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Hoje é sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Assinatura de Termo de Compromisso termina com críticas à conduta da Fundação Renova

“A Renova acha que pode comprar todo mundo. Mas a mim não”, afirma moradora atingida pelo rompimento da barragem de Fundão

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Sobre fundo branco, a logomarca da Agência Primaz, em preto, e a logomarca do programa Google Local Wev, em azul, com linhas com inclinações diferentes, em cores diversasde cores diversas
Prefeito, Procurador de Mariana e diretores da Fundação Renova, durante coletiva de imprensa
Mesa diretora do evento de assinatura do termo de compromisso, com a presença do prefeito interino de Mariana, Ronaldo Bento e Israel Quirino, Procurador do Município de Mariana, juntamente com diretores da Fundação Renova – Foto: Divulgação/Fundação Renova

Nessa quarta (19), um encontro entre representantes da Administração Municipal de Mariana e da Fundação Renova, terminou com intervenção dos atingidos pelo crime ambiental da empresa Samarco, que destruiu Bento Rodrigues em 2015 e desalojou centenas de famílias após o rompimento da Barragem do Fundão. Na manifestação, os atingidos fizeram fortes críticas sobre como a Renova está conduzindo as obras do novo Bento Rodrigues. O evento, com o objetivo da assinatura de Termo de Compromisso, para que o Poder Público assuma, a partir de agora, os serviços essenciais do reassentamento de Bento Rodrigues, teve a participação da imprensa regional e estadual, convidada também para uma visita à construção do reassentamento destinado aos atingidos de Bento Rodrigues, em área localizada a aproximadamente 12km do centro de Mariana.

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Muitos estão cansados, aceitando dinheiro e ficando na cidade. A Renova compra as pessoas”, diz Sandra Quintão, dona de um antigo comércio no Bento Rodrigues, e que hoje, relata como a Renova está tratando o seu caso. “Eu quero retornar com meu restaurante, já me ofereceram dinheiro para não voltar, mas eu quero voltar”, afirma Sandra.

A atingida ressalta que seu maior desejo é retomar seu trabalho e um pouco de como era sua vida no Bento Rodrigues original, mas que “para a Renova é só dar dinheiro e está feito, ela não sabe que a gente tem história. Eu quero seguir minha história, eu quero o Bar da Sandra, quero de volta meu emprego”.

Atingida, rodeada por repórteres, faz declaração durante evento da Fundação Renova
Sandra Quintão, uma das atingidas que fizeram intervenção no evento, acusou a Fundação Renova de ignorar a história dos atingidos e tentar resolver tudo à base do dinheiro – Foto: Reprodução/Vídeo Território Notícias

Estágio atual do reassentamento de Bento Rodrigues

De acordo com a Renova, a obra está em processo de conclusão, para que, no início de 2023, já seja iniciada a mudança efetiva dos atingidos que estão em Mariana, morando de aluguel pago como indenização. São 71 casas construídas e 83 ainda em construção, De acordo com a Renova, ainda existem oito residências em fase inicial de obras das edificações principais, mas não forneceu detalhes sobre as demais 34 para completar o número de 196 famílias que optaram por morar no reassentamento.

Postos de Saúde e de Serviços, Escola Municipal e Estação de Tratamento de Esgoto já foram concluídos, além das vias, drenagem, energia elétrica e as redes de água e esgoto do local. Segundo a Renova, todo o projeto, desde a sua criação até o momento, foi desenvolvido em conjunto com os atingidos. Com o processo avançando, ainda existem questionamentos de como tudo foi conduzido e quando será a conclusão dessa história.

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Vista atual do reassentamento de Bento Rodrigues
Vista atual do reassentamento de Bento Rodrigues – Foto: Divulgação/Fundação Renova

Para Mauro Marcos, vice-presidente da Associação de Moradores de Bento Rodrigues, “o processo começou a ser participativo em 2016, quando elencamos todos os pontos cruciais para que retomássemos principalmente a atividade agrícola e pecuária que o local de origem fornecia pra gente”.

Entretanto, após a realização de reuniões com a Renova o caminho seguido foi outro no momento das decisões em conjunto entre a Renova e moradores. Mauro afirma que “ofereceram três terrenos para votação, escolhemos então o ‘menos pior’, era o que tinha a melhor possibilidade de atender nossas expectativas. Porém, quando a Fundação Renova licenciou o terreno, fizeram o projeto sem levar em consideração o que levantamos quando fizemos as oficinas no início em conjunto com eles”.

Até hoje, chegamos a esse ponto de vir em uma coletiva de imprensa sem sequer ter sido mencionados, sem ter sido comunicados pela Renova, em um momento que vai tratar de algo que diz respeito primeiramente aos atingidos, que são as vítimas de um crime que precisa ser reparado” enfatiza Mauro.

A Fundação Renova se pronunciou por meio de nota oficial após a manifestação dos atingidos ao final da coletiva de imprensa:

“A Fundação Renova esclarece que o novo distrito foi desenhado com a participação ativa de seus futuros moradores, seguindo as melhores práticas. Desde a escolha do terreno até a aprovação do projeto urbanístico do novo bairro, todas as etapas foram debatidas, alinhadas e decididas pelo conjunto das pessoas envolvidas em Bento Rodrigues. A aprovação do projeto pela comunidade envolveu mais de 70 revisões da proposta, com reuniões semanais entre 2016 e 2017, além de 23 oficinas entre 2017 e 2018.

Cada casa tem um projeto arquitetônico e construtivo individual e exclusivo, que considera as expectativas e necessidades de cada família, e a obra só começa após a aprovação final do desenho pelos futuros moradores. O tempo transcorrido desde o rompimento é longo, mas o trabalho respeitou a necessidade de amplo diálogo com os moradores, autoridades públicas, Ministério Público, poder judiciário, comissões e assessorias técnicas”.

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