- Ouro Preto
Populares usam Tribuna Livre para denunciar ações da Guarda Civil de Ouro Preto
Vereadores acusam movimento social de impedir o diálogo com manifestantes
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Um dia depois de participarem do ato público ocorrido nessa quarta-feira (19), moradores de Ouro Preto compareceram ao Plenário da Câmara Municipal exigindo o posicionamento da Casa frente às violências cometidas pela Guarda Civil Municipal. Com o uso da Tribuna Livre, os manifestantes narraram as vivências da noite anterior, rebatendo informações dadas pela Prefeitura em nota publicada nos canais de comunicação.
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Segundo os populares, não houve quaisquer danos ao patrimônio público pelos manifestantes e o ato permanecia pacífico até a chegada da guarda. Em entrevista à Rádio Real FM, o prefeito de Ouro Preto, Angelo Oswaldo (PV) se pronunciou declarando haver um “pequeno grupo” em meio aos manifestantes que teria vandalizado “portas, móveis, cadeiras, destruindo o nosso auditório, ameaçando os servidores municipais, os representantes do governo, tentaram vandalizar carros de pessoas ligadas à administração”. Segundo o Chefe do Executivo, para salvaguarda do patrimônio público, a guarda teria sido acionada para retirada dos participantes do ato.
A 68ª reunião ordinária também foi marcada pelo destrancamento da pauta, após o comparecimento do Secretário de Governo, Yuri Borges Assunção, à reunião realizada nessa terça-feira (18), em Miguel Burnier. O secretário representou o prefeito Angelo Oswaldo na sessão, assumindo o compromisso de abertura do processo de anulação do contrato de concessão firmado com a empresa Saneouro. Com a presença do secretário, a Câmara retomou os debates das pautas vindas do executivo.
Em vídeo publicado nas redes sociais do Legislativo, o presidente Luiz Gonzaga (PL) anunciou que os vereadores estão, desde o início do mandato, traçando alternativas para o serviço de abastecimento de água e esgoto. “O povo está à flor da pele, exaltado com o problema da Saneouro e a gente está caçando caminhos para que a gente resolva com diálogo essas coisas”, salientou Gonzaga.
Vereadores e secretários reclamam da falta de diálogo com movimento popular
Durante a sessão da Câmara, moradores que participaram da manifestação de ontem reclamaram da ausência de vereadores durante o ato, uma vez que apenas o vereador Júlio Gori (PSC) compareceu à manifestação. “É uma covardia, vocês tinham que estar lá”, reclamou Vicente Juliano, morador do Morro da Queimada.
Na tarde do ato, o Secretário de Governo de Ouro Preto declarou, em entrevista, que pediu por inúmeras vezes o direito de uso da palavra para reagendamento da manifestação para uma data em que o prefeito estivesse presente, como requerido pelos populares, mas só conseguiu expor o posicionamento da Prefeitura durante a noite, momentos antes da entrada da guarda ao prédio.
Júlio Gori relatou que pediu o uso do microfone, mas que a solicitação foi negada. Gori denunciou que um membro do movimento só o deixaria falar se ele doasse alimentos e água aos manifestantes que tinham interesse em pernoitar no prédio. O vereador disse à Primaz que acredita que o impedimento de fala se deu porque “o grupo que organizou não são tão sociáveis (sic), não querem debater, fazer união com outros grupos, com prefeitos, com vereadores, com ninguém“.
Marcos Calazans, membro do Comitê e liderança presente na manifestação, explicou à Agência Primaz que a organização popular está sempre aberta ao diálogo, e que “em momento oportuno, que a comunidade decidiu dar a palavra”, os secretários puderam se manifestar. Segundo Calazans, o fato de o movimento não ter envolvimento político, faz com que vereadores, de situação e oposição, não aceitem o Comitê. “Ficam tentando criminalizar a luta do comitê sanitário, dizendo que é uma organização radical”, salientou o representante.
No Plenário, os vereadores reforçaram a importância das manifestações populares, apoiando a intensificação dos atos. Para os legisladores, um racha entre os movimentos divide os esforços ao invés de complementar o debate, deslegitimando os avanços feitos pela Câmara, como a instauração da CPI em 2021, e as ações em andamento da Prefeitura.
À nossa reportagem, Júlio Gori argumentou que já havia discutido com membros do grupo social, em outras ocasiões, por descredibilizarem os trabalhos do Legislativo e do Executivo frente à população ouropretana.
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Manifestantes denunciam truculência da Guarda Civil
Maria da Penha, de 73 anos, usou a tribuna para relatar sua experiência na manifestação. A idosa precisou de atendimento médico na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) devido a irritações na garganta e falta de ar após ter sido atingida pelo spray de pimenta utilizado pela Guarda. Além dela, pessoas também relataram terem se dirigido à unidade de atendimento após a inalação do gás. “Nunca presenciei uma cena tão estarrecedor como vi ontem, de colocar pessoas para agredir nosso povo“, manifestou outra moradora.
Geovanni Mapa, ex-vereador de Ouro Preto, que já trabalhou na Guarda Civil, também fez uso da Tribuna Livre e apontou o uso desproporcional de força pela corporação. “Foi uma barbárie, uma ação despreparada, sem comando”, pontuou.
Ainda segundo ele, os guardas colocaram em risco a vida dos manifestantes, com o uso do spray de pimenta em local fechado. De acordo com especialistas, o uso do artefato em ambiente interno, ou por longos períodos de tempo, pode causar queimaduras e obstruções respiratórias, com risco que podem levar ao óbito.
Referindo-se ao modo como foi encerrada a ocupação na Prefeitura, o vereador Júlio Gori afirmou que “foi um reflexo do que está por vir“. Assim como ele, outros vereadores discutiram a possibilidade de intensificação de violência nas manifestações, quando os cortes do abastecimento de água começarem a ocorrer devido à falta de pagamento.
Comissão Municipal de Direitos Humanos vai apurar possíveis abusos na ação da Guarda Civil Municipal
“Não há dúvidas que houve excessos por parte da guarda“, afirmou o vereador Wanderley Kuruzu (PT), presidente da Comissão Municipal de Direitos Humanos, ressaltando que o secretário Yuri Borges, não havia concordado com a entrada da Guarda Civil no auditório da Prefeitura.
Durante a sessão na Câmara, os vereadores concordaram com a publicação de uma nota de repúdio à situação ocorrida na véspera, ficando a Comissão de Direitos Humanos encarregada de fazer a averiguação se houve ou não abuso no uso de força por parte da Guarda.