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Hoje é sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Arquivamento da investigação pelo MP não garante permanência da Saneouro

Ministério Público de Minas Gerais afirma que não há quaisquer indícios de irregularidade no processo licitatório e que valor da tarifa está dentro das normas legais

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Sobre fundo branco, a logomarca da Agência Primaz, em preto, e a logomarca do programa Google Local Wev, em azul, com linhas com inclinações diferentes, em cores diversasde cores diversas
Praça Tiradentes, em Ouro Preto, ocupada por barracas do movimento Fora Saneouro., com o Museu da Inconfidência à esquerda e casas coloniais ao centro e à direita, ao fundo. À frente, a faixa com os dizeres “FORA SANEOURO”, com o símbolo do cifrão no lugar da letra S
Decisão sobre anulação da concessão cabe ao município - Foto: Ane Souz/PMOP

Na tarde desta terça-feira (20), o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) recomendando o arquivamento da investigação sobre possíveis irregularidades no processo licitatório de concessão do serviço de abastecimento de água e esgotamento sanitário em Ouro Preto. De acordo com o documento, de quase 40 páginas, o MPMG concluiu que não há quaisquer indícios de irregularidade ou ilegalidade para a anulação do contrato de concessão vencido pela empresa Saneouro. O órgão entende que os vícios podem ser resolvidos de outras maneiras, como com a adesão a um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC).

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O parecer vem após meses de investigação que teve como um dos documentos base o Relatório Final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), entregue pela Câmara Municipal de Ouro Preto. O relatório foi um dos produtos dos mais de cinco meses de reuniões e depoimentos colhidos pelos parlamentares em 2021.

Renato Zoroastro (MDB), relator da CPI, afirmou à Agência Primaz que não concorda com certos pontos citados pelo Ministério Público. “Em alguns momentos ele [MPMG] identifica algumas irregularidades, ilegalidades, mas ele diz que os vícios são sanáveis (…), ele entende que é melhor resolver o vício existente do que anular o contrato. Em alguns casos eu, particularmente, discordo do que foi colocado, mas confesso que eu preciso ler todas as 37 páginas”, declarou

O vereador ainda cita uma das irregularidades apontadas pela Comissão que não foi considerada pelo MPMG. “Por exemplo, a ausência da agência reguladora acompanhando todo o processo desde o início, já foi caso favorável de anulação de uma concessão, mas o Ministério Público aqui entende que não. E, pelo que eu pude ler rapidamente, eles consultam a Arisbi. A Arisbi já vem aceitando tudo o que a Saneouro faz em relação ao percentual de hidrometração, ela não ia dar um parecer desfavorável à Saneouro em relação a isso”, afirmou Zoroastro.

A mobilização e comoção social foi um dos pontos citados pelo MPMG, que destacou a importância de uma investigação imparcial e independente. No decorrer de 2021, manifestações, faixas e até um acampamento intitulado “Fora Saneouro”, foram organizados pela população e por militantes para pressionar a saída da concessionária do município.

Manifestantes, tendo um vereador á frente, empunhando bandeira de Ouro Preto, dirigiram-se á Prefeitura Municipal para a entrega oficial do relatório da CPI da Saneouro, em outubro de 2021. Agora, o Ministério Público recomendou o arquivamento da investigação
Vereadores marcharam à frente dos manifestantes até a Prefeitura para entrega do relatório final da CPI da Saneouro - Foto: CMOP

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Questão tarifária também é arquivada

O Ministério Público também pediu o arquivamento da investigação aberta a pedido da Federação dos Moradores de Ouro Preto (Famop). O inquérito civil da 1ª Promotoria de Justiça teve como tratativa a contestação de abuso dos valores aplicados pela Saneouro para prestação de serviços de água.

Em nota enviada à Agência Primaz, a empresa informou que, de acordo com o MP, “os valores das tarifas cobradas pela SANEOURO estão de acordo com os praticados no mercado, sendo que a tarifa social, para famílias com baixo poder aquisitivo, é menor do que a cobrada pela COPASA e pelo serviço municipal de Itabirito”.

A questão tarifária residencial vinha sendo debatida, desde a CPI, por moradores, movimentos populares e vereadores que questionaram os valores praticados pela Saneouro, que foram considerados abusivos por estarem acima da média dos preços tabelados por outras concessionárias em cidades mineiras, como o SAAE de Itabirito.

De acordo com Zoroastro, o alto valor da tarifa já foi requisito de anulação da concessão em outras cidades: “A tarifa é abusiva. As simulações estão sendo feitas. O povo vem reclamando constantemente do valor a ser pago pelo consumo de água (…) Muitas pessoas quando viram o parecer do Ministério Público acabam falando assim: ‘Ah, a Saneouro está correta’. A tarifa é cara. Não sou eu que está falando, é o povo”, comenta o vereador.

O relator da Comissão ainda afirma que não é contra a hidrometração, e que a cobrança promove o acesso democratizado à água.

Sobre o serviço de esgotamento sanitário, Zoroastro também comenta: “É importantíssimo melhorar a condição de saneamento básico na cidade, visto que temos menos de 1% de esgoto tratado, mas diante de todas essas necessidades não podemos cometer atropelos em relação a pagar caro, ou de uma tarifa constituída da maneira como foi e a população pagar o pato”.

Grupo de Trabalho busca alternativas à Saneouro

No último dia 09, o Conselho Municipal de Desenvolvimento Ambiental (CODEMA) e o Conselho Municipal de Saneamento (COMUSA) se reuniram para discutir os rumos dos serviços de água e esgoto em Ouro Preto. O grupo de trabalho é composto por membros da sociedade civil, professores da Universidade Federal de Ouro Preto e representantes da Prefeitura, que estudam alternativas aos serviços prestados pela concessionária.

O foco das pesquisas, no momento está na viabilização do processo de remunicipalização do serviço, alternativa aceita pela quase totalidade dos componentes do GT.

Adriano Gonçalves, coordenador do COMUSA, diz que a remunicipalização “é o caminho mais curto para conseguir a menor tarifa”. Já para o professor e representante da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Jorge Adílio Penna, a cidade “tem condições de assumir, com a tarifa módica, atendendo mais de 10 mil famílias com tarifa social”.

Em declaração à Agência Primaz, Kuruzu informou que o grupo está finalizando o relatório que será entregue ao Prefeito ouropretano como resultado dos estudos e discussões realizadas.

Revisão do Plano Municipal de Saneamento

Durante o encontro conjunto dos Conselhos, Chiquinho de Assis, presidente do COMUSA, pediu o início das tratativas sobre a revisão do Plano Municipal de Saneamento para a próxima reunião, prevista para o início de outubro. Segundo o secretário de Meio Ambiente, a discussão, além de técnica, é também legislativa, sendo necessária a revisão do plano em vigor para a resolução dos problemas envolvendo o saneamento básico da cidade.

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