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Hoje é segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Após invasão e furto, integrantes de moradias estudantis da UFOP, em Mariana, relatam medo e cobram medidas da universidade

Uma das repúblicas do Conjunto I, conhecido como Moitas, foi furtada na semana passada.

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Sobre fundo branco, a logomarca da Agência Primaz, em preto, e a logomarca do programa Google Local Wev, em azul, com linhas com inclinações diferentes, em cores diversasde cores diversas
Fachada recoberta com tijolinhos de uma das moradias estudantis da UFOP, pertencente ao Conjunto I, conhecido como Moitas
Casas são importantes pontos de assistência a alunos da UFOP em Mariana - Foto: Divulgação/UFOP

Na noite de quinta-feira (28) da semana passada, um homem invadiu o Conjunto I (Moitas) de moradias estudantis da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), em Mariana, e furtou o cartão de crédito de uma das moradoras do local. O episódio realçou a situação de insegurança vivida pelos alunos que compõem o quadro de repúblicas federais da instituição na Primaz de Minas.

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Segundo relatos de moradores da República Zona, espaço que foi invadido, o homem chegou por volta das 18h30 do dia 28 de setembro, furtou um cartão de crédito e fez compras no valor de R$750. Além disso, o rapaz quase levou a bicicleta de uma outra estudante, mas foi impedido antes de fugir. Ao ser flagrado por dois residentes, o intruso afirmou que estava se escondendo da polícia e que não estava armado, deixando o local sem levar nenhum outro objeto da casa consigo. Posteriormente, os moradores registraram Boletim de Ocorrência na Polícia Militar.

De acordo com os alunos, o homem conseguiu chegar às Moitas através do caminho que liga o local ao Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS), que é desprovido de iluminação, proteção e equipamentos para os guardas responsáveis.

Foi também por esse trajeto que, conforme os moradores, outros atos aconteceram nos últimos anos. Segundo Marco Sávio, Bacharel em História pela UFOP e morador da República Zona entre 2010 e 2014, a situação se repete ao longo dos anos e não é modificada. Em conjunto de relatos encaminhados à imprensa, os moradores contaram algumas experiências negativas vividas no espaço, como relembra Marco Sávio. “Quando eu cheguei na Zona, tinha um maníaco que ficava escondido nessa mata. Nenhuma mulher podia andar sozinha e, dependendo do menino, se fosse mais magro e menor, ele atacava. Saía do meio do mato pelado e, literalmente, pulava em cima de pessoas sozinhas voltando da aula à noite. A gente se juntou em três casas, e fizemos uma busca no mato, todos juntos, até as mulheres, e encontramos um “altar” que ele fez com calcinhas roubadas (…) É terrível ter que passar por isso!”, revelou.

Insegurança e omissão

Localizado na rua Dom Pedro II, no bairro Chácara, em Mariana, o Conjunto I (Moitas) abriga 84 estudantes dos campi da UFOP em Mariana, divididos em sete casas, classificados por avaliação socioeconômica. No entanto, a vida de quem mora no local não é fácil. Além da insegurança física causada pelos recorrentes episódios de invasões e furtos, a situação impacta negativamente na saúde mental e nos estudos dos moradores.

Milena Amarante, que já está na reta final do curso de Pedagogia e mora na República Zona, comentou como esses problemas influenciam em sua vida acadêmica. “Atualmente, estou cursando o 8° período, escrevendo meu TCC e fazendo estágio. Gostaria que, neste momento, a minha única preocupação fosse a escrita deste trabalho e meu estágio (…) É desgastante e frustrante, ter que sair da minha cidade, mudar minha vida, criar expectativas, para vir estudar, morar em uma moradia socioeconômica e não poder ter meus estudos como prioridade, porque essas inseguranças abalam o meu psicológico e me desmotivam”, desabafou.

Outros problemas também afetam os moradores das Moitas. Atualmente, algumas casas contam com condições estruturais precárias, como rede elétrica antiga, mofo nos cômodos e caixa d’água de amianto. Essas situações, inclusive, inviabilizam a chegada de novos moradores, já que alguns quartos estão interditados. Os alunos também sofrem com a cobrança das taxas de energia elétrica, que não são quitadas de forma integral pela UFOP. Em setembro de 2021, uma das repúblicas chegou a ter a luz cortada por falta de pagamento, já que os alunos, naquele momento, não possuíam condições financeiras. A partir da ajuda de terceiros, a quantia necessária foi atingida, e a energia elétrica religada pela Cemig.

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A UFOP afirma que, durante a pandemia, a universidade realizou o pagamento integral em razão do aumento da vulnerabilidade social entre os estudantes. Como os Restaurantes Universitários não voltaram a funcionar imediatamente após o retorno presencial, havia orçamento disponível e o pagamento continuou a ser feito pela UFOP até março de 2022.

Porém, em julho deste ano, foi aprovada a Resolução Cuni 2.569, que definiu o compartilhamento do pagamento das taxas de energia elétrica entre os integrantes das moradias estudantis e a UFOP, ficando a instituição responsável pelo pagamento da taxa mínima de consumo, com valor de repasse a cada casa definido a partir da média de ocupação.

De acordo com os moradores, a Universidade Federal de Ouro Preto se mostra negligente com os acontecimentos, já que alguns problemas vêm sendo discutidos desde 2018, mas pouca coisa mudou até o momento. Os alunos explicam que diversos requerimentos já foram feitos, sem sucesso, através do portal da faculdade na internet.

Em reunião realizada com os moradores, em 13 de setembro, a UFOP se comprometeu a iniciar os reparos nas casas a partir de 5 de novembro. Os moradores das casas, no entanto, cobram que as reformas sejam de fato efetivas e resolvam os problemas. Segundo eles, as intervenções feitas pela faculdade no espaço costumam ser meras “maquiagens”.

O que diz a UFOP?

Em contato com a reportagem da Agência Primaz, a Universidade Federal de Ouro Preto se colocou ciente quanto à invasão e o furto ocorridos no dia 28 de setembro. A instituição informou que existe um planejamento para que o Conjunto de Moradias I seja cercado o quanto antes. acrescentando que o projeto para a obra já está pronto, mas sem fornecer detalhes da previsão de início da intervenção.

No entanto, a ação é vista com preocupação por grande parte dos moradores das Moitas. Os estudantes temem que a medida resulte no fechamento do caminho que liga o Conjunto I ao ICHS, considerado um atalho positivo para os moradores que realizam a graduação no instituto. O pedido feito pelos habitantes das repúblicas é que o caminho seja devidamente iluminado e conte com maior aparato de segurança, para que se torne um trajeto útil e tranquilo.

À Agência Primaz, a UFOP revelou que o tema tem sido debatido entre a Prefeitura do Campus e o ICHS, e que o fechamento do caminho ainda não foi definido.

Moradias estudantis da UFOP

Atualmente, a UFOP conta com cinco conjuntos de moradias estudantis, sendo três em Ouro Preto (Apartamentos, Vilas Universitárias e Repúblicas Federais), e duas em Mariana (Conjunto I – Moitas e Conjunto II – Catetão). A universidade abre editais específicos, a cada período, para alunos em condições de vulnerabilidade econômica. Além do acesso aos espaços, os estudantes classificados recebem, mensalmente, bolsa de auxílio financeiro, com valores entre R $200 e R $400.

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