- Mariana
Teatro Navegante de Marionetes comemora 30 anos de história
No Dia Nacional do Teatro de Bonecos, uma das atividades foi relembrar a história do primeiro espetáculo da companhia
De pés descalços, tocando o chão de taco do palco, Catin Nardi e Renato Coelho ocuparam o Cine Teatro Mariana, na manhã de sábado (27), para celebrar os 30 anos do Teatro Navegante de Marionetes. Como parte da programação da XII Mostra Internacional de Bonecos, o idealizador do evento e o homenageado desta edição trouxeram um pouco da história de sua parceria que culminou na criação da companhia de teatro de bonecos.
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Início do Teatro Navegante de Marionetes
Em uma parceria que nasceu em meio às praias do Espírito Santo (por isso os pés descalços), Catin e Renato se uniram na amizade e nas ideias. Renato Coelho é o homenageado desta edição em razão do papel fundamental que teve para a origem da companhia. “Não tínhamos noção que chegaria a 30 anos, mesmo eu não estando dentro desses 30 anos. Mas foram os 3 primeiros anos com o espetáculo ‘Catavento’ que geraram esse resultado. Hoje eu fui convidado ‘pra’ ser homenageado, mas eu me dispus a ficar duas semanas em Macacos, Nova Lima, onde Catin está morando, e nós fizemos todo um restauro de bonecos, roupas novas para os bonecos que estão nas sacadas, e é uma coisa que eu gosto de fazer. Então, seguiu a parceria”, declarou à reportagem da Agência Primaz.
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Catavento foi o primeiro espetáculo da companhia
Partilhando o palco com a dupla, estavam expostas as marionetes do primeiro espetáculo realizado pelo Teatro Navegante de Marionetes, intitulado “Catavento”. Estreada em 1994, a peça acompanha uma família do campo pouco típica para a época. Segundo a dupla, a história dos personagens atravessa o tempo, perpassando por temas atuais. “O neném é branco, a mãe é indígena, o pai é um imigrante italiano, a vovó também é branca e o personagem Gafanhoto é negro. Então era uma família multirracial”, comentaram durante o bate-papo.
“Catavento” tratava de assuntos como o empoderamento da mulher e a inversão dos papéis de gênero. Joaninha, personagem do espetáculo, era uma mulher com poder de decisão e isso causava questionamentos do público. “Nós circulamos muito em cidades do interior e a gente era meio crucificado porque as mulheres não participavam da vida comercial e da produção”, revelou Catin.
Comemoração dos 30 anos do Teatro Navegante de Marionetes
O encontro contou com a presença dos artistas convidados para a mostra que, no Dia Nacional do Teatro de Bonecos (27), compartilharam suas perspectivas em relação à arte do bonequeiro. Entre os relatos, manifestações frequentes de preocupação sobre as dificuldades para manter a cena viva. “Todas as pessoas que estavam falando neste bate-papo não são produtores culturais, inclusive eu. Somos artistas que em algum momento decidimos tomar as rédeas para poder avançar e não perder esse universo de criação e produção. É necessário que haja mais pessoas dedicadas à produção, é necessário que haja mais gente interessada em fazer disso um bom negócio. A cultura e arte são um bom negócio!”, afirmou Catin Nardy à reportagem da Agência Primaz.
Como partilhado entre os presentes, a nova geração, as novas formas de socialização e o avanço das tecnologias influenciam os pontos principais da cena artística que são as conexões e o próprio panorama de formação de novos bonequeiros. O aprendizado é aspecto essencial do evento e, inclusive, a Mostra Internacional de Bonecos surgiu como uma forma de divulgar os resultados das oficinas promovidas por Catin. Entretanto, diante da queda de demanda, somente a Oficina de Figurinos foi realizada na edição deste ano.
Para o artista, tudo depende de políticas públicas e pessoas dispostas a manter o cenário artístico ativo. “Quero acreditar que a gente vai incentivar as pessoas a fazer oficina para manter a arte viva, incentivar as pessoas a produzir mais festivais porque existe um mercado e precisamos se valer dessas tecnologias ‘pra’ continuar girando uma roda de benefícios interminável porque quando se produz um evento, você está contratando técnicos, transporte, restaurante, hotéis, você contrata as próprias companhias”, destacou.
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Celebrando mais história: Os 15 anos do Bloconeco
Além da comemoração dos 30 anos do Teatro Navegante de Marionetes, a XII Mostra Internacional de Bonecos também marca os 15 anos de criação do Bloconeco, cortejo de rua composto por bonecos gigantes confeccionados por Catin. O desfile partiu do Cine Teatro Mariana em sua caminhada em direção à Praça Gomes Freire na noite de sábado. Atraindo público formado de todas as idades, os gigantes bonecos alegraram o Jardim com muita dança e animação, preenchendo a praça com sorrisos e encantamento.
Alessandra Santana viu o Bloconeco pela primeira vez e elogiou o desfile. “Foi incrível ver o trabalho, ver os bonecos dançando, pulando, interagindo com as crianças. É muito legal também ver como o pessoal da cidade se envolve com tudo isso. É tudo muito divertido, bem-feito, lindo e colorido!”, afirmou.
Iniciado em 2008, Catin afirma que mantém o trabalho vivo na base do peito e da raça. Tendo o Bloco Zé Pereira como inspiração, a intenção inicial era criar um personagem que fosse mascote de seu ateliê. Atualmente o Bloconeco conta com variados personagens de diferentes culturas. “Hoje a gente está festejando esses 15 anos do bloco renovado com figurinos novos, trilha sonora nova e com toda uma pegada do momento muito interessante”, declarou.
O Bloconeco passou por algumas adaptações ao longo do tempo, buscando sempre manter sua identidade. Excepcionalmente, na noite de sábado, o bloco usou alternativamente som mecânico, porém Catin explicou que o trabalho normalmente é acompanhado de uma banda. “Durante muito tempo, tive uma banda que eu mesmo montei com músicos daqui, depois fomos acompanhados por outras bandas. Para viabilizar o trabalho, comecei a adotar um formato que é levar os bonecos e contratar uma banda local. Ao longo do tempo, com muitas bandas diferentes, a identidade do trabalho foi se perdendo”.
Como forma de manter a identidade, o bonequeiro caprichou na construção da identidade visual. A partir da Oficina de Figurinos de Teatro, oferecida como parte da programação da mostra, os alunos confeccionaram vestes novas que serão usadas nos próximos desfiles. “A oficina foi de figurinos porque, normalmente, somos acompanhados por uma banda. Então, precisávamos criar uma roupa que fosse fácil de qualquer pessoa vestir ‘pra’ que, justamente, todas as apresentações que fizermos sejam acompanhadas por uma banda vestindo um figurino específico que é do cortejo. Então, esse trabalho é valiosíssimo porque vai contribuir com a identidade do projeto daqui ‘pra’ frente em todos os lugares onde a gente for apresentar”, finalizou Catin.
Anne Souza, aluna da Oficina de Figurino, destaca a importância da oportunidade para se conectar com o movimento cultural de Mariana, além da satisfação de saber que os figurinos confeccionados vão ser utilizados nos desfiles. “Foi uma experiência muito boa. Tive a oportunidade de aprender um pouco mais de costura, de me conectar com as pessoas envolvidas na mostra, além de tomar conhecimento de que este tipo de trabalho também é feito dentro do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) de Ouro Preto”.
Após o desfile do Bloconeco, a noite terminou com a apresentação do espetáculo de bonecos de luva, “Kasper e a cerveja do Papa”, pelo grupo Trip Teatro de Santa Catarina e Alemanha.