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Hoje é segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Fumaça foi causada por instabilidade das caldeiras, diz empresa à Prefeitura de Ouro Preto

Vídeo mostra fumaça intensa saindo da chaminé da empresa no bairro Saramenha, no último dia 05

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Chaminé expele intensa fumaça negra no céu de Ouro Preto, devio a problemas de instabilidade em caldeiras da fábrica da Actec
Morador registra intensa fumaça na empresa ACTECH. Foto: Wanderley Martins Barbosa/Reprodução Facebook

A Alumina Chemical Technology S/A (ACTECH), sucessora da Hindalco, encaminhou à Prefeitura de Ouro Preto, nesta segunda-feira (12), uma nota de esclarecimento a respeito das causas da fumaça densa e preta que foi avistada nos bairros Vila dos Operários e Saramenha na última semana. De acordo com a empresa, o motivo para a emissão foi “a interrupção na produção de vapor [que] afetou o funcionamento apropriado do forno B, gerando excesso de CO2“. De acordo com a empresa, a instabilidade das caldeiras foi resolvida e, desde o dia seguinte ao ocorrido, os equipamentos funcionam normalmente.

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A empresa aproveitou o espaço para reafirmar seu compromisso com a sustentabilidade em Ouro Preto e anunciou que está implementando uma nova fonte de energia “mais limpa“:

“Além de um programa de treinamento e intertravamentos que evitarão que esse episódio se repita, um estudo para substituição do óleo bpf por uma matriz mais limpa, sustentável e eficiente, já foi contratado e será entregue nas próximas semanas. Cabe ressaltar, ainda, o comprometimento total da direção da empresa com os controles ambientais, segurança e manutenção de seus equipamentos, assim como na construção de uma frente de diálogo e relacionamento fraternal com toda a comunidade ouropretana“.

Na semana passada, um vídeo ganhou destaque nas redes sociais, mostrando uma intensa fumaça preta sendo dispersada em uma das chaminés da ACTECH. O despejo de CO2 intensificou os debates sobre os riscos à saúde e o impacto ambiental da fábrica para o município.

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Riscos ambientais já vinham sendo debatidos na Câmara

A nota chega menos de uma semana após o vereador Matheus Pacheco (PV) entrar com representação, a ser encaminhada ao Ministério Público, solicitando informações quanto ao cumprimento do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), assinado em 2021, pela Hindalco. Com o TAC, uma série de tratativas foram firmadas junto ao Ministério Público para que a empresa pudesse seguir funcionando

O acordo foi firmado após o Ministério Público emitir um laudo, com mais de 70 páginas, apontando uma série de irregularidades envolvendo o licenciamento ambiental da empresa, o modo de operação e os impactos socioambientais para o município.

Na 56ª reunião ordinária da Câmara, realizada na quinta-feira (08), vereadores mostraram preocupação com o atual modo de funcionamento da fábrica. Alessandro Sandrinho (Republicanos) disse ter preocupações quanto ao futuro dos moradores dos bairros do entorno e dos próprios trabalhadores que passam o dia debaixo da fumaça emanada pelas chaminés.

Já Matheus Pacheco, vereador autor da representação, se mostrou preocupado com a população com saúde mais vulnerável, como os idosos dos bairros adjacentes, e com as crianças que frequentam a Escola Municipal Tomás Gonzaga e a Creche Municipal Colmeia, ambas instaladas próximo a empresa, submetidas a longos períodos de exposição à poeira vinda da produção de alumina.

Em 24 de maio, durante a 30ª reunião ordinária da Câmara de Ouro Preto, o vereador Matheus Pacheco já havia encaminhado representação à empresa ACTECH solicitando informações quanto à concretização do TAC firmado pela Hindalco.

Em 2021, a Câmara Municipal realizou a 40ª Audiência Pública para que a Hindalco prestasse esclarecimentos sobre o impacto ambiental da empresa na população, fauna e flora ouropretana.

Fábrica tem histórico de impactos socioambientais

Em março deste ano, a antiga Hindalco, pertencente ao grupo indiano Aditya Birla, foi vendida por R$1 para a empresa mineira Terrabel Empreendimentos. Em plenário, na 56ª reunião da Câmara, o vereador Luciano Barbosa (MDB) disse que a venda da empresa aparentava ter como objetivo fugir de certas responsabilidades, já que o modo de operação da fábrica parecia não ter sido modificado.

Apesar da nova gestão e do novo nome, a fábrica tem um longo histórico de violações socioambientais na cidade. Em setembro de 2021, moradores dos bairros Vila Operária e Saramenha, ambientalistas, biólogos e pesquisadores denunciaram a emissão de particulados expelida pela fábrica no ar e no lençol freático que alimenta o Córrego da Varjada. O pó de cor branca emitido pela produção de alumina é o que mais incomoda os moradores da região.

Entre os meses de maio e junho deste ano também era possível avistar a fumaça recobrindo os bairros no entorno da fábrica. Em entrevista concedida à Agência Primaz, o presidente da Associação dos Moradores da Vila Operária, Luiz Carlos Teixeira, afirmou que a população lutava pela redução, filtragem e monitoramento da emissão de poluentes da empresa.

O Termo de Ajustamento assinado em 2021 teve vencimento em março de 2022. No blog Operário Verde, André Lana, morador do bairro Vila Operária e advogado, resumiu a situação atual: “(…) a fábrica de Saramenha está funcionando atualmente sem licenciamento ambiental, com o TAC vencido, sem os pressupostos legais para manutenção do alvará de funcionamento, sem cumprir o mínimo do que fora pactuado nos últimos anos como condicionantes… enfim, é a prova viva de que não há lei nessa terra, onde tudo pode ser feito com dinheiro e lobby político!”.

Lana vinha atualizando o site desde 2012, com informações e denúncias referentes ao modo de operação da empresa. Mas, em postagem feita na primeira sexta-feira de setembro (02), anunciou o encerramento do blog com um desabafo dizendo admitir sua derrota frente a empresa. “Peço desculpas aos leitores do blog, mas é chegado o momento de reconhecer a derrota. Não há mais o que fazer, nem a quem recorrer. Conformem-se com a poluição, o barulho, os subempregos e a degradação socioambiental, pois é isso que as nossas autoridades desidiosas estão dispostas a manter, mesmo que ao arrepio da lei”, desabafou.

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