Matou o pai e casou-se com a mãe! O Mito de Édipo e as relações familiares
“Que os homens carreguem nos ombros a graça de um pai, que a mulher seja um céu de ternura, aconchego e calor e que os filhos conheçam a força que brota do amor!” (Padre Zezinho)
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Ouça o áudio de "Matou o pai e casou-se com a mãe! O Mito de Édipo e as relações familiares", de Júlio Vasconcelos:
Já tivemos oportunidade de trazer nessa coluna alguns artigos com o objetivo de refletir um pouco sobre os ensinamentos da Mitologia Grega relacionados ao comportamento do ser humano: O Mito das Cavernas de Platão, abordando a questão do desenvolvimento espiritual, o Anel de Ginges sobre questões éticas e O Mito de Sísifo, sobre a bestialidade do ser humano. Hoje gostaríamos de refletir pouco sobre o Mito de Édipo, escrito pelo filósofo Sófocles no Século V A.C, e as relações familiares.
Conta a história que Édipo era filho de Laio e Jocasta, reis da cidade de Tebas. Um oráculo de Delfos anunciou-lhes que Édipo mataria o próprio pai e casaria com a mãe. Em estado de choque, os pais entregam a criança para um servo para que ele a matasse. O servo, com pena da criança, deixou-a amarrada pelo pé em uma árvore, em um bosque e desapareceu.
Édipo então é encontrado por um camponês, que o leva para Corinto e lá ele é adotado por Pólibo e Mérope, reis dessa cidade. Ele cresce acreditando ser filho biológico deles.
Quando adulto, Édipo vai ao mesmo oráculo de Delfos e recebe a mesma profecia que seus pais tinham recebido quando ele nascera: ele seria o responsável por matar o próprio pai e desposar a própria mãe. Para fugir de seu destino, Édipo decide sair de Corinto e se mudar para Tebas, cidade onde nasceu. No caminho, ele encontra Laio, (sem saber que era seu pai), e um servo e eles se desentendem por questões banais relacionadas à obstrução do caminho que estavam seguindo. No meio da confusão, Édipo é agredido, fica enfurecido, perde o controle e acaba assassinando Laio e o seu servo, matando assim, sem saber, o seu próprio pai
Chegando a Tebas, Édipo encontra a cidade sendo atacada por uma esfinge, um ser monstruoso que apresenta um enigma a todos os viajantes que chegam lá. Os que não sabiam a resposta eram mortos por ela. Édipo consegue então desvendar o enigma e a esfinge envergonhada, comete suicídio, lançando-se em um precipício. A população de Tebas fica profundamente grata por Édipo libertar a cidade daquele monstro e, em gratidão, oferece a ele o trono da cidade e a mão da rainha Jocasta em casamento. Édipo, sem saber que Jocasta era sua mãe, aceita tanto o trono quanto o casamento, tornando-se rei de Tebas e marido de sua própria mãe, tendo com ela quatro filhos.
Anos depois, uma praga atinge Tebas e Édipo procura a ajuda de um adivinho para conseguir livrar sua cidade desse mal. O adivinho desvenda a verdade e conta tudo a Édipo, afirmando que ele tinha assassinado seu pai, casado com a sua mãe e era o responsável pela tragédia que afetava seu reino.
Dessa forma, Édipo e sua mãe Jocasta entendem a desgraça que tinha acontecido. Jocasta, então, em profundo desespero, tira a própria vida. Édipo, abdica do trono de Tebas e, desesperado, fura seus próprios olhos, passando a vagar como um mendigo pela cidade.
Então, o que podemos aprender com essa terrível tragédia grega?
Para responder a essa pergunta, em um primeiro momento, é necessário recorrer ao médico e psicanalista alemão Sigmund Freud (1856-1939), considerado o “o Pai da Psicanálise”. Ele se apropriou do Mito de Édipo para formular sua Teoria do Complexo de Édipo, onde pregava que, em toda família, existe inconscientemente um desejo incestuoso do filho, enquanto criança, pela mãe e o pai é uma figura odiada por atrapalhar essa relação. Sendo assim, todo menino normalmente enxerga, entre os três e os seis anos de idade, o pai como um rival e deseja de forma inconsciente a sua morte. Com o passar do tempo e o amadurecimento, esse complexo é normalmente superado, no entanto, existem alguns casos clínicos que precisam de terapia e aí surge a psicanálise. Mais tarde, Jung, outro grande psicanalista suíço, contemporâneo de Freud, criou o Complexo de Electra, onde a filha se apaixona pelo pai e, da mesma forma, inconscientemente deseja a morte da mãe. Mas deixemos de lado Freud e Jung e suas teorias e vamos dar uma olhada em alguns fatos do nosso mundo atual.
Quantos pais e mães abandonam seus filhos pequenos na floresta selvagem da televisão, da internet, dos joguinhos eletrônicos e das redes sociais, justificando que não têm tempo para cuidar deles?
Quantos filhos adultos matam seus pais, não só fisicamente, mas de preocupação e desespero por se enveredarem no mundo das drogas e da prostituição?
Quantos filhos adultos exploram e abusam de suas mães, acomodados e preguiçosos dentro de casa, sem fazer nada, enquanto elas trabalham arduamente para sustentar o lar?
Quantas mães se suicidam lentamente no mundo da vaidade, do exibicionismo e da futilidade exacerbados, deixando seus filhos pequenos sem educação, sem carinho e sem proteção?
Quantos filhos adultos andam sem rumo e sem direção pelas ruas como se estivessem com os olhos furados, sem enxergar que estão indo direto para o fundo do poço!
Infelizmente, as nossas famílias estão se desestruturando e a tragédia vivida por Édipo anda dando fortes sinais que ronda por aí! Como tão bem declama o nosso querido Padre Zezinho em sua Oração da Família, precisamos nos conscientizar e orar para que as famílias comecem e terminem sabendo onde vão, que os homens carreguem nos ombros a graça de um pai, que a mulher seja um céu de ternura, aconchego e calor e que os filhos conheçam a força que brota do amor!
Quem tem ouvidos, que ouça!
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