- Ouro Preto
Com estrada caindo aos pedaços, moradores de Rodrigo Silva temem ficar ilhados
Em encontro com vereadores, população do distrito de Ouro Preto relatou diversos problemas vividos no lugar
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A reunião começou por volta das 16h, durou mais de três horas e teve tribuna livre à população de Rodrigo Silva, que clamou por ações dos vereadores e do poder público de Ouro Preto no distrito.
“O medo é de ficarmos ilhados”
A estrada próxima ao trecho do Fundão, que liga Rodrigo Silva à sede do município, é um dos maiores terrores dos cidadãos locais. O trajeto se encontra danificado há mais de dois anos e foi alvo de manifestações dos moradores, que realizaram, em junho deste ano, a celebração irônica do segundo aniversário do buraco presente no espaço.
Moradora da comunidade, Margarida Barbosa foi categórica ao usar a tribuna livre para desabafar quanto ao problema vivido na estrada. Segundo ela, o temor da população é de ficarem ilhados no período chuvoso que se aproxima. “Infelizmente, a nossa estimada voçoroca continua e só aumenta de tamanho. O medo é que ela engula tudo. Não preciso repetir sobre a estrada de Rodrigo Silva, que é um assunto muito recorrente. O medo é de ficarmos ilhados quando voltar o período chuvoso. Aqui é perto de Ouro Preto, mas acaba se tornando longe por conta de problemas estruturais que continuam. Somos cidadãos, todos pagamos impostos, precisamos e merecemos um lugar digno para passar”, afirmou.
Ela também comentou sobre a apatia do poder público em tratar os problemas de Rodrigo Silva. Para isso, Margarida fez um paralelo com a última reunião no local entre as partes, e disse que pouco foi feito desde então. “É muito frustrante, depois de cinco anos da última reunião aqui, retornarem os mesmos problemas. Na época da última reunião, disseram que estavam coletando recursos, que tinha projetos inscritos e se o problema volta, é porque não foi resolvido”, cobrou.
Esmeralda Martins, que também mora em Rodrigo Silva, atentou para as consequências que a interdição da estrada pode trazer à vida de quem mora no local. “Nós estamos à beira de ficar sem estrada, como que nós vamos fazer? Podemos ficar até sem alimentação, devido ao estrago que está na estrada e a chuva que está chegando”, refletiu.
Os vereadores presentes responderam os questionamentos feitos pela população. O opositor Júlio Gori (PSC) concordou com as reivindicações e atribuiu a responsabilidade ao prefeito Angelo Oswaldo (PV) e sua equipe, com fortes críticas. “Hoje, a prefeitura arrecada quase R$1,4 milhão por dia, é R$42 milhões por mês e Rodrigo Silva está abandonado desse jeito. No dia 3 de agosto de 2021, o prefeito Angelo Oswaldo, pinóquio igual o secretário de Obras, foi noticiado pela própria prefeitura um pacote com 10 obras e pouco ou nada aconteceu. Quase não passa um carro ali, como vai passar um caminhão? Nós temos um Executivo mentiroso, que está iludindo a população por vários distritos, tem um péssimo secretário de Obras dentro dessa gestão, o pior que já teve na história de Ouro Preto. O que esse homem tem com Angelo Oswaldo que ele não sai dessa cadeira? É um absurdo o que está acontecendo dentro de Ouro Preto. Todo distrito que a gente vai, os problemas são sistêmicos e os mesmos. Vai esperar Rodrigo Silva ficar ilhado?”, repreendeu.
Renato Zoroastro (MDB) também foi firme ao questionar a situação vivida pelos moradores em relação à estrada defasada. “É lamentável o que estão fazendo com os moradores de Rodrigo Silva. A obra na estrada que está a ponto de ceder também constava no pacote de obras, mas a única coisa que foi feita em um ano e oito meses foi sondagem. Falaram que fizeram um estudo e que é difícil, mas vai deixar cair tudo?”, perguntou.
A Agência Primaz questionou a Secretaria Municipal de Obras sobre as condições adversas que os moradores têm encontrado no local. Titular da pasta, Antônio Simões alegou que houve um erro de comunicação entre as partes, mas prometeu um início breve para as obras. “Na verdade, o pessoal não leu o que a gente divulgou sobre o pacote de obras. Nós anunciamos algumas obras sim e de todas elas, nós não executamos a rua Belo Horizonte por uma questão técnica, mas vamos começar agora. Nós temos a execução do projeto para Rodrigo Silva que estava no nosso pacote, era um pacote de atividades que ficou denominado como pacote de obras, mas que não tinha só obras. As pessoas não interpretam o que estava escrito lá. Porém, apesar de já estar com o projeto pronto, nós estamos fazendo uma revisão em algumas coisas que a gente achou, por parte técnica, dar uma conferência. Inclusive, já estamos em contato com o consórcio Cimvalpi, que já passou no local e identificou os serviços, para que ele possa se mobilizar e iniciar a execução do serviço lá”, comentou.
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Poeira excessiva
Outro problema que tem assolado a população de Rodrigo Silva é o alto nível de poeira que recai sobre a comunidade. Nos últimos meses, os moradores têm denunciado os transtornos que o fenômeno vem causando. Essa poeira vem da estrada que liga Dom Bosco ao distrito.
A moradora Esmeralda Martins deu um relato pessoal sobre como essa situação tem afetado a vida de quem reside em Rodrigo Silva. “Eu já saí com uma colega pela linha, foi tanta poeira que eu peguei que meu filho me levou na UPA achando que era Covid-19. Não podemos abrir janela. Com essa pandemia, a gente precisa de ventilação dentro de casa e nós não podemos. Se deixarmos tudo aberto e limparmos a casa de manhã, à tarde pode passar o dedo que está tudo empoeirado”, desabafou.
O vereador Renato Zoroastro (MDB) definiu o excesso de poeira em Rodrigo Silva como “desumano” e disse temer futuros problemas de saúde aos cidadãos locais. “Eu estive aqui na semana passada, me reuni com alguns moradores e vi a questão da poeira na rua da Estação. Aquilo é desumano, é questão de saúde pública. As pessoas precisam ficar com janelas e portas fechadas, porque, se não, suja a casa e a pessoa respira a poeira, podendo causar problemas respiratórios”.
Antônio Simões, secretário de obras de Ouro Preto, explicou à Agência Primaz a origem dessa situação e revelou que há um projeto para melhorias. “Quanto à estrada Dom Bosco, nós temos um projeto de uma estabilização do solo que vai eliminar grande parte da poeira, mas eu não posso dizer que é uma pavimentação. Nós vamos tratar várias estradas vicinais para mitigar a poeira e o barro”.
Problemas escolares: estrutura precária e falta de transporte
Fundada em 1908, com outra denominação, a Escola Municipal Doutor Alves de Brito é o principal polo educacional de Rodrigo Silva. No entanto, a instituição tem sofrido grandes problemas nos últimos anos. Luciene Kelly, diretora da instituição, usou a tribuna livre para apontar as principais dificuldades que a comunidade escolar enfrenta. “Não tem um lugar que não tenha um furo no telhado, porque quando fizeram não amarraram as telhas. Não é um problema muito difícil de ser resolvido, porque a estrutura é boa, é simplesmente solicitar alguém que venha amarrar, porque eles vêm e colocam as telhas no lugar e depois de três meses elas caem. A época de chuva está chegando e os nossos meninos vão ficar molhados, porque todas as salas têm pingueira. O forro, o teto está ondulado, porque quando venta ele sobe e as crianças saem correndo com medo. De repente, ele abaixa. Já aconteceu de uma lâmpada cair mas, graças a Deus, não tinha nenhum aluno dentro da sala. Esse forro tem dois anos. O nosso muro também está cedendo”, salientou.
A moradora Margarida Barbosa também mencionou um problema que os alunos da Escola Municipal passam – a inconstância no transporte para alunos e professores. Segundo ela, diversas vezes as aulas são prejudicadas porque os mestres e estudantes não conseguem chegar ao local.
Alex Brito (Cidadania) responsabilizou o poder executivo. De acordo com o parlamentar, cobranças para melhorias no transporte são feitas recorrentemente à Secretaria de Educação de Ouro Preto. “A questão do transporte escolar é algo vergonhoso. Estamos na metade de agosto e não temos a regularidade do transporte escolar em Rodrigo Silva. Estamos batendo e pedindo respostas da Secretaria de Educação para que isso seja sanado”, afirmou.
A redação da Agência Primaz entrou em contato com a secretária de Educação do Município, Deborah Etrusco, que não respondeu o questionamento até o fechamento desta reportagem.