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Hoje é sábado, 23 de novembro de 2024

“Muito processo de ida e volta, muita corrupção”: Estudante de História mergulha na política marianense

Pesquisa histórica sobre prefeitos de Mariana está disponível na Wikipédia, com constantes atualizações

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Luiz Ricardo Resende, estudante de História na UFOP, é o respsonsável pela atualização das listas de prefeitos de Mariana, Ouro Preto e Piranga.
Foto: Arquivo Pessoal/Luiz Ricardo Resende

A lista de prefeitos de Mariana é grande e está disponível no Wikipédia graças a Luiz Ricardo Resende Silva, de 21 anos, estudante de História pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) desde 2021, que se debruça sobre os aspectos históricos e políticos de Mariana, Ouro Preto e Piranga, sua cidade natal. Luiz é autor de três livros de poesia e já realizou divulgações históricas em jornais, com poemas de teor político, além de realizar estudos sobre a história das Áfricas e história do Brasil. O estudante tem o trabalho de, voluntariamente, atualizar as listas de prefeitos das três cidades e de publicar verbetes de assuntos diversos no site, sempre com características históricas e políticas marcantes.

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Em Piranga (MG), cidade de aproximadamente 17 mil habitantes, o universitário já participava do Tribuna de Piranga, único jornal da cidade, em que publicava seus poemas críticos. O interesse pela política e pela publicação de informações históricas fez com que ele passasse a estudar melhor o passado político de Piranga, Ouro Preto e Mariana. A lista de prefeitos dessa última, segundo ele, não era completa e as das outras duas cidades nem existia.

Ele sabia que, em Mariana, havia muitas pesquisas sobre a Câmara e, então, decidiu se aprofundar até o período imperial. “Desde quando eu vim ‘pra’ Mariana eu já percebi que a política era bem singular”, afirma o estudante, considerando que a situação vem de longa data. “Há 20 anos atrás já era assim e na ditadura também já era assim”.

Para fazer a pesquisa histórica, Luiz recorreu a notícias já publicadas, mais comuns a partir de 2010, e a estudos mais minuciosos de épocas não tão documentadas, como o Império, a Primeira República e a Ditadura Civil-Militar.

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Jogo político

O “quebra-cabeça” político de Mariana, como ele descreve, permite fazer um paralelo com a história do Brasil, por ser uma cidade muito documentada e antiga. “Dá ‘pra’ fazer uma história do Brasil muito boa a partir da história de Mariana, porque, dizem, que foi a primeira cidade de Minas Gerais”.

Luiz deu o exemplo de Gomes Henrique Freire de Andrade, que deu nome à Praça Gomes Freire (Jardim), para comparar aos governos de períodos autoritários, como a Ditadura Militar e a segunda república de Getúlio Vargas. “Por exemplo, o Gomes Freire, a gente vê nele bastante do coronelismo, porque ele governou de 1902 até 1930, quase três décadas, foi quase um ditador”.

Ele também citou as disputas entre a Arena e MDB, durante a ditadura, sendo o primeiro o partido oficial do governo, restando ao outro o papel de oposição consentida ao regime. “Em Mariana, principalmente na ditadura, dá ‘pra’ ver as disputas entre o MDB e a Arena. Por exemplo, o Hélio Petrus, que foi prefeito na década de 70, se elegeu pelo partido da oposição (MDB) e foi deposto pela Câmara, que tinha a maioria da Arena, e, no lugar dele, assumiu o vice. Mesmo o vice sendo do MDB, ele construiu uma estátua ‘pro’ Médici”, terceiro presidente do Brasil durante a Ditadura Civil-Militar, de 1969 a 1974.

Coincidentemente, o episódio da deposição de Hélio Petrus, citado por Luiz Ricardo, vai ser o ponto de partida da quarta temporada do podcast “Memórias Primaz”, sobre os acontecimentos políticos de Mariana, nos últimos 50 anos.

Dom Oscar de Oliveira, inaugurando a estátua de Médici, na Praça Minas Gerais, em Mariana (MG)
Inauguração do monumento em homenagem ao general Médici. Foto: Reprodução/Rádio documentário Rebeldes
Mapa de apuração dos vereadores eleitosem Mariana para a legislatura 1971/1973
Vereadores eleitos pela Arena e pelo MDB, para a legislatura 1971/1973 - Foto: Reprodução/Rádio documentário Rebeldes

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Em comparação com Ouro Preto e Piranga, Luiz diz que a política de Mariana é muito diferente. “Aqui é muito comum prefeitos que não conseguem terminar os mandatos ou, quando terminam, são cassados ou têm que passar por um processo administrativo. Muito processo de ida e volta, muita corrupção, muito processo administrativo, que têm também em Ouro Preto, mas em um menor grau”.

Wikipédia

Além das listas de prefeitos, o estudante também atualiza várias páginas do Wikipédia e criou alguns verbetes de pessoas e locais. No caso de Mariana, estão disponíveis biografias de personagens como Gomes Freire, Hebe Rôla, Hélio Petrus e Elias Layon; além de verbetes das praças Gomes Freire e Claudio Manoel (Praça da Sé), da Academia Marianense de Letras, do distrito de Águas Claras e da Associação Quilombola Vila Santa Efigênia e Adjacências, na página do universitário no site.

O estudante de História tem foco em estudos decoloniais e é autor de “Minha flor africana e outros poemas sociais” (2021), “Desgovernal” (2022) e “Concretude” (2022). Ele também realizou pesquisas sobre Juntas de Comércio durante o século XIX.

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