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Hoje é segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Audiência Pública discute orçamento de Mariana para 2023

Estimativa preliminar de arrecadação ultrapassa meio bilhão de reais

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Anderson Stoppa, da Secretaria de Planejamento, apresentou os conceitos relacionados à legislação e à construção da Lei Orçamentária Anual (LOA) – Foto: Luiz Loureiro/Agência Primaz
Em evento realizado no Centro de Convenções, na noite desta quinta-feira (04), a Prefeitura de Mariana, por iniciativa da Secretaria de Planejamento, fez a apresentação das características de Lei Orçamentária Anual (LOA), que deve ser remetida à Câmara de Vereadores até o final deste mês. Representantes de algumas associações de bairros e distritos apresentaram demandas específicas para inclusão no planejamento do próximo ano, sendo 20 de agosto a data limite para o encaminhamento de novas sugestões.

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Na abertura do evento, Ronaldo Bento (PSB), o prefeito interino de mariana há pouco mais de um mês, agradeceu a presença dos participantes e desculpou-se pela dificuldade de prometer grandes intervenções, devido ao tempo curto de seu mandato, mas prometeu fazer aquilo que for possível até dezembro deste ano. “Eu não vou falar que eu vou fazer, porque meu prazo é muito curto. No dia 05 de dezembro teremos uma nova eleição na Câmara, caso não tenha uma eleição extemporânea, ou que se mande dar posse ao vitorioso das eleições, e teremos um novo prefeito, a partir de dezembro, à frente da prefeitura municipal de Mariana”, afirmou Ronaldo, em um ato falho a respeito da eventual posse do novo presidente da Câmara, o que somente vai ocorrer em 1º de janeiro de 2023.

O prefeito interino também enfatizou a situação do distrito de Santa Rita Durão, em cujos limites territoriais estão concentradas as mineradoras, pela não realização de melhorias tão necessárias à localidade. “Eu quero pedir desculpas, e dizer que não vai faltar empenho nosso para tentar fazer alguma coisa pelo distrito, que é um distrito hoje que, de uma certa forma, é o capitalizador da nossa CFEM [Contribuição Financeira pela Exploração Mineral], um distrito que não tivemos um carinho que é cortado a essa comunidade. Então é por isso que eu estendo esse pedido de desculpas, e que vocês me deem oportunidade, no transcurso de tempo, para gente tentar fazer”.

A Associação dos Moradores de Passagem de mariana, representada por Aída Anacleto, foi uma das que fizeram a entrega de demandas ao prefeito interino Ronaldo Bento – Foto: Luiz Loureiro/Agência Primaz

Depois de receber a formalização de demandas de algumas associações de bairros e distritos com representantes na audiência, Ronaldo Bento enfatizou a necessidade de equilíbrio e de tratamento igualitário aos moradores do município, ressaltando que existem demandas que são mais abrangentes que as fronteiras dos bairros e distritos. “Nós temos que pensar na isonomia de trabalhar e atender as demandas de toda a nossa população como um todo. Eu não posso pegar gastar R$30 milhões em Camargos, e gastar R$1 milhão em Passagem de Mariana. Isso você vai depender das demandas, quais são as demandas se repetem”.

O prefeito interino prometeu transparência e respeito às demandas da população, afirmando que a construção do orçamento vai ser feita de forma participativa, sem se omitir caso venham a ocorrer situações de não atendimento dos anseios e necessidades. “Então eu quero aqui, nesse dia de hoje, calçar as sandálias da humildade, me curvar diante de todos vocês, e dizer que podem ter certeza de que nós vamos trabalhar e visualizar a necessidade de cada um de vocês. E todas as vezes dentro da dessa gestão que eu e nossa equipe não fizemos da forma que tem que ser feito, eu vou ter a humildade de vir pedir desculpa e vou justificar porque não foi feito. E podem ter certeza de que vamos construir [o orçamento] de forma conjunta, para podermos ofertar dias melhores para cada um de vocês. É o que devemos fazer, não é favor para ninguém, é nossa obrigação, em respeito com o povo”, finalizou.

Lei Orçamentária Anual

A Lei Orçamentária Anual (LOA) é uma lei elaborada pelo Poder Executivo que estabelece as despesas e as receitas que serão realizadas no ano seguinte. Nesta lei, está contido um planejamento de gastos que define as obras e os serviços que são prioritários para o Município, levando em conta os recursos disponíveis, ou seja, a arrecadação estimada.

Ela é elaborada com base nas diretrizes anteriormente apontadas pelo Plano Plurianual (PPA) e pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), ambos definidos pelo Executivo, a partir de discussões com a comunidade. Antes de ser sancionada a lei, a proposta orçamentária é analisada pelos vereadores que podem apresentar emendas ao projeto, de acordo com critérios estabelecidos pela LDO.

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A apresentação de Anderson Stoppa, Assessor Técnico em Planejamento e Execução Orçamentária da Prefeitura de Mariana incluiu um quadro comparativo da evolução da arrecadação municipal, de 2012 a 2021, além da informação correspondente aos sete primeiros meses deste ano.

Evolução da arrecadação municipal – Fonte: Secretaria Municipal de Planejamento e Gestão

Depois de um crescimento em 2013, com manutenção aproximada do nível de arrecadação no ano seguinte, a receita municipal sofreu queda de aproximadamente 8,3% em 2015, resultado praticamente igual ao de 2016, com nova queda (12,9%, em relação a 2015) em 2016, pior resultado no período, com recuperação muito pequena em 2017, em decorrência da queda da arrecadação proveniente da mineração.

A partir de 2019, mesmo com o aparecimento da pandemia, a cidade vem batendo recordes sucessivos de arrecadação, ultrapassando R$340 milhões de janeiro a julho deste ano, com a expectativa de chegar a R$530 milhões, representando um superavit de aproximadamente R$40 milhões, em relação ao previsto na LOA de 2022.

Para 2023, de acordo com Anderson Stoppa, as análises conduzem a uma estimativa de R$560 milhões, representando um aumento nominal de 14%, que também pode aumentar, caso persistam as tendências atuais.

Participação Popular

A participação popular na audiência pública foi composta, majoritariamente, por representantes das associações de bairros e distritos de Mariana – Foto: Luiz Loureiro/Agência Primaz

Após dois anos sendo realizada em formato online, a audiência pública da LOA 2023 atraiu um número considerável de pessoas, com representação de muitas associações de bairros e distritos, algumas das quais ficaram de apresentar formalmente suas demandas até o prazo máximo estabelecido, de 2º de agosto.

Marlon Figueiredo, Secretário Municipal de Planejamento, em entrevista à Agência Primaz, afirmou que, embora o mecanismo de coleta de sugestões e demandas já exista há muitos anos, a pandemia da Covid-19 atrapalhou bastante. A despeito disso, Marlon declarou-se positivamente surpreso com a participação popular na audiência. “Esse trabalho, essa coleta de demandas específicas de cada associação, isso já vem sendo feito há algum tempo. Mas nós ficamos dois anos sem fazer audiências presenciais, por conta da pandemia. Então as audiências eram eletrônicas virtuais e estão disponíveis na página da Secretaria de Planejamento de Mariana no YouTube. (…) Foi surpreendente hoje, de fato foi surpreendente, porque eu não esperava de ter tanta gente participando. Então ver a comunidade participando é muito bom, porque isso norteia a gente de fato. Isso não é simplesmente uma formalidade, isso não é um ato político, isso é um ato em que a gente precisa entender a demanda da população”, afirmou.

Para o secretário, porém, é necessário que essa participação não seja restrita à audiência, mas tenha continuidade como acompanhamento e fiscalização da execução do orçamento. “É importante que a comunidade não só apresente a demanda agora, mas que ela acompanhe a inserção disso na pauta da Câmara, que cobre os vereadores também para que as demandas do bairro sejam contidas ali, seja através do orçamento impositivo ou através de emendas à lei mesmo, da forma comum de se fazer. E que acompanhe a execução. Porque a secretaria de planejamento só faz o projeto [de lei orçamentária], ela não executa. Então isso lá na ponta, depois do orçamento aprovado, tem que ser cobrado da secretaria fim que executa”, finalizou.

A questão da manutenção e aumento do nível de participação popular também foi enfatizada por Júnior Nonato, presidente da Federação de Associação de Moradores de mariana (FEAMMA), cujo mandato se encerra no final deste mês. “Eu vejo como importante, mas como eu falei no início [da audiência], esse é o só o começo, a oportunidade que todo ano a gente tem para discutir a Lei Orçamentária. Mas não é só isso, não é só trazer as demandas, mas é efetivamente cobrar. Porque uma das questões que os presidentes [das associações] sempre reportam, quando vem esse período do ano, é que as demandas elas chegam até o município, o município coloca as demandas na lei, a lei vai pra Câmara, é aprovada, mas elas não são efetivadas. Isso causa um certo desânimo para poder participar e, de fato, a gente sabe a decisão ou não de implementar aquela demanda é da administração pública. Se não tiver uma cobrança efetiva da comunidade, não vai acontecer”, pontuou.

Emendas impositivas

A novidade na elaboração e análise da LOA este ano, em Mariana, foi a aprovação da lei que prevê a reserva de 1,2% da receita líquida do município para emendas apresentadas pelos vereadores, em caráter impositivo. Ou seja, indicações que devem, obrigatoriamente, serem implementadas pelo Poder Executivo.

A partir da perspectiva de arrecadação atingir mais de meio milhão de reais, cada um dos 15 vereadores poderá apresentar emendas com orçamento total provavelmente superior a R$400 mil, com obrigatoriedade de destinação da metade desse valor a ações e serviços públicos de saúde. Ironicamente, Ronaldo Bento, que presidia a Câmara Municipal quando a lei foi aprovada, não terá direito legal de apresentar emendas parlamentares, embora seja ele que, como prefeito interino, tenha a palavra final quanto às disposições da LOA de 2023, até o encaminhamento ao Poder Legislativo.

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