- Mariana
Historiador marianense foi referência na Sapucaí
Escola de samba Unidos do Viradouro foi campeã do carnaval do Rio de Janeiro com referências religiosas africanas
A escola de samba carioca Unidos do Viradouro, de Niterói, foi a campeã do carnaval do Rio de Janeiro deste ano, trazendo referências de práticas religiosas de mulheres africanas em Minas Gerais. A escola, que desfilou na Sapucaí na segunda-feira de carnaval (12), levou o título de campeã com 270 pontos e foi liderada pelo carnavalesco Tarcísio Zanon. O enredo da escola foi inspirado no livro “Sacerdotisas voduns e rainhas do Rosário: Mulheres africanas e Inquisição em Minas Gerais (século XVIII)”, de Aldair Rodrigues e do historiador marianense Moacir Maia, lançado em março de 2023.
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Conheça a história
Com o título “Arroboboi, Dangbé”, o enredo da Unidos do Viradouro levou à Sapucaí a valorização de mulheres negras africanas e referências ao culto à serpente sagrada vodum, presente no reino Daomé – atual Benim -, país da África Ocidental, e local de origem da religião vodum. No livro de Aldair Rodrigues e do marianense Moacir Maia, são trazidos documentos sobre a vida e as crenças das mulheres que viviam na Costa da Mina, na África Ocidental, e que foram trazidas para o Brasil, escravizadas.
Muitas dessas mulheres foram perseguidas pela Inquisição – movimento político e ideológico da Idade Média – e se tornaram sacerdotisas voduns, exercendo lideranças de comunidades negras e ocupando cargos de juízas e rainhas da Irmandade Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. O livro “Sacerdotisas voduns e rainhas do Rosário: Mulheres africanas e Inquisição em Minas Gerais (século XVIII)” traz quatro manuscritos dos processos contra essas mulheres, que eram utilizados como uma forma de perseguição.
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O primeiro documento é de 1747 e trata de um culto em Paracatu (MG) dedicado ao “Deus da Terra de Courá”; o segundo e o terceiro trazem a figura de Ângela Gomes, que realizava rituais africanos na comarca de Ouro Preto e foi coroada como rainha do Rosário; e o quarto, de 1759, detalha as práticas de Teresa Rodrigues e Manoel mina, na comarca de Sabará.
Papel do historiador marianense no enredo
Moacir Maia é formado em História pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), mestre em História pela Universidade Federal Fluminense e doutor em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele contou à Agência Primaz que o primeiro contato entre ele e a Unidos do Viradouro foi em 2022, quando a escola de samba utilizou seu livro “De reino traficante a povo traficado: a diáspora dos courás do golfo do Benim para Minas Gerais” (2022) como base para fundamentar o enredo do desfile de 2023.
A obra de 2022 trata da história da africana Rosa Maria Egipcíaca, biografada por Luiz Mott, e do território de onde ela veio. “A escola me convidou ‘pra’ conhecer o seu barracão e a quadra. Comentei que estava a publicar o desdobramento desse primeiro livro, que era esse com Aldair Rodrigues. O carnavalesco ficou fascinado com o tema”, explicou o historiador marianense.
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“Como profissional da história, é uma grande alegria saber que o livro que eu e Aldair Rodrigues publicamos tenha inspirado uma escola de samba do Rio de Janeiro, agora a campeã desse carnaval, a olhar ‘pra’ essas culturas africanas que trazemos no livro e tocar toda uma construção que reúne outros pesquisadores, intelectuais, todo esse mundo do carnaval”, declarou Moacir, ao expressar sua satisfação por ter feito parte desse trabalho.
Ele também frisou que era um objetivo dele e de Aldair que a obra chegasse ao grande público, como aconteceu, e que a escola de samba tem o potencial de ser educadora por beber de várias fontes e realizar um trabalho minucioso, que envolve aderecistas, costureiros, mecânicos e inúmeros outros profissionais.