- Mariana
Carnaval 2024 tem foco em algumas antigas lendas marianenses
Conheça cada uma das inspirações do Carnaval “Fantasias da nossa História”
O Carnaval 2024 de Mariana traz como tema “Fantasias de nossa História”, com seis personagens folclóricos da Primaz ilustrados pelo artista Camaleão. Caboclo D´água, Capitão Jack, Maria Sabão, Procissão das Almas, Mãe Do Ouro e a Noiva de Furquim são famosas lendas marianenses que, como muitas outras, já se tornaram tradição e cultura do interior de Minas Gerais. Mariana possui uma longa relação com o sobrenatural, carregando uma coletânea extensa de assombrações, espíritos, monstros e outros seres místicos, contando inclusive com uma Associação de Caçadores de Assombração de Mariana (ACAM).
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História das seis lendas marianenses que compõem o enredo do Carnaval
Procissão das Almas
A lenda da “Procissão das almas” possui uma versão diferente para cada interior histórico de Minas Gerais. Até mesmo em Mariana, os detalhes da história variam a depender do interlocutor. A versão mais conhecida, é a retratada pelo jornalista Prof. Waldemar de Moura Santos, no livro Lendas Marianenses.
Na versão do Professor, a tradicional “Procissão do Miserere”, que acontecia durante as sextas-feiras da Quaresma, era um cortejo formado por mortos, sendo proibido aos vivos assistir ao desfile. Os moradores da atual rua Dom Silvério, ouviam sempre apavorados a procissão que passava lá fora passava, sem coragem de espiar.
Até que uma senhora viúva fofoqueira, despejada do bairro São Gonçalo devido à sua língua ferina, mudou-se para a rua Dom Silvério. Em uma noite, enquanto espiava pela janela, surgiu a Procissão do Miserere e um dos Irmãos, então, entrega a ela uma vela.
A mulher, injuriada pelo gesto, atira insultos ao homem. No retorno do desfile, o Irmão pede o presente de volta e, quando a mulher vai buscar, percebe uma ossada de defunto ainda envolta em terra no lugar onde tinha colocado a vela.
O homem, então, em linguagem assombrada e assustadora, diz à senhora que guarde sua língua e deixe a noite para os mortos, com um aviso de que, em breve, a senhora iria se juntar à procissão. Passados alguns dias, a mulher fofoqueira morreu.
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Mãe de Ouro
A lenda da Mãe de Ouro também é tão antiga quanto a mineração no Brasil. Com diversas versões em diferentes cidades interioranas de Minas, em Mariana conta a história de uma bola de fogo que é vista pelas áreas rurais e passa pelos matos sem queimar a vegetação.
Em outras versões, a Mãe de Ouro é uma bela mulher com cabelos dourados que pode se transformar em bola de fogo e estrela cadente. Em algumas lendas, a Mãe de Ouro indica aos garimpeiros onde está o ouro e, em outras, ela engana os garimpeiros e protege a natureza.
Capitão Jack
Essa é uma lenda local, conhecida na Mina de Passagem de Mariana, que se refere ao inglês Thomas Treloar, que trabalhou na Mina no século XIX. Segundo relatos, Thomas nunca se recuperou da morte da esposa, Alanina, e seu coração ficou para sempre com ela em Passagem.
As histórias contam que um vulto fantasmagórico, montado em um cavalo, se identifica como capitão Jack, que seria Thomas Treolar, e visita sua esposa no local onde havia o antigo cemitério inglês.
Até os dias atuais, moradores e trabalhadores da região afirmam avistar Capitão Jack rondando pela Mina de Passagem, montado em seu cavalo. Alguns, mais temerosos, já até pediram demissão para evitar a figura.
Caboclo D’ água
O Caboclo D’água também é uma entidade conhecida de rios espalhados pelo Brasil, tido como um defensor da natureza, mas que assombra e mata os pescadores e navegantes. Em Mariana, o monstro aterroriza moradores da região do Ribeirão do Carmo e é descrito como peludo, com dentes, unhas e olhos grandes, além de um apetite voraz.
Noiva de Furquim
A lenda da Noiva de Furquim conta a história de uma moça que teria falecido em um acidente de ônibus na estrada do distrito, vitimando outras 12 pessoas. A fatalidade teria ocorrido na década de 1970 e, desde então, motoristas e moradores da região alegam ver uma mulher loira, vestida de branco, pedindo carona, mas que desaparece quando entra no veículo.
Maria Sabão
Maria Sabão também é uma história famosa em vários interiores do Brasil que conta sobre um escravizada do século XVII que fazia sabão com a gordura de crianças desobedientes. Em Mariana, a Maria Sabão assombra uma caverna em Passagem e, de vez em quando, moradores dizem vislumbrar o vulto da mulher.
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A arte de Camaleão para o Carnaval marianense
O artista autodidata Emerson Carvalho, mais conhecido como Camaleão, foi o responsável pelas ilustrações do Carnaval 2024 de Mariana. Com uma longa trajetória em terras mineiras, sua família é de Furquim, mas ele nasceu em Volta Redonda – RJ, retornando para a Região dos Inconfidentes aos 17 anos.
Ainda jovem, em Volta Redonda, sua arte era muito cômica, trazia referência das revistas de humor da época, como a magazine de quadrinhos “Chiclete com Banana” e a revista estadunidense “Mad”.
Somente quando retorna à Minas Gerais e começa a ter um contato mais direto com os artistas locais, pintores, escultores e suas artes de casarios e releituras do barroco, é que Camaleão encontra o estilo que leva até hoje em suas obras:
“Pela primeira vez eu tive contato com artistas de verdade, porque lá [em Volta Redonda] era só revista, então você não vê o artista, só a obra. Eu falo que a minha formação como artista, quando eu começo a trabalhar mesmo, ganhar dinheiro e virar um profissional da área, passa exatamente pela influência que eu tive com os artistas de Mariana”, relembra Camaleão.
O convite para fazer as ilustrações do carnaval deste ano veio do secretário de Cultura, Gustavo Leite, e do prefeito Celso Cota, e o artista conhecia quase todas as lendas marianenses – a menos familiar era a Mãe D’Ouro e a mais conhecida é a Noiva de Furquim.
O artista aproveitou a liberdade do carnaval e trouxe o seu humor característico para os seis personagens. “Levei para o lado engraçado mesmo, eu acho que pelo menos vai chamar atenção, né? Me senti honrado demais, ‘tô’ muito alegre pelo respeito foi tratado com a minha arte e espero que todo mundo brinque carnaval e ninguém vire fantasma, né? Mas eu fiquei muito satisfeito, muito alegre mesmo com as possibilidades”, afirmou Camaleão.
Feliz por ver sua arte representando o carnaval tão tradicional de Mariana, Camaleão já teve a Primaz de Minas como foco da sua arte em outras ocasiões, inclusive na série “Mariana em Quadrões”, que conta a história da cidade de maneira lúdica e bem humorada. “Eu espero inspirar mais pessoas em Mariana, entendeu? Não só em Mariana, onde a gente passar, né? Se a gente conseguir colocar pelo menos umas 10 crianças nesse caminho de entender que a arte é importante, já é uma grande vitória. Então, minha proposta final de tudo que eu fizer da minha vida é inspirar pessoas e o carnaval eu acho que vai ajudar nisso”, declarou o artista, em entrevista concedida à Agência Primaz.
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Associação de Caçadores de Assombração (ACAM)
Mariana já esteve sob holofotes estaduais e nacionais algumas vezes, devido a suas lendas e histórias. A Associação de Caçadores de Assombração existe há cerca de 10 anos e é um dos principais responsáveis por manter viva a cultura das lendas marianenses. Além de contar as histórias assombrosas com testemunhos, a ACAM também desenvolve um interessante trabalho de conservação de patrimônio e documentação histórica.
A ACAM surgiu devido ao Caboclo D’água, quando os diversos testemunhos e relatos, a respeito da criatura, levaram Vicente Evangelista de Oliveira, Milton Brigolini Neme e Leandro Henrique dos Santos a fundar a associação para encontrar o Caboclo.
Vicente Evangelista diz que a ACAM já tomou algumas medidas para conseguir capturar o Caboclo, algumas das quais foram noticiadas em veículos estaduais e nacionais, como a armadilha de “isca humana” para captura da assombração.
Segundo Vicente, a ACAM estava muito próxima de conseguir um material mais concreto do Caboclo D’água quando aconteceu o rompimento da Barragem de Fundão em 2015. Desde então, a entidade não é mais avistada.
Vicente ressaltou a importância de trazer essas lendas e histórias no Carnaval: “Eu achei interessante demais. Isso é cultura. Achei interessantíssimo. São histórias, como saci-pererê, Papai Noel”, declarou. Para ele, o Caboclo D’água é o personagem mais importante entre os seis escolhidos para representar o carnaval: “É o que mais teve repercussão nacional, apareceu no Jornal Nacional”, finalizou o caçados de assombração.