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Hoje é quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Oficina sobre vigilância ativa em saúde mobiliza comunidades de territórios minerários

Parte de um projeto interdisciplinar da UFMG e da UFOP, o encontro serviu para a apresentação de um instrumento para aferir a ocorrência de Covid longa

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Sobre fundo branco, a logomarca da Agência Primaz, em preto, e a logomarca do programa Google Local Wev, em azul, com linhas com inclinações diferentes, em cores diversasde cores diversas
Moradores de Antônio Pereira e Mariana foram convidados para se reunir no sábado (20) e discutir impactos da Covid-19 e das atividades das mineradoras na região. Foto: Kaio Veloso/ Agência Primaz
A oficina de validação do instrumento de vigilância ativa e participativa em saúde realizada no sábado (20) no Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA) voltou-se aos profissionais das áreas de educação e mineração, reunindo representações de movimentos sindicais de Mariana e Antônio Pereira, distrito de Ouro Preto. A atividade é parte de um projeto extensionista da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em parceria com a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Houve um pré-teste para a futura aplicação de um questionário, objetivando pensar em estratégias para enfrentamento às consequências da Covid longa no público alvo. Houve ainda debates quanto às consequências da atividade mineradora na região na vida dos participantes.

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O projeto de extensão “Desafios para os trabalhadores na Educação e na Mineração em tempos de pandemia: vigilância ativa e participativa nos territórios minerários” é financiado pelo Ministério Público do Trabalho e tem por objetivo apoiar populações que tenham sofrido com o impacto do rompimento da barragem de Fundão, no território da bacia do Rio Doce. A iniciativa parte do pressuposto que houve intensificação desses impactos devido à pandemia de Covid-19.

Como explica Jandira Maciel, professora do Departamento de Medicina Preventiva da UFMG e coordenadora do projeto, o evento, que é a primeira atividade do projeto em modo presencial, serve como forma de reunir lideranças sindicais e populares da região, focando em questões voltadas à saúde e aos desdobramentos da síndrome da Covid longa. “Nós temos um conjunto enorme de pessoas que estão vivendo no território da bacia do Rio Doce, que para além do sofrimento, de todos os danos à sua saúde, à sua qualidade de vida que essa população vem sofrendo em decorrência da barragem de Fundão, a isso tudo se soma uma pandemia. Então, vamos discutir quais são os desdobramentos dessa pandemia para essa população nesse cenário”, complementa. 

Prezando pela multidisciplinaridade, há envolvimento de docentes de ambas as universidades em diferentes áreas, a exemplo de Kathiuça Bertollo, professora do curso de Serviço Social na UFOP. Somam-se os bolsistas de ambas as universidades, oriundos de cursos como educação, geologia, psicologia, serviço social e história. Jandira justifica a inclusão da educação a partir do entendimento que a área foi impactada pela pandemia. “A educação entra exatamente pela essencialidade que esse setor tem na vida de todos nós, e porque ela foi severamente afetada pela pandemia, na sua forma de se organizar, no acesso aos alunos aos espaços educativos”

A fim de promover o acolhimento, a organização forneceu café da manhã e almoço para os participantes, que passaram a manhã e a tarde em uma sala de aula, conhecendo os propósitos do projeto, os sintomas da Covid longa e opinando sobre um questionário a ser aplicado em outra fase da extensão. O propósito é promover uma organização frente à Covid-19 longa que contemple as verdadeiras necessidades daqueles a quem o projeto se destina.

No instrumento, entregue para os participantes e também disponibilizado no formato de um formulário online, há perguntas voltadas à identificação, à atividade profissional, a ocorrência de casos de Covid-19 com a presença de sintomas da doença longa e seu impacto em fatores como desempenho no trabalho dos participantes. Há também uma preocupação em avaliar as formas como empresas e escolas lidam com a doença. A última seção volta-se à atuação sindical das entidades representadas frente à pandemia. 

Jandira Maciel, da Faculdade de Medicina da UFMG, dialoga com os participantes da oficina. Foto: Kaio Veloso/ Agência Primaz

Na sala, cartazes fixados por representantes da Frente Mineira de Luta das Atingidas e dos Atingidos pela Mineração (FLAMA-MG) apresentavam frases dirigidas à empresa Vale, uma das partes da Samarco Mineração, controladora da Barragem de Fundão, cujo rompimento em 5 de novembro de 2015 marcou a história recente como o acontecimento de maior impacto ambiental do país. A frase “Vale demonstra descaso com os moradores de Antônio Pereira e Vila Samarco” se destaca em uma faixa vermelha, enquanto outra, em cor preta, apresenta os dizeres “A união é a rocha do povo”.

No distrito de Antônio Pereira, a presença de mineradoras gera situações de embate entre os interesses das grandes empresas e a qualidade de vida dos moradores locais. Embora busquem esclarecer que não são contra o progresso e a geração de emprego e renda, representantes da Associação dos Moradores do distrito foram claros quanto à sua insatisfação frente à ausência de diálogo sobre suas necessidades.

Natural de Barra Longa, Sérgio Fábio do Carmo exerceu a profissão de garimpeiro durante parte da vida. Conhecido pelo apelido “Papagaio”, é fundador e primeiro presidente do sindicato dos servidores públicos municipais de sua cidade, além de ser o editor chefe do jornal A Sirene e coordenador do grupo dos garimpeiros tradicionais do Alto Rio Doce. Dando ênfase à tradição do garimpo, muito distinto das atividades industriais das grandes mineradoras, ele fez menção à criminalização do garimpo, como na ação recente em Antônio Pereira, repudiada em nota da Associação dos Docentes da UFOP (Adufop).

Ele afirma que a classe sofreu com a pandemia devido a fatores socioeconômicos. “O agravante do garimpo é que os garimpeiros têm um nível de escolaridade muito menor, o que os torna mais vulneráveis. Então, o coronavírus, já em cima do rompimento da barragem, trouxe um problema muito maior. O coronavírus começou como o prenúncio da fome dentro do garimpo. Esse prenúncio da fome que o rompimento da barragem já havia escrito”, declara.

Quanto a possíveis usos das informações coletadas, Jandira explicou que o questionário precisa de ajustes, muitos deles apontados pelos próprios participantes, visto não se encaixarem em lógicas comuns de trabalho como militantes em movimentos sindicais e sociais. Com o questionário revisado, pretende-se realizar uma aplicação em Mariana. A partir das informações e das demandas apresentadas, como a necessidade de uma policlínica em Antônio Pereira (que teve altos índices de infecção por Covid-19), pretende-se que os grupos se engajem  com a criação de projetos que possam se transformar em políticas públicas. Essa etapa, no entanto, só deverá chegar em 2023, dando tempo aos sindicatos para se organizarem.

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