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Hoje é sábado, 23 de novembro de 2024

Comunidade substitui Poder Público e faz mutirão para recuperar estrada vicinal

Moradores da localidade Alto de Campinas usam pneus, estacas e terra para conter erosão em estrada.

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Pneus, pedras e terra foram os materiais utilizados no mutirão pelos moradores para consertar a estrada
Pneus, pedras e terra foram os materiais utilizados pelos moradores para consertar a estrada – Foto: Luiz Loureiro/Agência Primaz

Cansados de esperar providências da Prefeitura de Mariana, moradores da localidade Alto de Campinas, pertencente ao distrito de Águas Claras, colocaram mãos à obra e improvisaram uma contenção com pneus, pedras, estacas e terra, para conter a erosão que impedia o tráfego normal na estrada. O trabalho foi realizado ao longo de seis horas, poucos dias antes do Carnaval, mas a situação do trecho ainda é precária, principalmente em virtude do período de chuvas, que normalmente dura até meados de março.

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Pelo WhatsApp, na terça-feira (14) anterior ao Carnaval, a Agência Primaz recebeu áudios, fotos e vídeos da ação empreendida na estrada. Segundo as informações preliminares, a estrada vinha sofrendo erosão há muitos meses, agravada ainda antes das chuvas de dezembro e janeiro, permitindo apenas o tráfego de veículos pequenos e impedindo que veículos como caminhões pudessem transitar pelo local.

De acordo com os áudios recebidos, a Prefeitura de Mariana já havia sido notificada, mas nenhuma providência havia sido tomada, exceto uma visita ao local.

Na ausência de providências da Administração Municipal, alguns moradores se reuniram, conseguiram a doação de pneus na Casa da Borracha, em Mariana, e a doação de estacas e cessão de uma retroescavadeira pertencente a um comerciante do distrito de Águas Claras e, em aproximadamente seis horas de trabalho, conseguiram solucionar o problema, mesmo que provisoriamente.

Mutirão foi a solução encontrada, devido à falta de iniciativa da Prefeitura

Prefeitura não faz, a comunidade teve que se reunir ‘pra’ fazer. O Lulu emprestou a máquina, aí a galera ‘tá’ trabalhando com a gente aí, ‘tá’ vendo? ‘Pra’ tampar o buraco aqui. Que infelizmente a Prefeitura de Mariana, incompetente como é, não ajuda em nada a comunidade de Campinas (…). É vergonhoso a Prefeitura de Mariana, viu? Não faz nada pela comunidade de Campinas”, desabafa o autor do vídeo.

O Lulu mencionado é Luiz França Carneiro, comerciante em Águas Claras, que emprestou gratuitamente a retroescavadeira, cedeu o operador, pagou o combustível, e ainda doou estacas para a fixação dos pneus.

A retroescavadeira emprestada por um comerciante do distrito de Águas Claras para a realização do mutirão
A retroescavadeira emprestada para o serviço é utilizada por Lulu em seu comércio de materiais de construção – Foto: Luiz Loureiro/Agência Primaz

Durante a execução do trabalho, a máquina ainda foi utilizada para quebrar uma grande pedra que poderia rolar pelo barranco e atingir uma residência situada abaixo do local da erosão, mas uma parte dela ainda permanece no local, reduzindo a largura da estrada.

Aspecto final do trecho da estrada onde a comunidade realizou o mutirão para contenção da erosão
Aspecto final do trecho da estrada onde a comunidade realizou o serviço de contenção da erosão – Foto: Luiz Loureiro/Agência Primaz

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Moradores criticam o descaso da Prefeitura

Na segunda-feira (20) de Carnaval, a reportagem da Agência Primaz se deslocou até a localidade do Alto de Campinas, distante 36km da sede do município de Mariana, onde entrevistou Luan Henrique Prudêncio, morador do local e integrante da equipe do mutirão.

Bem antes disso [período das chuvas] já estava desmoronado, há muito tempo. Mais ou menos de um ano ‘pra’ cá começou a acontecer a abertura daquele buracão ali. Desce muita água ali e a gente começou a correr atrás da autoridade, ‘pra’ arrumar, tirar aquela pedra enorme ou só ‘pra’ quebrar um pedaço dela, né? ‘Pra’ alargar um pouquinho a estrada. Eles vieram uma vez, só ‘pra’ olhar, mas mesmo assim não houve atividade nenhuma no local”, declarou Luan.

Essa informação sobre a ida de pessoas da Prefeitura ao local foi confirmada por José da Cruz que, juntamente com Eli Domingos de Castro, foi um dos idealizadores do mutirão. Segundo José da Cruz, no final de novembro, o então prefeito interino Ronaldo Bento esteve no local, acompanhado do secretário de Transportes e Estradas Vicinais, Márcio Roberto de Oliveira, conhecido como Bola.

Em mensagem de voz encaminhada a José da Cruz, o secretário informou ter ido ao local e ter sido encarregado, por Ronaldo Bento, de estudar a solução do problema junto com a equipe da Secretaria de Obras. Entretanto, de acordo com o morador, nenhuma providência foi tomada e o problema foi se agravando, com o aumento da erosão, até que o trecho se tornou impraticável para o tráfego de veículos de maior porte que os de passeio, impedindo a plena mobilidade dos moradores do local.

Nós, da comunidade aqui do Alto de Campinas, nós precisamos colocar a mão na massa ‘pra’ fazer, porque senão a gente estava até hoje sem estrada”, declarou Luan, reclamando que a Prefeitura sempre promete ajuda, mas nunca cumpre as promessas.

O problema do isolamento, segundo os moradores, é ainda mais grave, uma vez que a outra opção de ligação com a sede do município é muito problemática, e só poderia ser feita pela chamada Estrada da Mata, que além de estar em situação precária, exige um deslocamento muito maior, cia distrito de Cláudio Manoel – distante 46km do centro de Mariana – e ainda tem o inconveniente de passar por uma propriedade particular, cujo dono não é muito amigável.

Tem outra saída, mas precisa arrumar também. Essa estrada aqui, que a gente chama de Estrada da Mata, por cima vai ‘pra’ Cláudio Manoel, e ‘pra’ baixo vai ‘pra’ Barra Longa. Só que lá, o senhor Zé Carlos não está deixando passar mais. Então, a principal via nossa é essa aqui, por onde a gente vai ‘pra’ Campinas, Águas Claras, e daí ‘pra’ qualquer outro lugar”, relatou Luan.

De acordo com José da Cruz, o desinteresse da administração municipal chegou ao ponto de ter recebido uma resposta negativa quando procurou ajuda para levar os pneus, obtidos por doação, para o local, sob a alegação de que a Prefeitura não poderia ceder o caminhão para o transporte. “Tive que pagar quatrocentos reais, do meu bolso, para levar os pneus”, desabafou o morador.

Confira, nas imagens abaixo, o andamento do mutirão realizado e, ao final, fotos da situação do local, que ainda demanda um serviço de manutenção para a retirada da lama e colocação de cascalho, o que já foi pedido à prefeitura, mas sem nenhuma sinalização de atendimento até o momento.

Prefeitura não responde aos questionamentos

Antes mesmo de visitar o local, a reportagem da Agência Primaz tentou obter informações sobre a reclamação dos moradores do Alto de Campinas. Em rápido contato telefônico com o secretário de Transportes e Estradas Vicinais, ficou acertado que os questionamentos seriam encaminhados, por e-mail, via Assessoria de Comunicação.

A mensagem, encaminhada na quinta-feira (16) anterior ao Carnaval, questionava as razões para o não atendimento da demanda, bem como pedia informações sobre a existência de estudos e providências em andamento, inclusive por parte da Secretaria de Obras, mas nenhuma resposta foi obtida até o momento de publicação desta reportagem.

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