- Mariana
XI Mostra Internacional de Teatro de Bonecos volta a ocupar os espaços de Mariana
Com espetáculos de diferentes técnicas do gênero, evento também conta com exposição de bonecos no Casarão da Praça da Sé
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Dos tradicionais fantoches mamulengo nordestinos às marionetes guiadas por fios, dos bonecos de mesa às técnicas de sombra, a diversidade do teatro de boneco abrilhanta Mariana. De terça (11) a sábado (15) acontece a XI Mostra Internacional de Teatro de Bonecos, idealizada pelo marionetista e diretor do Teatro Navegante de Marionetes, Catin Nardi. Há quase 30 anos envolvido no cenário teatral, Catin trabalha com bonecos desde meados da década de 1990 e se formou em Artes Cênicas pela Universidade Federal de Ouro Preto.
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Acompanhado pelo desejo de realizar um festival voltado para esse nicho, a primeira edição da Mostra aconteceu em 2006. “Depois de alguns anos que eu já ministrava oficinas no Festival de Inverno da UFOP, comecei a fazer uma pós-conclusão dessa oficina que era ‘pra’ gente apresentar as cenas que fazíamos. E a partir dessa programação eu comecei a convidar alguns artistas de teatro de bonecos para os alunos terem mais algumas informações, uma outra visão diferente da minha e por aí vai”, lembra Catin.
A partir do ano seguinte, a Mostra, além de receber espetáculos de outros estados, começou a acolher artistas de diferentes países. “Então a gente começou a fazer uma Mostra Internacional a cada ano, já que tínhamos gente da Itália, da Espanha, de Portugal, do Chile, da Argentina, da Colômbia, do México”.
Por trazer apresentações de distintos lugares, a mostra tem uma forte experiência de troca para os atores e atrizes, como destaca Catin. “Uma das características desse festival é que a gente tenta concentrar, em algum momento da programação, todos os artistas ‘pra’ que a gente possa dialogar sobre o trabalho de cada um. Os almoços e os jantares são feitos numa mesa única, então, todas as pessoas sentam na mesma mesa e trocam ideias entre grupos. Isso provoca um intercâmbio e reproduz a arte”, completa.
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Barrados na Praça
Dificuldades enfrentadas nos últimos anos
Sobre os desafios para retorno, o coordenador geral, Filipe Lage, comenta o processo de captação de recursos. “A gente passou por um período meio complicado sobretudo nesses últimos quatro anos, mas já vínhamos em Mariana sofrendo muito com a questão do rompimento da barragem da Samarco, que prejudicou um pouco da realização de algumas atividades, sendo que a gente tem as mineradoras como as maiores patrocinadoras de ações desse nível. A mostra já contou, inclusive, com o patrocínio da Petrobrás, mas a gente teve a pandemia, além da dificuldade de captação de projetos culturais no Brasil com governos anteriores”, menciona.
Paralisada desde 2016, em razão das consequências do rompimento da barragem de Fundão, além da posterior pandemia da Covid-19, a Mostra retoma suas atividades presenciais com auxílio do Edital Doce de fomento a projetos voltados para cultura, turismo, esporte e lazer da Fundação Renova, estabelecido como uma das ferramentas de reparação para os territórios atingidos pelo crime.
Apresentando uma programação bem diversificada que segue até sábado (15), a organização conta com o apoio da agência Sala de Ideias. Segundo a assistente de produção, Ianca Hass Reinert, como um nicho específico, o evento é uma oportunidade de trazer o gênero para mais próximo do público. “Então, reúne todos esses artistas profissionais que trabalham com teatro de bonecos ‘pra’ fazer essa troca de experiências e ‘pra’ mostrar ao público”, ressalta Reinert.
Recebendo artistas do Rio Grande Sul, Goiás e até mesmo Argentina, o primeiro espetáculo aconteceu nesta terça (11), na Escola Municipal Cônego Paulo Diláscio, no bairro Morro Santana. O Grupo Lumbra (RS) levou até os alunos, professores e comunidade o teatro de sombras. Com a peça “Criaturas da Literatura”, a dupla fez um passeio por histórias clássicas como Dom Quixote, Alice no País das Maravilhas e Pequeno Príncipe.
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Mostra Internacional de Bonecos utiliza espaços da rede municipal de ensino
Com um pouco de improviso em favor da arte, o auditório da escola teve suas janelas cobertas com cartolinas para levar uma melhor experiência aos estudantes. “Quando a gente vai ‘pra’ dentro da escola, a gente transforma a visão das crianças porque ali elas estão dentro da sala que eles vêm várias vezes, mas hoje é uma sala diferente. Hoje tem cortina, tem escuro, hoje tem luz”, comenta Ianca.
De acordo com a assistente de produção, o ambiente escolar tem as portas entreabertas para essas articulações, sendo espaço convidativo para mudanças sociais. “Eu acho que essa transformação e essa parceria da política cultural e da política educacional é muito importante ‘pra’ que a gente consiga acessar as crianças. Elas vão sair da escola, reproduzir alguma coisinha que pegaram do espetáculo e levar ‘pra’ mãe, vizinho, amigo, então, isso é transformação social”.
Para a diretora da escola, Natália Martins Barros, é satisfatório poder realizar esse diálogo entre arte e criatividade com a educação. Além disso, ela aponta a importância de eventos para gerar sentimento de pertencimento na comunidade. Sendo um bairro mais distante da área central do município, os moradores do Morro Santana acabam por sentir esse afastamento social. “Morro Santana é um bairro de Mariana, então trazer esse espetáculo para a escola agrega demais. Vai para além dos muros das escolas e atravessam as pessoas que não tem acesso”, declara Natália.
Descentralizando o acesso à cultura, a Mostra Internacional é itinerante com espetáculos que aconteceram na E. M. Cônego Paulo Diláscio, no bairro Morro Santana e na E. M. Monsenhor José Cota, no bairro Cabanas. Na quarta (12) aconteceram os espetáculos “A menina dos cabelos brancos”, de Anna Göbel, “Romance do Vaqueiro Benedito”, da Mamulengo Presepada, e um pocket show de Catin Nardi. Nos próximos dias, o evento traz apresentações também para a Praça Gomes Freire, além de uma exposição “Bonecos do Mundo”, sob a coordenação de Leandro Marra e Adriana Focas, do Grupo Balbúrdia.
Exposição, programação e encerramento da Mostra de Teatro de Bonecos
Com bonecos do leste europeu, além de peças da Índia, Indonésia e de vários lugares do Brasil, a exposição pode ser conferida no Casarão da Praça da Sé, de 14 às 18h. No sábado (15), às 20h, último dia do evento, Mariana recebe o desfile Bloconeco e a presença de bonecos gigantes. A programação completa pode ser acompanhada pelo site oficial da XI Mostra Internacional de Teatro de Bonecos.
Confira as imagens (Fotos: Karla Rezende/Agência Primaz) da exposição “Bonecos do Mundo“: