- Mariana, Ouro Preto ou Itabirito
Entrevista Primaz: Arlinda Gonçalves
De origem humilde, Arlinda se orgulha de sua trajetória e do trabalho à frente da Secretaria Municipal de Administração.
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Na segunda Entrevista Primaz com responsáveis pelas secretarias municipais de Mariana, a Agência Primaz apresenta Arlinda Gonçalves, entrevistada em 23 de março. Em 40 minutos de conversa, a secretária falou sobre sua origem humilde, sua trajetória na vida pública e questões ligadas à atuação da Secretaria de Administração, com destaque para o processo de licitação da concessão do transporte público.
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Quem é Arlinda Gonçalves?
Eu gosto de falar que, antes da minha trajetória no serviço público, eu tenho uma experiência de 18 anos de empregada doméstica, que é a base de eu estar até aqui, ter chegado aqui. Eu sou advogada hoje, sou mestre na área de Ciências Ambientais, sou natural de Jequeri, filha de Neca Coelho Maria, a base de tudo. Tenho cinco irmãos, tenho seis sobrinhos, um no plano espiritual, e também tenho uma filha, que já está no plano espiritual há um ano.
Antes de vir pra Mariana, eu trabalhei oito anos como empregada doméstica e babá em Jequeri. Era uma adolescente cuidando de uma criança naquela época, devido às condições financeiras. Eu comecei a ser babá e empregada doméstica com treze anos de idade, é muito comum isso no interior, devido à situação financeira, trabalhando para ajudar a família, estudando… Apesar de ser filha de mãe analfabeta e meu pai ter estudado até o segundo ano do ensino fundamental, nunca faltou incentivo ‘pra’ gente estudar. Todos os meus irmãos estudaram, só não tem curso superior quem não quis.
Eu tenho curso superior, tenho especialização, tenho mestrado, tenho pós-graduação, e trabalhei oito anos em Jequeri, até formar no ensino médio, curso de magistério. Eu sou de 80, em 1998 formei no ensino médio, tinha opção de dar aula – e aí era em área rural e eu tinha muito medo de bicho, aparecia muita cobra, escorpião –, ou me mudar para Belo Horizonte.
Então eu fui pra Belo Horizonte, continuar sendo empregada doméstica. Lá eu trabalhei dez anos, comecei sendo babá, os meninos cresceram, eu passei a ser a pessoa de confiança da casa, que fazia as compras, que cuidava dos filhos dos meus patrões quando eles estavam no exterior.
Tenho um contato muito bom até hoje com ambas as famílias, e aí eu falei: “Gente, eu não vou ter força ‘pra’ ser empregada doméstica o resto da minha vida”, e isso já foi em 2009, dez anos depois de ter me formado em magistério. Falei: “Vou estudar”. Aí fiz ENEM [Exame Nacional do Ensino Médio], fiz opção para Jornalismo, Pedagogia e Direito, e consegui bolsa para Pedagogia lá em Belo Horizonte, mas não formou turma.
Aí, no segundo chamado, eu consegui uma bolsa integral para Mariana, me enchi de coragem, porque eu tinha onde morar, tinha um salário bom. Apesar de ser empregada doméstica, eu trabalhava com uma família de judeus, eles eram muito ricos, e me pagavam três salários-mínimos, à época.
Saí de Belo Horizonte e vim trabalhar aqui em Mariana, fui ser assistente de oftalmologista na Concel [clínica médica estabelecida em Mariana nos anos 1980], sem nem saber o que que era ser secretária, sem nem saber digitar, vim para ganhar um salário-mínimo, pagar aluguel, pagar a van [para ir à faculdade], mas eu falei, “tá na hora de estudar!”.
E como foi essa trajetória, até ingressar no serviço público?
Aí trabalhei com o doutor Rogério, na Concel, e aprendi muita coisa. Eu fiz curso de teste de lente de contato, fazia esses exames periódicos de empresa e comecei a estudar aqui em Mariana, na UNIPAC [Universidade Presidente Antônio Carlos], com bolsa integral.
No quinto período de Direito, eu me inscrevi para um processo seletivo de estágio para o Procon [Programa Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor], e consegui a vaga.
Eu peguei aquela parte que teve muitas trocas [na chefia do Poder Executivo de Mariana], isso foi 2011, 2012. Então eu cheguei a ter como chefe diretor do PROCON, Carolina Mafia, eu entrei com ela pelo processo seletivo, Jairo Anatólio, de Passagem [de Mariana], e Emanuel Camacho. Eu passei por esses três, lá no Procon.
Eu fiquei com muito receio, porque na Concel eu tinha carteira assinada, tinha uma segurança, e aqui eu estava vindo para uma bolsa de estágio. Conversei com um professor meu na época, de Direito do Consumidor e ele falava: “Arlinda, quando a gente recebe um convite que significa progresso, aprendizado, que tem possibilidade de aprendizado, primeiro você aceita, e depois se arrepende, se for o caso”. E aí eu aceitei e estou aqui [na Prefeitura] até hoje.
Fiz estágio no Procon e aprendi muito, fazia audiência. Nessa transição a gente ficou responsável por fazer audiência de conciliação entre o consumidor e as empresas, porque não dava ‘pra’ contar se eu ia ter um diretor lá ‘pra’ fazer, e aprendi bastante. Tanto é que, na prova da OAB [Ordem dos Advogados do Brasil], na minha primeira tentativa eu passei direto, e ainda não tinha tido a cadeira. Eu acertei três questões, foi da prática mesmo.
Do Procon eu já migrei aqui para Secretaria de Administração, o secretário à época era Rangel. O Celso Cotta era prefeito, e aqui eles gostaram muito da minha atuação. Tem a lei do estágio que fala que você pode ficar no máximo até dois anos na unidade concedente, isso coincidiu com a minha formatura, e aí eu tive a minha primeira nomeação.
Eu fui nomeada em março de 2014, como encarregada de serviço de arquivo, mexia com a parte dos processos, a parte de Direito mesmo da Secretaria de Administração. Eu já era formada já era advogada, já tinha conseguido a minha aprovação na Ordem dos Advogados do Brasil um ano antes de me formar.
E aí eu tive a minha primeira nomeação como encarregada de Serviço de Arquivo. O Duarte Júnior assumiu [como Prefeito de Mariana] na sequência final de 2015, fui nomeada subprocuradora adjunta, depois eu fui nomeada subsecretária, até virar Secretária de Administração, em 2018, também com Duarte. Foi a minha primeira nomeação para cargo de primeiro escalão, de agente político.
No final de 2020, uma época muito conturbada, outro desafio. No encerramento de mandato e período eleitoral, eu fui convidada pelo Duarte para assumir a procuradoria. Então, de agosto de 2020 a janeiro, quase fevereiro de 2021, fui Procuradora Geral do município, e aí eu voltei, em fevereiro de 2021, para Secretaria de Administração, também como secretária, e estou aqui até hoje. Passei pelos governos interinos do Juliano [Duarte], do Ronaldo [Bento], e agora com o Leitão [Edson Agostinho], continuo como secretária.
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Qual é o papel e abrangência de atuação da Secretaria de Administração?
A Secretaria de Administração é responsável pela Medicina do Trabalho; pelo Setor de Documentação e Arquivo Geral; pela necrópole, que é o cemitério; e pelo convênio com os Correios e pela Medicina e Segurança do Trabalho.
Nós temos uma equipe enxuta, uma equipe bem coesa, de 87 funcionários, mas a gente é responsável pela articulação com as outras secretarias, com o governo. E eu costumo dizer que a Secretaria ela não tem ações externas, é uma secretaria meio. Então a gente não tem ações como [as secretarias] de Esportes, da Ação Social, de Obras, mas a gente trabalha nos bastidores para que essas ações aconteçam.
Entre servidores efetivos, contratados, nomeados e terceirizados a gente atinge aí cinco mil funcionários, e a Secretaria de Administração é que é responsável por gerir tudo isso.
Os 87 funcionários são da equipe da Secretaria de Administração, que atua aqui em cima, nessa sala [no prédio principal da Prefeitura de Mariana], no Departamento de Pessoal, na Documentação e Arquivo, na Medicina do Trabalho, no cemitério, na rodoviária e no Centro de Convenções.
O Doutor Israel [atualmente na Secretaria de Meio Ambiente] fala que a Secretaria de Administração é um balcãozinho de mercado, o que você não quer e não quer voltar ‘pra’ prateleira, você joga lá. Mas nós, gerimos vários contratos, que são de natureza comum, como material de expediente, água, gás, energia elétrica e aluguéis da Secretaria de Administração.
Nós temos contratos muito vultuosos e importantes, como o contrato de empresas terceirizadas, são três que prestam serviço para o município. No total a gente tem 640 pessoas nessas empresas, e tem também o contrato de transporte público, acabamos de publicar agora o edital de licitação.
Todas elas são só de mão de obra, e tem uma diferença de terceirização de mão de obra e de serviço. Quando você contrata o serviço, você contrata o bloco como um todo, o profissional, o equipamento, ou você contrata só a mão de obra. Então, nessas três empresas, o contrato com a gente é de mão de obra, o colaborador da empresa presta serviço nas dependências da administração municipal, em todas as áreas. São empresas de limpeza urbana, administrativo, motorista, pedreiro, ajudante, pintor… A diferença é que a gente contratou uma primeiro, aí estipulou um número em contrato, depois cresceu a necessidade, essa ata já não estava vigente, e foi necessário fazer outras licitações.
Como é a atuação da Secretaria de Administração nos contratos de aluguel?
Passa aqui, porque para locar ou para desapropriar, a gente tem que fazer uma avaliação mercadológica do imóvel. Então, a gestão do contrato dos corretores é nossa. Qualquer secretaria que quiser locar ou que quiser desapropriar, precisa me solicitar três avaliações. Aí os peritos, que são os corretores, eles fazem a avaliação, entregam ‘pra’ gente, e daquelas três avaliações sai uma média, que passa por uma comissão interna do município. Então, passa aqui somente para avaliar, para finalizar o processo, assinar contrato e realizar pagamento. A gente só gerencia mesmo os contratos dos imóveis que são utilizados pela Secretaria de Administração.
Até bem pouco tempo, a gente era responsável pelo convênio com as polícias Militar, Civil e, mas isso foi agora para [a Secretaria] de Segurança Pública, o objeto está mais voltado para eles. Nós temos a locação dos espaços que são utilizados para o Arquivo Geral, da Medicina do Trabalho, além de alguns postos dos Correios, que são mais específicos.
O contrato mais importante, mais relevante que a gente tem é o de transporte coletivo. Espero que essa licitação tenha êxito agora, porque Mariana tentou licitar em 2014, sem êxito, em 2016 ficou suspenso pelo Tribunal de Contas até 2018, e aí nós fizemos um estudo minucioso agora, e o edital já está na praça.
Eu espero, sinceramente, que se eu tiver que encerrar minha carreira aqui na Secretaria de Administração – não é meu intuito –, encerrar com esse contrato de transporte coletivo válido, ‘pra’ que a gente altere a situação a título precário de uma licitação lá de 2004.
Quais os principais desafios para a implementação dessa licitação de transporte coletivo? O programa Tarifa Zero vai continuar?
O Tarifa Zero, eu tenho orgulho de dizer que participei efetivamente da construção toda, desde a época do Duarte Júnior, quando a gente compareceu à ERG Engenharia, que estava fazendo o plano diretor do município de Mariana, para conhecer a proposta. Então, isso foi uma construção.
O Juliano chegou a pedir um formato de uma coparticipação, seria um subsídio, o usuário pagaria R$1 e o município iria subsidiar o restante, e a gente veio construindo isso, conversando com cidades de São Paulo, do Rio de Janeiro, para trazer a experiência dessas cidades, que já tinham implementado, até finalizar com uma visita em Caeté.
O nosso modelo, hoje, é basicamente o modelo de Caeté, guardada as devidas proporções. Lá eles não chegam a R$200 mil com transporte coletivo, são menos linhas, a extensão territorial deles é bem inferior.
O Tarifa Zero foi implementado em fevereiro do ano passado e completou um ano agora. A gente precisou pedir a prorrogação na Câmara, o número de passageiros transportados, triplicou ou quase quadruplicou. A gente transportava, em média, 160 mil passageiros/mês, 165 mil passageiros, mas isso atingiu já a casa dos 400, 450, 500 mil, e a gestão desse contrato também é da Secretaria de Administração. A gestão é da Secretaria de Administração, a fiscalização e operacionalização é da Segurança Pública.
Nós começamos os estudos lá atrás, pegando o edital de 2016, os apontamentos do Tribunal de Contas, as razões pelas quais essa licitação não foi adiante, e trabalhamos esses pontos em específico. Chegamos a conversar com Ouro Preto, porque lá citou recentemente, o histórico de licitação era muito parecido com o de Mariana, de não conseguir avançar e eles conseguiram, estão com contrato válido agora.
Conversamos com Ouro Preto, dividimos as experiências até na contratação, fizemos reuniões internas com a equipe da licitação, com Planejamento, com Procuradoria, porque envolve todos esses setores, e com o Demutran [Departamento Municipal de Trânsito], até chegar na contratação de uma consultoria externa para análise da planilha tarifária, que é a parte técnica que nós entendemos que o município não tinha expertise para realizar.
E conseguimos construir esse edital, acredito que bem amarrado, bem robusto, preocupando com esses pontos que eu mencionei que foram objetos de denúncia nas licitações anteriores e que, devido a isso, foi suspenso pelo Tribunal de Contas ou foi objeto de algum mandado de segurança
E vamos licitar agora o transporte coletivo, independente do Tarifa Zero, por quê? A gente tem que pensar no cenário a longo prazo, porque a gente está falando de uma concessão de 20 anos. Se a gente licita o Tarifa Zero, e amanhã a Mariana perde receita e não consegue subsidiar, a gente teria um grande problema, porque o município tem obrigação legal imposto pela constituição de conceder o transporte público coletivo. Se a gente perde [arrecadação], a gente não teria como cobrar da empresa.
Então, qual foi a proposta, qual foi o estudo que durou aí um período até razoável de tempo, até que a gente conseguisse chegar num consenso? A gente licita o transporte coletivo tarifário, como se o usuário fosse o pagador integral e, depois da licitação pronta, o município envia para Câmara um novo projeto de lei no formato do atual, para subsídio integral do Tarifa Zero, ou parcial dependendo da linha. A Ideia é não terminar o programa agora, já que é um programa social de um alcance muito grande, apesar de algumas críticas. Não finalizar, mas ter um processo regular para que a gente possa fazer isso com bastante responsabilidade.
A gente estuda a possibilidade de incluir uma cláusula na nova lei. Em caso de perda de receita, até 50%, o município volta a cobrar tanto. Se cair mais, pode haver cobrança integral. Como eu já mencionei, com o Juliano, a gente a gente teve um estudo de pagamento de R$1 real por usuário, mas depois, quando a gente fez a análise do que a gente gastava com os servidores públicos [auxílio transporte] e do que a gente gastava com alunos, nós vimos que era aceitável [o pagamento integral].
Porque a gente já custeia o vale-transporte do servidor, desconta 6% no contracheque dele, e o município custeava o restante. Fazendo esse levantamento e do custo da proposta essencial, nós vimos que era perfeitamente viável implementar 100%, sem cobrança nenhuma.
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Quais foram os principais pontos de modificação introduzidos na nova licitação?
Houve uma preocupação nessa licitação de incluir novas rotas, de incluir distritos, subdistritos, localidades que, até então, não eram atendidos pelo transporte coletivo. Porque, como eu disse, o contrato atual é de uma licitação de 2004, então a realidade de hoje é muito diferente.
Por exemplo, [o subdistrito da] Vargem não era atendido. Não podia porque a gente estaria fugindo do escopo daquele contrato que era oriundo dessa licitação de 2004. Então, a gente ajustou, adequou com base num decreto de 2018, que dispõe sobre os horários e itinerários e com o aumento da demanda de usuário, a gente inseriu mais horários. Onde era atendido de 15 em 15 minutos, passou a ser de 10 em 10. Houve separação, por exemplo, do ônibus que ia do Rosário para o [bairro] Cabanas, passou a ser Cabanas – Centro, Rosário – Centro. Às vezes, o ônibus que vinha do Rosário passava ali no Centro lotado, a pessoa descia aqui perto do Centro de Convenções, e quem estava lá no ponto ‘pra’ subir ‘pro’ Rosário não conseguia.
Então, assim, foram feitos ajustes para melhorar a qualidade do transporte coletivo. Esse edital foi construído a quatro mãos, teve a participação da Administração, do ponto de vista de gestão; a participação da Segurança Pública, por meio do Demutran, do ponto de vista da operacionalização mesmo, de conhecimento de rota, de demanda por distrito; da Procuradoria, por isso que o Juliano Barbosa está muito atento a esse edital, ele começou enquanto Controlador do Município, e acabou finalizando enquanto Procurador, e da Secretaria de Planejamento, que é quem vai conduzir todo o processo.
E tem também, essa assessoria, que vai acompanhar até o final, até a homologação, mas está todo mundo muito antenado nos estudos que foram feitos, para que essa licitação possa acontecer com êxito.
Qual a previsão de custo da licitação?
A modalidade da licitação é por critério técnico e menor preço. Além do estudo tarifário que foi feito, o consultor fez uma composição de custo um pouquinho diferente. Porque, por exemplo, pela atualização dos custos diretos e indiretos, custo com combustível, com veículo, com transporte, com garagem – já que pode ser que venha outra empresa que não seja a Transcotta [atual concessionária] e aí ela precisa se instalar no município –, ia ter tarifa com um custo muito elevado. Como a preocupação de município é conseguir justamente uma proposta adequada, que se adequasse inclusive ao usuário, porque a gente não sabe quanto tempo a gente consegue manter o Tarifa Zero, a gente está envidando todos os esforços para isso, mas pode acontecer alguma situação alheia à nossa vontade.
Foi feito uma composição de curso um pouquinho diferente por quilometragem, ônibus que transitam de um a dez quilômetros, que gerou uma tarifa que é mais razoável, de dez a vinte, de vinte a trinta, e assim por diante. É um estudo mais técnico, mas a ideia é que isso tenha um custo bem menor para o município, porque a tendência na licitação é ter uma redução. Até vinte, vinte e cinco por cento talvez. E com esse estudo, da forma que foi realizado, acredito que a gente vai conseguir ter êxito, com valor bem aquém do que a gente teria se o estudo, se a licitação, fosse no formato só de tarifa, considerando que a gente tem distrito que está a 60 quilômetros.
E isso é no intuito de garantir tanto o melhor preço para o usuário, e também para que a empresa não tenha problemas de desequilíbrio financeiro, porque tem linhas que são deficitárias.
A ideia de um Centro Administrativo, idealizada em uma gestão passada, foi abandonada ou ainda está em pauta?
Esse estudo, em relação à construção de sede própria, eu acompanhei muito pouco, teve até uma proposta ‘pra’ onde seria a UPA, depois teve uma proposta para ser um Centro Administrativo, e daí agora retomou para UPA [no bairro São Pedro], que está a todo vapor a construção.
Se o município adquire um imóvel próprio, a longo prazo aquele prédio se paga. Infelizmente o valor mercadológico de Mariana, tanto para aluguel, quanto para aquisição, está muito alto. Os aluguéis da Secretaria de Administração não são aluguéis caros. A gente tem aluguel aqui que vai de R$1.800, que são contratos antigos, até no máximo de R$7 mil. A gente não tem aluguel superior a isso, mas tem aluguel do município que chega a R$18 mil.
Na Secretaria de Administração todos os contratos são muito antigos, o maior aluguel da Secretaria de Administração é o que abriga hoje o Arquivo Geral, que é ali no Catete, e está na casa aí dos R$5.800, R$6 mil, não passa disso não. Mas a gente tem aluguéis atuais, prédios que foram alugados mais recentemente, até porque, quando finaliza um aluguel nesse valor, o proprietário não tem interesse em continuar contratando. Se você faz uma nova avaliação com a supervalorização que ocorreu, em função de Fundação Renova, de várias empresas, os valores estão muito mais elevados, então tem vários aluguéis.
Se o município concede, e aí é minha opinião, se constrói uma sede própria ou se o município mesmo adquire um imóvel, a longo prazo, ou mesmo, dependendo do valor, a médio prazo ele se paga. É um bem que o município vai adquirir, é uma referência, tem uma memória ali, não tem toda hora, “ah a Secretaria de Administração mudou, está novo endereço”.
Então eu sou super favorável, nós temos condições de desenvolver esse projeto. Nós temos condições de desapropriar ou até mesmo de tentar aproveitar um terreno que já seja do município, para poder fazer a construção dessa sede própria. Para o usuário é perfeito, ele consegue ter todos os serviços ali em um único lugar. E para o município a economia é gigante, e a gente consegue investir esse valor em outra coisa de interesse da população. “Ah, mas é só R$3 mil de um imóvel da administração… Não é só R$3 mil de imóvel da administração, é R$5 mil da Educação, R$15 mil de outro setor… Se você juntar tudo, dá um valor considerável
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Qual o valor total gasto pelo município com aluguéis?
Passa de R$200 mil por mês, e sabe por quê? Porque só a Secretaria de Desenvolvimento Social fez um estudo, que se eles adquirissem uma sede própria, eles iam economizar R$45 mil por mês. Também de maneira informal, porque a gente precisa fazer o levantamento real, na Secretaria de Educação é R$18 mil. Da Segurança é mais ou menos nessa faixa. Tudo que foi locado recentemente, foi num valor muito alto.
Como a instabilidade política, desde o início de 2021, já no terceiro governo interino em Mariana, afeta as ações da Secretaria de Administração?
Gera um atraso, né? Eu digo que os nossos projetos grandes não foram interrompidos. Por exemplo, a gente está trabalhando reabilitação funcional, nós temos diversos servidores afastados por limitação de saúde, e a gente precisou trabalhar nisso, para que ele seja reaproveitado em uma outra função. Não houve alteração da equipe, não houve alteração do secretário da pasta [de Administração], só que o secretário da pasta tem um limite de competência, a autonomia nossa é dada pelo nosso chefe do Executivo. Então, quando está em andamento, por exemplo, a licitação do transporte coletivo e muda o chefe do Executivo, não é que eu recomeço, porque eu estou aqui, eu vou dar continuidade. Mas, com ele é novo, eu preciso sentar, eu preciso explicar, eu preciso entender o que ele espera, eu preciso ver a aceitabilidade sobre determinado projeto que estava em andamento.
Então, para o funcionamento dos setores é um recomeço sim. O Ronaldo [Bento] veio, e praticamente não trocou a equipe e deu continuidade às grandes ações para o município de Mariana.
Só que essas grandes ações, para elas serem continuadas, ele precisa conhecer, ele precisa entender. Então, há ali uma interrupção do andamento normal do processo. Com o Edson [Agostinho] já houve troca de grande parte dos gestores das pastas. Então, o gestor precisa chegar, precisa conhecer o serviço, precisa conhecer a equipe, precisa formar uma opinião sobre determinada ação, o que foi pensado a curto, a médio prazo, se concorda ou não.
Acredito que você tenha ciência que foi constituída no município, uma comissão de controle e análise de gastos, para manter o equilíbrio fiscal econômico do município, eu faço parte dessa comissão. E fazendo parte dessa comissão, a gente tem um contato ainda mais próximo, ainda maior com todas as secretarias. Porque todas as demandas que tenham questões financeiras deles, passam pela gente. Então essa comissão é composta pelo Marlon [Figueiredo], que já está aí desde 2013, pelo Juliano Barbosa, Edvaldo [Andrade] e eu.
A gente tem reuniões semanais, era uma passou para duas, semana que vem já vai ter três, porque todas as demandas dessa secretaria, de aquisição, de nova contratação, passam pela nossa análise. E a pessoa que chega, ela não fica só no contato daquilo, a pessoa acaba se aconselhando com a gente mesmo. “Ah, como que você acha que eu devo conduzir esse processo, o que você acha que devo fazer?”. E a gente aponta soluções, a gente que já está aqui há mais tempo – não é que a gente sabe tudo, mas a gente conhece como funciona e a gente já acompanhou alguns processos. “Olha, se você for por esse caminho aqui, a gente já viu isso antes, não vai dar certo, vai por esse”.
Então, tem um nível de responsabilidade ainda maior e eu vejo o prejuízo por esse lado. Não que quem chega, o novo chefe do Executivo, seja indiferente à necessidade do município, mas é sempre um recomeço mesmo. Sempre tem que voltar, o que está em andamento tem que voltar e dar ciência. Aí é reunião, explicação, é levantamento de custo. Então, a instabilidade prejudica demais o serviço que quem está lá na ponta vai receber, que é o munícipe.
Qual foi a necessidade da criação dessa comissão de controle, e como ela funciona?
Nós combinamos, até para não ter divergência, que quem responderia em nome da comissão, independente de ser diante da Câmara ou da imprensa, seria o Marlon [Secretário de Planejamento] Não sei como que surgiu a notícia que o município estava quebrado, que não tem dinheiro, que não vai fechar as contas. Para piorar, ‘pra’ combinar com esse pensamento, a CFEM [Compensação Financeira pela Exploração Mineral] teve uma queda muito brusca. Chegou a atingir R$33 milhões, na época da gestão do Juliano, e a gente teve uma arrecadação de pouco mais de R$5 milhões em janeiro.
Então teve um susto. “Ah, tem que cortar, tem que cortar!”. Com o trabalho da comissão, a gente viu que não tinha nada disso, que a arrecadação estava boa, que não tinha que cortar nada. Porque já estavam falando que “tem que cortar funcionário, tem que cortar isso, tem que cortar aqui e ali”. E para não sair cortando tudo e gerar pânico na cidade. Porque quem escuta lá fora, acha que realmente o cenário é caótico. Essa comissão foi instituída justamente ‘pra’ isso, fazer a análise, no geral, e analisar junto com os secretários novos qual demanda a gente daria continuidade ou não.
Sobre a saúde, por exemplo, obviamente a gente não vai falar que não investe um, dois, três, dez por cento de medicamento. Porque o secretário só sabe da demanda dele: “Ah não, aqui é vinte mil, aqui é cinquenta mil”. A gente sabe da demanda de todo mundo. E é o que eu falei anteriormente, somando vinte aqui, trinta ali, cinquenta ali, você consegue garantir o custeio do Tarifa Zero durante um ano. Então, o intuito da comissão foi isso.
Para finalizar, como é o dia a dia da secretária de Administração? E qual o lema de trabalho de Arlinda Gonçalves?
São quatro, cinco, seis reuniões, seis horas de reunião por dia, deliberação online uma hora da manhã, só que está surtindo resultado, e isso é muito gratificante. Eu tenho um perfil de trabalho, eu visto a camisa. Se não for ‘pra’ fazer a diferença, se não for ‘pra’ fazer bem-feito, se não for ‘pra’ buscar solução, eu nem vou, eu deixo ‘pra’ quem queira, sabe? Então, é cansativo, é exaustivo, mas é muito gratificante o resultado.
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