O que me pasma
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Ouça o áudio de "O que me pasma", de Andreia Donadon Leal:
Estes dias não andam bem. Aliás, há tempos vamos ladeira abaixo nos quesitos: relacionamentos e deboches. Sim, deboche é algo que sempre me incomodou, por ser uma espécie de bullying, com gosto de fel, e cheiro de preconceito. Graças a Deus, o calor terrível do verão está indo embora.
Quem dera se o tempo fosse assim: nem frio nem calor. Meio termo, nem ‘pra’ um nem pra outro, mas uma doce convivência entre um e outro. Assim deveria ser também os relacionamentos e o respeito ao sofrimento ou histórias tristes dos outros.
Eu ainda permaneço aterrorizada com assuntos viralizados na Internet. O mês de abril marcou o fim do BBB. Reality Show que continua dando polêmica.
Pasmem! Grande parte do povo escolheu um garoto de vinte e um anos. Pobre, negro, altivo, atrevido; afrontou e gritou com mulheres e com seus oponentes em todo o jogo. Parecia uma máquina mortífera de respostas-ataques. A última palavra era dele. Emponderado, inteligente e altamente competitivo. Todos os atributos necessários para viver aquela clausura televisiva.
Antes da fama, era casado. Depois do prêmio de milhões, mudou de status de relacionamento. Já não era casado, apenas namorava com a ex-mulher (?). Não é de se pasmar com a história desse garoto de vinte e um anos, deslumbrado com os milhões de seguidores, com os holofotes da mídia e sua falta de maturidade para lidar com emoções aos turbilhões. Sinto pena. Sinto pena dele e da sua namorada, ex-esposa (?).
Sinto pena dos participantes do reality que bateram de frente com esse menino. Sinto pena, sinto muita pena. Não sei até que ponto chega minha pena. Sua vitória teria sido uma escolha equivocada? Não sei, não tenho bola de cristal na mão, nem sou psicóloga para avaliar o comportamento combativo e imaturo do ganhador. Sinto que ele está perdido. Foi muito? Muito deslumbramento ou muita gente fazendo pressão a quem não amadureceu?
Afinal, o cérebro de uma pessoa de vinte e um anos vai crescer, se transformar. A ciência diz que o cérebro só está completamente formado depois dos vinte e cinco anos. Então, ‘tá’; está tudo bem. Muito bem explanado e explicado, o comportamento do ganhador do reality.
O que me pasma é o comportamento de um apresentador de programa com dobro da idade do garoto, e de outras pessoas que fazem vídeos e piadas com o triste acontecimento do “Tio Paulo”, um senhor-morto levado a uma agência bancária por uma sobrinha, para assinar contrato de um empréstimo. Pois é, as coisas não estão bem, mas tem gente que consegue debochar do infortúnio do outro, e acha graça na desgraça dos outros. O senhor-morto no banco não pode se defender de deboches.
O senhor-morto, nem nós-vivos conseguimos tirar postagens criminosas das redes ou pedir para alguma autoridade determinar que qualquer pessoa que debochar de um corpo morto sofra as sanções da Lei. Tenho fé, muita fé, que alguma autoridade possa criar um projeto de lei que criminalize a banalização da morte. Para o apresentador ridículo que reproduziu a história, quem sabe um exame de consciência? Se é que consciência nasça em um cérebro de 40!
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