- Mariana
“Mães da Resistência” promovem primeira caminhada LGBTQIA+ de Mariana
Caminhada faz parte da semana da diversidade que ocorreu na cidade, de 11 a 17 deste mês, promovendo debates e conscientização sobre gênero e sexualidade.
- Nikolle Gandra
- Fotos: Yuri Dinali
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Aconteceu nesse último sábado (13) em Mariana, a primeira caminhada LGBTQIA+ organizada pelo coletivo “Mães da (R)existência”, com o apoio do Movimento Negro, da Secretaria de Educação e do vereador Edson Agostinho, prefeito interino de Mariana. O movimento partiu do Centro de Convenções, às 9h, realizou concentração no Terminal Rodoviário, e teve seu ponto final na Praça Gomes Freire, também conhecida como Jardim. A ação contou com a participação da percussão da CRIA e promoveu ações de conscientização sobre saúde pública direcionada à comunidade. Com tendas montadas no centro da praça, foi disponibilizado espaço de lazer para crianças e de conversas com profissionais da saúde.
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Fundado em julho de 2019, o coletivo tem o objetivo de promover ações em prol da comunidade LGBTQIA+ de Mariana. De acordo com Matheus Januário, vice-presidente do coletivo desde 2020, o movimento já realizou mudanças importantes para a cidade. “Nós realizamos atividades e conseguimos duas leis no município. Duas leis foram implementadas no município através de uma votação da Câmara Municipal e outra por indicação de vereador. Então a gente está trabalhando aos poucos, para quem sabe expandir para Ouro Preto, que é a cidade vizinha”.
Para Matheus, a caminhada é o primeiro passo para alcançar a população da cidade de maneira mais expressiva, além trazer informações sobre saúde para a comunidade. “O nosso objetivo é em prol da educação e da saúde. É mais difícil acertar o público LGBT nesse sentido, porque é a parte onde eles são mais excluídos, onde a população tem mais defasagem”, declarou.
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Além do público LGBTQIA+, a caminhada também contou com a participação de familiares e amigos que buscam fornecer apoio ao movimento. Esse é o caso de Ionice Marinho e Elenir Marinho, tia e mãe da Julia Gabriele, técnica de enfermagem que se identificou como LGBT aos 13 anos, e hoje luta pela causa ao lado de seus familiares.
Segundo Ionice, estar do lado de Julia nesse movimento é importante não apenas para a sobrinha, mas para toda sua família: “Sou tia, com muito orgulho, e estou aqui hoje com minha filha de 10 anos ‘pra’ ensinar ‘pra’ ela que preconceito na nossa casa não existe. A gente vai lutar juntos contra tudo e contra todos, não só por ela [Julia], mas por todos. (…) A minha filha tem um futuro muito brilhante pela frente e eu espero que esse futuro chegue ‘pra’ ela melhor do que chegou pra Ju”.
De acordo com Elenir, aceitar a filha dentro de casa não foi um processo fácil, mas hoje seu apoio é incondicional: “’Pra’ mim foi muito difícil a aceitação da Júlia porque ela era menor de idade, ela tinha 13 anos quando ela falou ‘pra’ mim. Foi difícil, não pelo preconceito em si, mas pelo que ela viveria na rua. (…) Mas eu estou do lado dela porque se eu não aceitar minha filha, como é que eu vou obrigar que a sociedade aceite?”, ressaltou Elenir.
Para Julia, esse apoio familiar foi fundamental para se sentir inclusa. “A aceitação em casa é tudo, né, cara? A partir do momento que a gente não tem na rua, você tendo dentro de casa, já dá um alívio. Eu acho que, quando vem de dentro da sua casa aquele respeito, o de fora importa também, mas não importa tanto porque dentro da sua casa é o que vale”. Assim como Júlia, a analista Fay Madeira também conheceu o coletivo “Mães da (R)existência” pelas redes sociais. Para Fay, a caminhada é importante para o processo de conscientização externa: “A presença é marcante e ela mostra também a importância dessas pessoas que são marginalizadas”, afirmou.
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Direito à saúde também é uma luta da comunidade
A caminhada também promoveu conscientização a respeito de saúde, direcionada à comunidade LGBTQIA+ que, de acordo com os organizadores do evento, sofre com desinformação. Concentrando tendas no Jardim, agentes da saúde fizeram a distribuição de itens de saúde íntima e se colocaram à disposição para conversas com participantes da causa. Para Larissa Oliveira, coordenadora da Atenção Primária do município de Mariana, o movimento é importante para criar políticas públicas direcionadas às pessoas envolvidas na caminhada, por meio do cadastramento no SUS, oferecido no espaço.
Adelina Barbosa, referência técnica no programa de promoção de equidade da Atenção Primária, a iniciativa do debate sobre saúde e comunidade LGBTQIA+ é importante para entender que nenhuma doença tem relação com orientação sexual, mas sim com a falta de acesso à informação sobre elas: “A gente sabe que às vezes as pessoas são afetadas por desigualdades sociais e isso pode afetar também na condição de saúde delas. Então, hoje estar aqui é reafirmar o direito da população LGBT à uma saúde integral. A gente precisa desse cadastramento e desse recenseamento ‘pra’ gente saber se as políticas que a gente está fazendo estão alcançando esse público. Porque na hora que a gente faz a política universal nem sempre a gente consegue atingir as pessoas que tão mais afastadas por N motivos, inclusive por causa da discriminação e do preconceito”, esclareceu.
Também participou da caminhada a percussão do Centro de Referência da Criança e Adolescente (CRIA), que se apresentou no Terminal Rodoviário em apoio ao movimento. A caminhada foi apenas um dos eventos previstos para a semana de diversidade, de11 a 17 de maio, e finalizada com roda de conversa sobre sexualidade e família.