- Mariana
Jornalista explica processo de produção de livro sobre artesãos de Cachoeira do Brumado
A escritora revela que ainda pretende realizar a publicação impressa do livro para servir como registro histórico da cultura ancestral de Mariana.
- Nikolle Gandra
- Supervisão: Luiz Loureiro
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O livro “Mãos que contam histórias: vida e obra de artesãos cachoeirenses” foi lançado, em maio deste ano por meio do edital comemorativo da Editora UFOP. A publicação reúne histórias de cinco artesãos de Cachoeira do Brumado, distrito conhecido por sua tradição em artesanato. A jornalista Thalia Gonçalves concedeu entrevista à Agência Primaz e explicou o processo de produção, dificuldades e objetivos do trabalho.
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História como identidade
Thalia é natural de Cachoeira do Brumado e, durante sua graduação, era uma das poucas marianenses de sua turma. Nesse contexto, hoje jornalista, Thalia desenvolveu o desejo de trazer visibilidade para seu distrito natal, em seus trabalhos acadêmicos, a fim de resguardar a história de sua própria comunidade. Desse compromisso com a preservação da identidade, veio a ideia de produzir o seu mais recente livro, composto por uma coletânea de perfis que, além de serem registros pessoais, também compõem a história de uma comunidade.
Cachoeira do Brumado é um distrito de Mariana popularmente conhecido por sua produção de artesanato, cultura que afeta diversas famílias do distrito, como é o caso do próprio núcleo familiar de Thalia. Porém, ela temia que a história se perdesse devido à falta de registro. “Como vai ser no futuro? Como que eu vou poder contar isso um dia se eu tiver um filho, um neto… Como que eu vou contar isso ‘pra’ eles? Porque tem uma carência de registro dessas histórias, desses personagens”, comenta.
Foi dessa preocupação que a autora realizou a produção de seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) a partir de resgates e resguardos da identidade de seu distrito, em um livro de perfis. Os personagens que compõem a obra são cinco artesãos de diferentes épocas. A mais antiga é Cassiana Ferreira Nunes, nascida em 1883, que aparece no livro juntamente com Arthur Pereira, Mário Ramos Eleutério, Geraldo José Teixeira e Adão de Lourdes Cassiano.
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A jornalista explica que entrar em contato com os nomes presentes no livro foi um processo muito natural, por já conhecê-los das histórias contadas por seus familiares. “Muito do que eu conversava com as pessoas eu lembrava de histórias que meus avós, meus pais já tinham me contado. Então, eu tinha essa facilidade, porque como eu vivia ali, conhecia algumas daquelas pessoas, eu conseguia transitar pelos temas com uma certa facilidade, ressalta.
Manter esse registro é importante, porque Thalia acredita que a pesquisa também é um local de autoconhecimento. “A nossa identidade é a nossa cultura, é nossa tradição, e eu acho que, quando você conhece o lugar de onde você veio, a sua história, você também se conhece. Eu acho que a gente precisa trabalhar muito com isso. Eu não sei se gosto muito da palavra preservar, mas resguardar essas histórias”. A jornalista também deixa claro que, apesar do livro se tratar de perfis de artesãos, ele também abriga suas próprias memórias e afetos, vinculados a ele e às histórias presentes em cada capítulo.
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Dificuldade no resgate de memórias e autocobrança
Para Thalia, um dos maiores desafios enfrentados durante a produção do seu trabalho foi a captação de registros dos personagens. Três dos cinco perfilados eram pessoas já falecidas e, por isso, foi necessário entrar em contato com amigos e familiares, de modo a obter informações oficiais para estruturar as narrativas. Segundo a autora, o resgate mais complicado foi o perfil de Cassiana, que nasceu há 140 anos.
“Para mim, foi o mais difícil de se escrever, e talvez por isso eu tenha um carinho especial. Não temos tantas pessoas com muitas memórias dela, ou que a conheceram, para me contar. Aí eu fui atrás de registro oficial, em cartório, só que não achava documentação. Fui atrás de arquivo da igreja, arquivo da Arquidiocese e não achava quase nada. Ou, quando encontrava alguma coisa, estava rasurada, ou estava rasgado”, conta a jornalista.
Outra dificuldade durante o processo foi a autocobrança. Thalia relata que vê seu trabalho como um retorno para o resguardo da memória de sua comunidade. Por isso, sua cobrança interna marcou intensamente a produção. “Não tinha pressão externa, mas eu mesma me pressionava, porque eu tinha uma expectativa, e algumas pessoas com quem eu conversava, durante esse processo, também criavam uma certa expectativa. Isso me fez questionar muito”.
Além da pressão pessoal, Thalia também relata que perdeu sua avó durante o processo de produção do livro, o que atrasou seu trabalho em alguns meses. Mesmo com essas dificuldades, a jornalista se orgulha do trabalho entregue, e se declara feliz com o resultado alcançado.
Desejos para o futuro
Uma das vontades de Thalia, agora, é conseguir a publicação impressa de seu livro. Por isso, está atenta aos editais de incentivo à cultura da cidade, a fim de conseguir apoio para a impressão.
Se conseguir realizar esse sonho, a autora pretende distribuir exemplares para escolas e para as pessoas que a ajudaram na construção dos perfis. “A minha vontade é realmente fazer a impressão e distribuir para as pessoas que conversei, para as famílias. Também distribuir nas escolas, principalmente nas escolas de [Cachoeira do] Brumado, porque um dos objetivos do trabalho é isso, ajudar, de alguma forma, no resguardo dessas memórias. Para servir como material de apoio para trabalho e pesquisas”, finaliza Thalia.