogas. Para ele, o mountain bike é uma forma de criar conexões entre as pessoas. “O ciclismo conecta muita gente de diferentes lugares e isso é muito bom, pois conhecemos muitas culturas e fazemos várias amizades”.
MTB movimenta cultura local
Os eventos ciclísticos de Mariana não se resumem às competições, mas são uma oportunidade de promover a cultura local e a socialização entre os participantes. No Bike Enduro, realizado em abril deste ano, os presentes puderam curtir o som da música regional com os artistas Pedro Chagas, Mayron Gregório e Banda Lutz, além da banda belo-horizontina Legião II.
Além disso, a organização do evento ofereceu praça de alimentação, onde feirantes locais venderam pratos típicos mineiros, como o famoso feijão tropeiro. A barraquinha da cervejaria Ouropretana, tradicional da região, também esteve presente. A bebida foi comercializada durante o evento e fomentou a cultura gastronômica.
Wanessa Sousa, 20 anos, reside em Mariana há três meses e esteve na praça de alimentação do Bike Enduro. Ela conta que estava passando pela região da Arena, viu a movimentação e decidiu parar um pouco no evento. “Vi que estavam tendo uns showzinhos ao vivo e umas barraquinhas com comidas e cerveja, achei o clima muito agradável. Não sou muito próxima do esporte, então eu não estava lá para prestigiar nenhum atleta em específico, mas gostei muito”.
No Iron Biker Brasil, o ponto de partida é o centro histórico. Em alguns anos a largada aconteceu na Praça Minas Gerais, conhecida popularmente como praça das “duas igrejas”, mas devido à reforma na Casa de Câmara e Cadeia, a saída foi transferida para a Praça da Sé, o que proporciona grande movimentação nos principais pontos turísticos da cidade. Enquanto os atletas percorrem as trilhas, seus familiares e demais visitantes podem contemplar as belas igrejas, praças, museus e casarões da Primaz de Minas.
Reflexos econômicos
O ciclismo também é um forte potencializador da economia de Mariana. Um estudo realizado pela organização do Iron Biker Brasil mostra a capacidade do evento em fomentar a economia, o turismo e a divulgação de sua cidade sede na esfera nacional e internacional. De acordo com os dados, o evento injeta aproximadamente R$8 milhões na economia local durante sua realização. As informações da pesquisa ainda apontam que há uma média anual de 2 mil atletas inscritos e, considerando 3,6 acompanhantes por atleta, há um retorno midiático avaliado em mais de R$ 5 milhões.
Segundo o secretário adjunto de esportes, Ruy Vidal, o comércio alimentício (bares, lanchonetes, restaurantes e padarias) e a rede hoteleira são impactados diretamente pelo volume de atletas que a cidade recebe em dias de eventos. “Por sermos uma cidade histórica e com um peso por ter sido a primeira capital de Minas, o turismo religioso, pedagógico e cultural são indiretamente afetados. Atletas que nunca vieram à cidade costumam estender sua estadia para uma melhor experiência contemplativa”, enfatiza.
Juliano Duarte completa: “O Iron Biker movimenta muito a economia de Mariana. A rede hoteleira fica 100% completa nos dias do evento. Além disso, é o evento do ano em que os postos de gasolina mais vendem. E os demais comércios também são afetados positivamente, pois o ciclismo é um esporte caro de ser praticado, então os atletas que vêm para a cidade têm poder aquisitivo para circular aqui”.
Localizado no Centro Histórico da cidade, em frente à praça Gomes Freire (chamada popularmente de Jardim), o restaurante Rancho é um dos locais onde os ciclistas e seus familiares podem fazer suas refeições. O restaurante é conhecido pela comida mineira feita no fogão a lenha e já existe em Mariana há 23 anos. Celso Neves, sócio proprietário do Rancho, afirma que durante o Iron Biker suas vendas triplicam. Para ele, o evento é “excepcional” e ajuda a movimentar o comércio marianense de forma geral.
Entretanto, o empresário diz que os outros eventos ciclísticos que acontecem na cidade não têm a mesma proporção que o Iron Biker. Segundo ele, a realização das competições, com largada na Arena Mariana, afasta os atletas e seus familiares da região turística da cidade e o comércio fica abandonado. “Não sei por quais motivos eles [Prefeitura] fazem os eventos lá [na Arena Mariana], mas seria muito melhor para o comércio se esses eventos fossem feitos aqui no centro histórico”, afirma.
Quando perguntado sobre essa questão, Juliano Duarte explica: “Tudo depende do porte do evento. Tem alguns que, por mais que eu queira fazer no Centro Histórico, a capacidade não comporta, em virtude do tamanho de toda a estrutura necessária. A praça que cabe uma estrutura maior é a Minas Gerais, mas infelizmente ela está em reforma e até o término da obra é preciso dividir os eventos em outros pontos da cidade”. Duarte diz ainda que com a liberação da Casa de Câmara e Cadeia a ideia é retomar a realização dos eventos na Praça Minas Gerais para valorizar e impulsionar o comércio central.
Agenda das próximas competições
O calendário de competições ciclísticas de Mariana já está cheio. Confira na agenda abaixo os principais eventos que irão acontecer na cidade:
Saiba mais
Izabela Gonçalves dos Santos é estudante do 3º período do curso de Jornalismo (Instituto de Ciências Sociais Aplicadas/Universidade Federal de Ouro Preto). Esta reportagem foi produzida durante a disciplina Apuração, Redação e Entrevista.
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