- Região dos Inconfidentes
“Não adianta só chocolatezinho e dar parabéns”: manifestações marcam 8M em Ouro Preto
Atos convocados por organizações populares e movimentos estudantis, buscam a garantia dos direitos das mulheres
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No Dia Internacional da Mulher (08 de março), Ouro Preto foi palco de duas importantes manifestações. A primeira, organizada pelo Centro Acadêmico de Medicina da UFOP (CALMED-MG), teve como mote as denúncias de assédio, moral e sexual, de um professor da universidade. Alunos, professores e membros das Atléticas da instituição se uniram em uma caminhada simbólica, portando cartazes e entoando palavras de ordem exigindo a exoneração do docente. No fim da tarde, o ato “8M: Marias das Minas em Luta pela Vida“, ocupou a Praça Tiradentes, seguindo pela rua Direita, no Centro Histórico do município, promovendo debates e reflexões a respeito das mulheres da região. Dentre as pautas, a situação das mulheres atingidas por barragens, o acesso à educação e a segurança para mulheres trans, e tarifas justas de água em Ouro Preto.
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Centro Acadêmico de Medicina denuncia abusos por parte de professores
Tendo como motivação denúncias de assédio cometido por um professor que leciona para o curso de Medicina, em nota enviada à imprensa, o Centro Acadêmico do curso explicou que, apesar de haver um estopim, as denúncias são diversas e datam de mais de uma década.
“Foram recebidas pelo CALMED-MG denúncias contra um único professor, desde 2009, mas não houve nenhum afastamento do docente, por isso o CALMED promove o movimento, que acontecerá essa semana, buscando acolhimento de vítimas e instruções legais para a denúncia. Além das denúncias dentro do curso de Medicina, outros Centros Acadêmicos da UFOP também relataram casos semelhantes e de mesma gravidade durante o processo de engajamento no projeto”.
Nos cartazes, dizeres afirmavam que os casos de assédio cometidos pelo docente são, inclusive, anteriores à criação do curso de medicina, expondo violações a estudantes de outras graduações. Durante os atos simbólicos, como o estouro de balões grafados com a palavra “assediador”, era possível observar a emoção de alunas e professoras. De acordo com uma das participantes, o CALMED vem recolhendo informações e denúncias de casos de assédio em toda a universidade, independente da data em que a violência tenha sido cometida.
Laene Abreu, estudante de medicina da universidade e uma das organizadoras da manifestação, explicou à Agência Primaz que o ato teve como objetivo conscientizar as estudantes “a não deixarem passar esses casos”. “Muitas vezes eles não são denunciados de forma formal, por medo das vítimas e também pela consciência de que não têm resultado quando ocorre a denúncia formal […] A gente está fazendo isso para dar poder a elas, para que cada vez mais pessoas denunciem”, declarou Abreu.
A reportagem da Agência Primaz entrou em contato com a Assessoria de Comunicação Institucional da UFOP para esclarecimentos sobre o caso, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.
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Como denunciar casos de assédio moral e sexual na universidade
A Ouvidoria Feminina é o órgão oficial da universidade que atua no recebimento de denúncias de violência à mulher, prestando atendimento jurídico e formalizando denúncias perante a Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários (PRACE) ou Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (PROGEP). Após o recebimento da denúncia, a mulher é acolhida pelo órgão, através de atendimentos jurídicos e psicológicos oferecidos pela instituição de ensino.
As denúncias de violência física ou psicológica podem ser feitas através do e-mail ouvi.feminanaufop.sico@ufop.edu.br, pelo Instagram e Facebook da Ouvidoria, ou ainda pelo telefone (31)98866-7678. Outra forma de fazer a denúncia de assédio é através do portal Fala.BR.
Movimentos populares reivindicam políticas públicas em prol das mulheres
O ato, que ocorre anualmente no dia 08 de março, reúne representantes de entidades de defesa social, como Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento Olga Benário, Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), além de sindicatos, associações e partidos políticos. Apesar de se concentrar em Ouro Preto, a manifestação contou com a presença de moradores de diferentes municípios, como Mariana, Ponte Nova e Barra Longa. As pautas, estendem-se ainda mais territorialmente, refletindo e buscando alternativas para a vida de diferentes grupos de mulheres em todo o Brasil.
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Patrícia Ramos, militante política pelo PSTU e professora, explicou à reportagem da Agência Primaz que ainda é importante seguir pautando e ocupando as ruas com os debates que garantam a dignidade de vida das mulheres. “Não adianta só chocolatezinho e dar parabéns, se a gente não combater cotidianamente o machismo e não denunciar todas as pautas que são colocadas ‘pra’ gente, a gente não avança, a gente não vive”, reforçou Ramos.
Dentre os temas pontuados pela professora, o aumento dos casos de violência observados em Ouro Preto e Mariana, em especial englobando setores oprimidos, revela a falta de políticas públicas em diversas áreas, atingindo de forma mais incisiva as mulheres. “O aumento da violência está diretamente relacionado à falta de emprego, à falta de renda, à falta de estrutura dessas pessoas, à falta de estudos, inclusive. Falta de uma educação de qualidade”. Segundo Ramos, estes fatores vulnerabilizam ainda mais a vida das mulheres, que ficam suscetíveis às violências em inúmeros setores da vida social.
Atingidas pelo rompimento de Fundão ainda esperam por medidas reparatórias
Lina, moradora de Ponte Nova, membro do MAB, expõe a situação das mulheres atingidas por barragens. De acordo com a militante, as atingidas ainda têm muitos direitos negados pelas empresas mineradoras da região. Um dos exemplos citados por Lina, refere-se ao direito ao auxílio financeiro pago pela Fundação Renova. “Quando oferece um cartão, um auxílio mensal, que o trabalhador que perdeu renda tem direito, à mulher é negado a ela esse direito. O homem, que é [considerado] o chefe da casa recebe, enquanto a mulher fica subordinada”, explica.
Maria das Graças, moradora do distrito de Gesteira, em Barra Longa, conta à Agência Primaz a atual situação da localidade. Segundo ela, inúmeras famílias ainda sequer foram reconhecidas como atingidas, apesar de viverem as consequências do rompimento da barragem de Fundão. A igreja do distrito não pode mais ser utilizada, e casas são tomadas por rachaduras e poeira de minério. “Nós estamos aqui na esperança de que as mulheres também sejam reconhecidas [como atingidas] e respeitadas”, desabafa a moradora. Maria das Graças ainda ressalta que o aumento no custo de vida, com gastos com água, luz e gás, impacta de forma ainda mais incisiva o grupo. “Tudo isso é uma responsabilidade que as mulheres estão à frente”, finaliza a atingida.