- Mariana
Camaleão inaugura exposição de quadrões em Mariana
Trinta quadros representam, com humor e irreverência, episódios da história da Primaz de Minas
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Aberta à visitação até o final deste mês, de 11 às 20h, a exposição “Mariana 327 Anos em Quadrões, foi inaugurada nessa segunda-feira (10), no Casarão Cultural da Sé, incluída entre as atrações do Festival de Inverno 2023. As obras expostas retratam episódios da história da Primaz de Minas, com o traço irreverente de Camaleão, artista consagrado também no mercado editorial e com várias premiações em salões nacionais de humor.
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Nascido em Volta Redonda, mas radicado em Minas Gerais desde a adolescência, Camaleão teve sua iniciação artística autodidata influenciada por revistas de humor que seus irmãos mais velhos levavam para casa, adestrando a mão a partir da cópia das figuras caricatas apresentadas em publicações como Mad e Casseta & Planeta.
A partir daí, ainda sem qualquer influência da arte produzida especialmente em Ouro Preto e Mariana, o artista ingressou no mercado editorial, criando ilustrações para revistas e livros, até desenvolver seu estilo próprio, baseado na caricatura e em toques refinados de humor, perceptíveis em pequenos detalhes acrescidos ao tema das obras, o que exige uma atenção especial do observador.
A série de quadrões de Mariana foi iniciada há mais de 10 anos, com a produção dos primeiros 15 exemplares, desenvolvidos com a colaboração do historiador marianense Cristiano Casemiro, que há algum tempo encontravam-se em expostos no Centro de Atenção ao Turista (CAT), localizado na Rua Direita.
Recentemente, o acervo foi duplicado, com o desenvolvimento de outras 15 obras que, depois de uma temporada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, foram reunidos aos 15 exemplares anteriores, para a exposição inédita na cidade.
A abertura da exposição contou com a presença do prefeito interino de Mariana, Edson Agostinho, de vereadores, secretários municipais e de outros artistas, entre os quais, os poetas aldravistas e membros da Academia Marianense de Letras, Gabriel Bicalho, JB Donadon Leal e Andreia Donadon Leal.
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Entrevista de Camaleão à Agência Primaz
Ainda antes da abertura, o artista concedeu entrevista exclusiva à reportagem da Agência Primaz. Confira os principais trechos das declarações de Camaleão:
Início na arte
Minha família é toda de Mariana, mas eu nasci em Volta Redonda, por conta do meu pai, que é de Furquim [distrito de Mariana], e trabalhava na CSN [Companhia Siderúrgica nacional]. E lá eu não tinha o contato com esse tipo de arte que tem aqui em Minas. O nosso lá era mais editorial e aí era a revista Mad, Casseta & Planeta, essas coisas. Aí eu começo a desenhar e, quando meu pai aposentou e eu vim pra Mariana, primeiro Ouro Preto, depois Mariana, eu tive contato com essa arte nossa aqui. Então eu juntei um traço muito cômico que que vem do meu início, com a parte que eu vou chamar de mais acadêmica. Um trabalho mais direcionado para venda, mais profissional, porque é uma região de turismo, né? E o resultado é isso.
Opção pela caricatura
A gente começa copiando mesmo, mas a caricatura pegou pela atmosfera de humor que tinha dentro da minha casa mesmo. A gente foi pelos irmãos, pela revista Mad, que era um sucesso na década de oitenta, na pegada dessa cultura pop, né? E aí eu fui entrando nesse negócio do humor, me encaixando, mas nunca achei que eu ia viver disso, e só descobri isso aqui [em Minas Gerais].
Observação e atenção aos detalhes
[Observo] basicamente a forma. E é engraçado, porque é muita técnica mesmo. Uma pessoa muito gorda tem a cara mais arredondada, o magro normalmente é alto, com a cara mais “chupada”, né? E algumas características, tipo dente ‘pra’ frente, formato de nariz e orelhas, tamanho da testa…. A gente bate o olho e é na hora [que os traços são captados]. É ali que está o negócio, mas tem uma estrutura mesmo, tem uma técnica de observar o formato da cabeça, depois o formato dos olhos, e aí a coisa vai aparecendo. Mas, basicamente, é treino, é olhar.
Obras expostas e processo de produção
São 30, 15 feitas há dez anos. Você pode ver que até a pintura é mais ingênua do que agora, quando você compara com os últimos 15. Isso foi um trabalho que nós começamos com o Cristiano Casemiro que, por ser apaixonado pela cidade, veio me contar as histórias. E, aí, veio a ideia: “Poxa, vamos unir? Vamos unir essa história de Mariana, de uma maneira diferente e despertar o olhar, principalmente para as crianças. Só que, quando nós fomos fazer, quando selecionamos o trabalho, deu mais de trinta, mais de quarenta. Aí, nós fizemos 15 primeiro e, depois de dez anos, conseguimos fazer a segunda leva. [O resto] ‘tá’ escondido, mas uma hora sai.
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Trabalho x diversão
Eu fiquei um bom tempo no mercado editorial, né? Eu fiquei desenhando para a Editora Abril, revista Mundo Estranho, Superinteressante e livros didáticos, que era basicamente um trabalho de ilustração mesmo. Mas, com o tempo, eu percebi que era mais trabalho do que diversão, no meu entender, né? Então eu voltei ‘pras’ telas e eu venho, há muitos anos, contando a história de pessoas, e esses quadros aqui eu faço com a história das pessoas. Porque é uma fonte de informação, de bons casos de história de vida, né? Pessoas que são amadas, outras odiadas, tudo isso me interessa. Mas sempre de um modo respeitoso, apesar que, inclusive já aconteceu de algumas [pessoas que foram retratadas nas composições] que não gostaram e eu tirei.
Uso da tecnologia
Essa segunda fase foi feita no Photoshop mesmo. E depois escaneada, ou melhor, foi impressa no Canvas mesmo. É só porque o processo foi mais rápido assim, entendeu? Porque não ia ficar pronto, é demorado no pincel. O trabalho é a mesma coisa. A única diferença é que você usa a tecnologia. Seria mais ou menos um escritor escrevendo poemas no computador, sem que isso prejudique a criatividade. Tem o recurso lá, mas o traço é seu. A cor é sua. [O computador] não faz nada sozinho, ele é só uma ferramenta, um instrumento. Engraçado que há dez anos isso não existia, né? Hoje já está muito difundido.
Planos futuros
Vamos tentar [dar prosseguimento à série de quadrões sobre Mariana], e aproveitar os rascunhos que já temos, mas eu queria muito fazer um de Minas sabe? Eu tenho trabalhado ‘pra’ fazer um de Minas inteiro, temos alguns parceiros que têm interesse, que tem alguma forma de ajudar a gente. Porque, como a Mariana é a Primaz de Minas, isso meio que aconteceu em todas as cidades, né? É a Rua Direita, a Igreja da Sé, a Avenida Getúlio Vargas, Presidente Antônio Carlos que praticamente toda cidade mineira tem. E a igreja católica sempre muito presente, né? Então ela [a história] meio que repete em tudo.
E tem também a exposição que eu fiz do Ronaldinho [Gaúcho], que quer retratar uma carreira de uma grande personalidade do futebol que inspira muitas pessoas. E foi muito engraçado os quadros dele, porque são coisas que ele nunca fez. Mas, por ele ser gênio, algumas ele poderia ter feito, ou será que ele fez mesmo? Será que ele foi capaz de passar por onze jogadores? Nunca aconteceu, mas no pé dele poderia ter acontecido sim!