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Hoje é segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Entre conquistas e desafios, APAE de Ouro Preto completa 40 anos

Câmara Municipal de Ouro Preto faz Audiência Pública em homenagem à instituição e alunos reivindicam melhorias

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Sobre fundo branco, a logomarca da Agência Primaz, em preto, e a logomarca do programa Google Local Wev, em azul, com linhas com inclinações diferentes, em cores diversasde cores diversas
FAchada do prédio da APAE de Ouro Preto
Fachada principal do prédio da APAE, construído há 40 anos, com ajuda do Lions Club - Foto: Marcelo Gonçalves/Agência Primaz

No dia 16 de novembro, a Câmara Municipal de Ouro Preto realizou Audiência Pública em homenagem ao aniversário da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE). Com a participação de grande parte dos alunos e funcionários da instituição, a cerimônia foi presidida pelo vereador Matheus Pacheco (PV).

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Entre os convidados especiais, estiveram presentes o presidente da associação Ednardo Teixeira Leão; a Secretária de Educação, Débora Cruz; a diretora Mara Regina Guimarães; a vice-diretora Rosilene Valentim, e o representante do Lions Clube de Ouro Preto, Frank Morais.

Audiência pública da Câmara de Ouro Preto prestou homenagem à APAE
Audiência Pública, realizada na Câmara Municipal, teve ampla participação no plenário - Foto: Marcelo Gonçalves/Agência Primaz

Em seu pronunciamento, o presidente da associação ressaltou que somente quem é próximo de uma criança com necessidades especiais sabe o quão diferente é a rotina. Por isso a importância da APAE na cidade, já que somente ela pode dar apoio e condições dignas a pessoas nessas condições.

Alunos da APAE pedem melhorias

Durante a sessão, os alunos aproveitaram a oportunidade para agradecer e pedir melhorias para o prédio da instituição e recursos financeiros, além de transporte e calçamento de vias nos distritos para que possam ter melhores condições de deslocamento para a sede da APAE. Mateus Carvalho, que frequenta a APAE há 18 anos, fez apelo à Câmara Municipal para angariar fundos para a construção da cobertura da quadra, porque muitas vezes as bolas caem nas casas vizinhas e, em determinadas ocasiões, não há como fazer a recuperação imediata. Também solicitou melhorias no estacionamento em frente ao prédio da escola, porque o aumento do trânsito na rua é perigoso para seus colegas.

Cíntia, pediu melhorias nas estradas nos distritos de Santo Antônio do Salto e Santa Rita porque, quando chove, o transporte não tem como ir, e todos ficam sem vir à escola. Ela aproveitou para falar sobre sua experiência na APAE: “Quando entrei na APAE, entrei num lugar que eu era respeitada, aprendi o que fazer e não fazer. Sou muito grata”.

Diego Martins, aluno e representante da instituição, falou à Agência Primaz sobre a instituição. “Estudo na APAE de Ouro Preto há mais de dez anos, e o que acontece? Eu tenho orgulho de vestir a camisa da APAE, porque ela me ajudou em termos de aprendizagem, respeito. Eu não conseguiria nada sem o apoio e persistência dos professores, amigos, sem a APAE. Se eu não tivesse a APAE na minha vida hoje, eu não seria quem eu sou”.

Diego também lembrou das dificuldades que passou, e que ele ainda acha que precisa de muita luta para conseguir melhorias.

Iran, outro aluno da instituição, acrescentou que, “na APAE, a gente se sente como se fosse nossa casa mesmo. Nós temos os nossos costumes também, a gente é bem acolhido lá”.

Uma jovem instituição com longo histórico de lutas

A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Ouro Preto foi fundada em 17 de novembro de 1982, nascendo da necessidade da comunidade ouro-pretana em amparar crianças, jovens e adultos com deficiência intelectual e múltipla. Na ocasião de sua inauguração, foi denominada como APAE Farmacêutico Hélio Harmendani, em homenagem ao seu fundador, tendo como objetivo principal a integração e orientação de pessoas com deficiências, que são atendidos em três turnos, de segunda a sexta-feira.

De início, contava apenas com duas professoras especializadas e quatro voluntários. Com o passar dos anos, necessitou aumentar o número de funcionários, passando a estabelecer convênios com órgãos públicos para obtenção de recursos para manutenção.

No final de 2011 ela se tornou escola, sendo hoje Escola Especial Dr. Hélio Harmendani, que atende hoje a Educação Infantil, Ensino Fundamental I e Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Atualmente a APAE de Ouro Preto tem 225 alunos, contando, em seu quadro de trabalhadores, 33 funcionários cedidos pela rede estadual de ensino, 7 cedidos pelo município e 33 contratados, tendo 98% de seu funcionamento custeado pela Prefeitura Municipal, que repassa os recursos para os gastos mensais. Além dos recursos municipais, a organização não governamental possui parcerias com o Governo do Estado de Minas Gerais.

De acordo com Rosilene Valentim, conhecida como Rosa, pedagoga e vice-diretora que trabalha na instituição há quase 24 anos, a APAE sobrevive de doações da comunidade de emendas parlamentares. “Desde quando entrei aqui, a escola era muito pequena, a falta de recursos é muito grande, é um grande desafio. Então, a luta para a instituição sobreviver todos os dias é buscando recursos através de editais para a manutenção durante o ano, durante a vida dela. Criamos projetos, campanhas e eventos, para arrecadar fundos para a manutenção, pois é uma associação que vive de doações”, explicou.

Sala de computadores da APAE conta com equipamentos adaptados às necessidades dos alunos
Sala de informática facilita acesso dos alunos ao mundo digital, inclusive com alguns equipamentos adaptados para utilização por grupo específico de alunos - Foto: Marcelo Gonçalves / Agência Primaz

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Rosa ingressou na APAE em 1999, como professora regente de turma. Após concluir a graduação em pedagogia, em 2003, assumiu a supervisão do instituto. “Estou aqui há quase 24 anos, me envolvi muito com os problemas dos alunos. A gente entende que são muitos problemas sociais, e eu engajei muito na causa”, declarou a vice-diretora à Agência Primaz.

Frequentando, inicialmente, o Conselho da Criança e do Adolescente como aprendiz, Rosa conseguiu inscrever a APAE no órgão, e hoje a instituição tem representantes em quase todos os conselhos, possibilitando a apresentação de demandas e anseios da APAE. “As salas são todas estruturadas e com material pedagógico. Temos a piscina, que também foi um projeto que eu idealizei, teve um apoio da  Hexágono Engenharia, que ajudou a terminar a piscina. Várias obras aqui dentro da APAE foram realizadas com projetos”, destaca Rosa.

A vice-diretora acrescenta que, mesmo possuindo enorme apoio do município e do Estado, o recurso financeiro ainda é pequeno. “Precisamos ainda melhorar muito, ainda temos muitas coisas para construir aqui. Então, é uma luta constante a cada dia. É buscar apoio para os alunos, apoio da rede para ajudar no atendimento clínico desses meninos, porque não temos ainda a parte clínica dentro da APAE”.

Pátio interno coberto, da APAE, com piso antiderrapante e rampas de acesso
Pátio interno coberto possui piso antiderrapante e rampas de acesso - Foto: Marcelo Gonçalves/Agência Primaz

Desafios durante a pandemia

Em 17 de março de 2020 a APAE paralisou temporariamente as atividades. De início, como todos, não entendiam que era algo tão grave que afetaria todo o mundo. A pandemia da Covid-19 afetou fortemente a instituição, uma vez 80% dos alunos são de renda familiar baixa, causando grande impacto no bem-estar, desenvolvimento e evolução.

Rosa Valentim, com a ajuda do motorista da instituição, da secretária e da diretora Mara Guimarães, trabalhou incansavelmente todos os dias. “Nós ficamos aqui dentro dois anos, todos os dias, trabalhando, fazendo campanhas, pedindo cesta básica, doação de máscara, álcool em gel, roupas. Tudo que as famílias estavam com necessidade. E com a crise de desemprego que começou a surgir com o passar do tempo, as famílias dos alunos da APAE, começaram a ficar mais vulneráveis do que já eram”, afirmou.

Segundo Rosa, mais de 6 mil cestas básicas, além de roupas, produtos de higiene pessoal, medicação, foram entregues nesse período, através de ajuda da comunidade, dos órgãos públicos e empresas.

Oficinas, projetos e planos futuros da APAE

Durante o ano letivo, a instituição conta com um programa chamado Escola de Pais, um curso de capacitação orientado e supervisionado pela Federação das APAE’s de Minas Gerais. De acordo com Valentim, o curso é constituído por módulos que dão orientação de direitos e deveres aos pais.

Dois alunos da APAE, um deles em cadeira de roda, participam de oficina de artesanato em sala da APAE destinada à atividade específica
Sala de recreação e artesanato - Foto: Marcelo Gonçalves / Agência Primaz

Além da capacitação, são oferecidas oficinas de artesanato para pais e alunos. Rosa ressalta que, até 2019, muitas oficinas contavam com apoio de professores e alunos da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), mas, nesse ano não foram realizadas oficinas com as famílias, assim como não houve o retorno da Escola de Pais, devido à necessidade de reestruturação da estrutura e obtenção de apoio financeiro.

Nesta sexta-feira (02 de dezembro), às 19h, no Centro de Artes e Convenções da UFOP, acontece a apresentação do trabalho que alunos e professores desenvolveram durante o ano, contando a história dos 40 anos de implantação da APAE em Ouro Preto.

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