- Ouro Preto
Arquivamento da investigação pelo MP não garante permanência da Saneouro
Ministério Público de Minas Gerais afirma que não há quaisquer indícios de irregularidade no processo licitatório e que valor da tarifa está dentro das normas legais
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Na tarde desta terça-feira (20), o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) recomendando o arquivamento da investigação sobre possíveis irregularidades no processo licitatório de concessão do serviço de abastecimento de água e esgotamento sanitário em Ouro Preto. De acordo com o documento, de quase 40 páginas, o MPMG concluiu que não há quaisquer indícios de irregularidade ou ilegalidade para a anulação do contrato de concessão vencido pela empresa Saneouro. O órgão entende que os vícios podem ser resolvidos de outras maneiras, como com a adesão a um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC).
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O parecer vem após meses de investigação que teve como um dos documentos base o Relatório Final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), entregue pela Câmara Municipal de Ouro Preto. O relatório foi um dos produtos dos mais de cinco meses de reuniões e depoimentos colhidos pelos parlamentares em 2021.
Renato Zoroastro (MDB), relator da CPI, afirmou à Agência Primaz que não concorda com certos pontos citados pelo Ministério Público. “Em alguns momentos ele [MPMG] identifica algumas irregularidades, ilegalidades, mas ele diz que os vícios são sanáveis (…), ele entende que é melhor resolver o vício existente do que anular o contrato. Em alguns casos eu, particularmente, discordo do que foi colocado, mas confesso que eu preciso ler todas as 37 páginas”, declarou
O vereador ainda cita uma das irregularidades apontadas pela Comissão que não foi considerada pelo MPMG. “Por exemplo, a ausência da agência reguladora acompanhando todo o processo desde o início, já foi caso favorável de anulação de uma concessão, mas o Ministério Público aqui entende que não. E, pelo que eu pude ler rapidamente, eles consultam a Arisbi. A Arisbi já vem aceitando tudo o que a Saneouro faz em relação ao percentual de hidrometração, ela não ia dar um parecer desfavorável à Saneouro em relação a isso”, afirmou Zoroastro.
A mobilização e comoção social foi um dos pontos citados pelo MPMG, que destacou a importância de uma investigação imparcial e independente. No decorrer de 2021, manifestações, faixas e até um acampamento intitulado “Fora Saneouro”, foram organizados pela população e por militantes para pressionar a saída da concessionária do município.
Leia as reportagens da Agência Primaz sobre a CPI da Saneouro
25/05/2021: CPI da Saneouro: vereadores prometem investigar contrato de saneamento e água em Ouro Preto
14/07/2021: Ouro-pretanos fazem passeata contra a privatização da água e pedem “Fora Saneouro”
25/07/2021: CPI da Saneouro completa 2 meses com 6 reuniões, um depoimento e muita polêmica em Ouro Preto
27/08/2021: Caminhada Fora Saneouro reforça mobilização popular contra privatização da água em Ouro Preto
01/09/2021: “A Saneouro não é a melhor solução nem para Ouro Preto, nem para nada”, diz depoente à CPI
14/09/2021: CPI da Saneouro convoca ex-prefeito Júlio Pimenta para depor nesta quinta (16)
28/09/2021: “A população reagia negativamente” à concessão, diz ex-concorrente da Saneouro à CPI
04/10/2021: Relatório parcial da CPI da Saneouro será entregue no dia 7 de outubro
08/10/2021: Em clima de vitória eleitoral, CPI da Saneouro entrega relatório final em Ouro Preto
23/10/2021: CPI da Saneouro termina com deliberações em Ouro Preto
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Questão tarifária também é arquivada
O Ministério Público também pediu o arquivamento da investigação aberta a pedido da Federação dos Moradores de Ouro Preto (Famop). O inquérito civil da 1ª Promotoria de Justiça teve como tratativa a contestação de abuso dos valores aplicados pela Saneouro para prestação de serviços de água.
Em nota enviada à Agência Primaz, a empresa informou que, de acordo com o MP, “os valores das tarifas cobradas pela SANEOURO estão de acordo com os praticados no mercado, sendo que a tarifa social, para famílias com baixo poder aquisitivo, é menor do que a cobrada pela COPASA e pelo serviço municipal de Itabirito”.
A questão tarifária residencial vinha sendo debatida, desde a CPI, por moradores, movimentos populares e vereadores que questionaram os valores praticados pela Saneouro, que foram considerados abusivos por estarem acima da média dos preços tabelados por outras concessionárias em cidades mineiras, como o SAAE de Itabirito.
De acordo com Zoroastro, o alto valor da tarifa já foi requisito de anulação da concessão em outras cidades: “A tarifa é abusiva. As simulações estão sendo feitas. O povo vem reclamando constantemente do valor a ser pago pelo consumo de água (…) Muitas pessoas quando viram o parecer do Ministério Público acabam falando assim: ‘Ah, a Saneouro está correta’. A tarifa é cara. Não sou eu que está falando, é o povo”, comenta o vereador.
O relator da Comissão ainda afirma que não é contra a hidrometração, e que a cobrança promove o acesso democratizado à água.
Sobre o serviço de esgotamento sanitário, Zoroastro também comenta: “É importantíssimo melhorar a condição de saneamento básico na cidade, visto que temos menos de 1% de esgoto tratado, mas diante de todas essas necessidades não podemos cometer atropelos em relação a pagar caro, ou de uma tarifa constituída da maneira como foi e a população pagar o pato”.
Grupo de Trabalho busca alternativas à Saneouro
No último dia 09, o Conselho Municipal de Desenvolvimento Ambiental (CODEMA) e o Conselho Municipal de Saneamento (COMUSA) se reuniram para discutir os rumos dos serviços de água e esgoto em Ouro Preto. O grupo de trabalho é composto por membros da sociedade civil, professores da Universidade Federal de Ouro Preto e representantes da Prefeitura, que estudam alternativas aos serviços prestados pela concessionária.
O foco das pesquisas, no momento está na viabilização do processo de remunicipalização do serviço, alternativa aceita pela quase totalidade dos componentes do GT.
Adriano Gonçalves, coordenador do COMUSA, diz que a remunicipalização “é o caminho mais curto para conseguir a menor tarifa”. Já para o professor e representante da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Jorge Adílio Penna, a cidade “tem condições de assumir, com a tarifa módica, atendendo mais de 10 mil famílias com tarifa social”.
Em declaração à Agência Primaz, Kuruzu informou que o grupo está finalizando o relatório que será entregue ao Prefeito ouropretano como resultado dos estudos e discussões realizadas.
Relembre outras reportagens da Agência Primaz sobre o caso Saneouro
13/01/2022: Saneouro apresenta relatório com hidrometração que permite a cobrança de água pelo consumo em Ouro Preto
07/06/2022: Saneouro aciona Prefeitura de Ouro Preto na Justiça, em ação de R$80 mil
21/06/2022: “Já tive dúvidas se o prefeito queria tirar a Saneouro”, diz vereador de Ouro Preto
02/07/2022: Vereadores de Ouro Preto criticam homenagem a coordenador da Saneouro: “Um absurdo”
21/07/2022: Saneouro tenta, na Justiça, cobrar água pelo consumo em Ouro Preto
21/07/2022: Saneouro comunica corte de água para quem impediu hidrometração em Ouro Preto
26/07/2022: Saneouro perde na Justiça e não pode cobrar água pelo consumo em Ouro Preto
17/08/2022: Moradores de Santa Rita impedem instalação de hidrômetros da Saneouro: “Não vamos aceitar”
Revisão do Plano Municipal de Saneamento
Durante o encontro conjunto dos Conselhos, Chiquinho de Assis, presidente do COMUSA, pediu o início das tratativas sobre a revisão do Plano Municipal de Saneamento para a próxima reunião, prevista para o início de outubro. Segundo o secretário de Meio Ambiente, a discussão, além de técnica, é também legislativa, sendo necessária a revisão do plano em vigor para a resolução dos problemas envolvendo o saneamento básico da cidade.