- Mariana
Subindo a Cidade Alta: Arraiá concentrou multidão na Arena Badaró
Evento movimentou o bairro Cabanas no final de semana
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O Arraiá da Cidade Alta aconteceu nesse final de semana, de sexta (18) a domingo (20), na Arena Badaró, no bairro Cabanas, e levou até o local artistas como Eduardo Costa e Trio Parada Dura, além de movimentar e proporcionar lazer à comunidade, mesmo em meio a polêmicas, suposto boicote e debates sobre as prioridades financeiras do município. Aprovado este ano na Câmara Municipal, o Projeto de Lei nº 27/2023 incluiu a festa no calendário oficial de eventos da cidade, mas, por pouco, ela não aconteceu. Além da fake news que passou a circular nas redes sociais, a Juíza da 1ª Vara Cível, Criminal e da Infância e da Juventude da Comarca de Mariana enviou uma liminar à Prefeitura, dois dias antes do início do evento, impedindo sua realização, sob pena de multa de R$100 mil reais.
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A fake news do dia 09 foi compartilhada em grupos do WhatsApp, acompanhada de documento oficial falsificado, informando a instauração do Inquérito Policial de Investigação nº 396/2023, com base na “existência de inúmeras denúncias (…) sobre desvio de verba pública e de recursos retirados da saúde para realização do evento”, o que deveria impedir sua realização. A Agência Primaz apurou que a adulteração do documento foi feita a partir de documento oficial, referente ao Inquérito Policial de Expulsão nº 106/2023, de São Paulo/SP, contra um cidadão estrangeiro, que convocava o indiciado a um julgamento e solicitava o acompanhamento de um intérprete para o seu interrogatório.
No documento falsificado, a citação do intérprete não foi retirada e nem a data alterada, constando assinatura eletrônica em abril de 2023, quando ainda não tinha sido divulgado o evento do bairro Cabanas. Além disso, o número do processo que consta no documento falso não consegue ser localizado no Portal da Transparência do Ministério Público Federal (MPF).
A falsificação de documento oficial pode ser considerada crime, de acordo com apuração feita pela Agência Primaz. Entretanto, não houve comunicação do fato à Polícia Federal, nem pedido de investigação do caso por parte do Executivo.
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Decisão judicial quase impede realização do evento
No dia 16 de agosto, a 1ª Vara Cível, Criminal e da Infância e da Juventude da Comarca de Mariana enviou à Prefeitura uma liminar para impedir a realização do evento, sob pena de multa no valor de R$100 mil reais. A justificativa que constava no documento era a proteção e a segurança do público, uma vez que o espaço não comportaria 20 mil pessoas, como o esperado.
“De acordo com o Promotor de Justiça, a ‘catástrofe que pode ocorrer com a manutenção do evento na localidade se iguala à morte de Santiago Nasar na célebre obra de Gabriel García Márquez, (…), na qual toda uma cidade assiste de forma passiva o desenrolar de fatos que culminarão na morte do protagonista…”, foi uma das justificativas incluídas no documento, para embasar a decisão de impedir a realização do evento. Também foram citadas possíveis trocas de tiros e pessoas que poderiam ser “alvejadas ou mesmo pisoteadas em caso de confusão”, em decorrência de possível confronto entre gangues durante o evento. As observações são baseadas em informações repassadas pela Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG).
Após o evento, o Tenente da Polícia Militar, Thiago Henrique Mota, afirmou que a segurança foi extremamente reforçada e todo o efetivo policial de Mariana se fez presente. “Reduzimos períodos de descanso e empenhamos todo o contingente possível no local”, afirmou o tenente à Agência Primaz.
Preconceito
A organização do evento, por meio do perfil oficial do Arraiá Cidade Alta, em nota de esclarecimento, alegou “tratamento negligente e preconceituoso” por parte da administração municipal diante do compartilhamento de informações falsas a respeito da festa. A nota também afirmou que o Arraiá é uma forma de promover inclusão social, movimentar a economia e colocar a comunidade em foco, e que a verba não é originária de recursos da Prefeitura, mas sim de recursos externos. “O Arraiá CDA é realizado com pagamento de recursos conquistados, sendo assim, não causou nenhum tipo de prejuízo aos cofres públicos da cidade”, diz a nota. Contudo, o texto também afirmou que a organização foi da Prefeitura de Mariana e da associação de moradores, “não sendo uma festa de vereador X ou Y, nem mesmo um ato de politicagem”.
O vereador Manoel Douglas Soares (PV), conhecido como “Preto do Cabanas”, que foi um grande apoiador do evento, em entrevista à Agência Primaz, também alegou preconceito com a região e tentativas de impedir o evento. “O pessoal olha o cálculo só do custo, mas não olha o retorno. Fora a diversão, o lazer e a valorização do bairro, que vinha sofrendo preconceito, de que não podia fazer porque tinha invasão. Tentaram de qualquer forma inviabilizar o evento, mas a gente defendeu com unhas e dentes. (…) O problema não é dinheiro, é gestão. Aí eu vou privar o Cabanas? Dá essa repercussão toda porque é Cabanas? Por que não parou a Exposição? Que foi quatro vezes maior o valor e ninguém falou de tirar recurso da saúde e educação”, desabafou.
De onde veio a verba?
“Preto” também falou sobre a verba do evento e que os artistas locais foram contratados com ajuda da associação de moradores, exceto as contratações maiores, como Eduardo Costa e Alan e Alex, que foram custeados pelo município. “Os artistas locais foram contratados com ajuda da associação. Geralmente é até muito difícil acontecer isso, costuma ser tudo por conta do município. Tiveram alguns patrocínios da comunidade, coisas que faltavam, eles ajudavam, despesa de camarim…o município não arcou com quase nada”. O vice-prefeito do município, Cristiano Vilas Boas, secretário de Cultura à época da organização do evento, afirmou que a secretaria apoiou o Arraiá com a estrutura dos shows e com as atrações principais.
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Reconsideração da liminar
Quanto à liminar enviada pela 1ª Vara Cível, Criminal e da Infância e da Juventude da Comarca de Mariana, o presidente do Partido Verde afirmou que trabalhou junto à comunidade para reverter a decisão da juíza. “A própria associação de moradores, junto com a associação de barraqueiros, entrou com pedido de reconsideração e um agravo na 2ª instância, por causa da urgência. A polícia fez uma nova análise e a juíza reconsiderou a decisão e liberou, às 18h30, da sexta-feira”.
O evento, cujo início estava previsto para as 18h desse dia, mesmo com atraso, obteve “resultado satisfatório”, segundo Manoel Douglas, por ter movimentado a economia local e ter tido garantia de segurança. “Conheço o bairro que eu moro há 20 anos. É lógico que um evento de grande porte tem que ter segurança e todos os cuidados. Mas a preocupação de muitos, que era ter briga e fatalidade, não ‘teve’ nada. Esse foi um dos maiores ganhos que podíamos ter, fora o retorno financeiro pros empregos que foram gerados de forma direta e indireta”, concluiu o vereador.
Opinião do público
Nas redes sociais, a opinião se dividiu entre quem apoiou a realização do evento e quem fez críticas à situação atual do município. “Show ‘bacaníssimo’ em uma ocasião totalmente errada! Momento prejudicial à nossa cidade. Muitos festejando hoje e amanhã reclamando da falta de tudo no lugar que moram! Absurdo”, lamentou um internauta em uma publicação oficial da Prefeitura de Mariana, com trecho em vídeo do show do cantor Eduardo Costa.
Por outro lado, também foram publicados comentários positivos: “Minha experiência no evento foi muito boa, achei muito organizado, me diverti bastante, muitas pessoas discriminaram por ser realizado no bairro Cabanas, mas lotou e foi bom demais!”, comentou uma cidadã em outra publicação.
O vereador Manoel Douglas agradeceu a todos os marianenses que compareceram ao evento e a todos os organizadores e apoiadores, afirmando que será divulgado em breve o resultado de uma pesquisa que está sendo feita para comprovar os resultados do evento com números.