- Mariana
ELEIÇÕES 2024 – Aída Anacleto (Partido dos Trabalhadores)
Entrevista é a segunda da série relacionada às eleições de 2024, em Mariana
Em entrevista gravada no estúdio da Agência Primaz, em 03 de maio, Aída Anacleto, ex-vereadora e presidenta do Partido dos Trabalhadores, fala de suas origens, de sua trajetória, da atuação na Câmara Municipal, e analisa o quadro político de Mariana, com vistas às eleições de outubro deste ano. Confira, neste texto, algumas das declarações de Aída Anacleto e confira, no link abaixo, o vídeo completo da entrevista.
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Quem é Aída Anacleto?
Então, eu sou uma simples menina, uma jovem menina, atualmente aposentada, né, já aos 61 anos, e esses 61 anos basicamente foi de militância.
Então, eu sou filha de uma mulher preta do norte de Minas, analfabeta, que veio do norte de Minas, e sou filha de Rubens Anacleto, que é oriundo de Passagem de Mariana. Então a minha mãe vem do norte de Minas, eles se conhecem, e eles têm nove filhos. Eu sou a que nasci primeiro, somos sete mulheres e dois homens.
E meu pai faleceu muito cedo, eu tinha 14 anos e o meu irmão caçula, seis meses. Então minha mãe, pelo fato de ser analfabeta, de nunca ter aprendido a ler nem a escrever, ela teve muita dificuldade. E como ela vem do norte de Minas, o que ela sempre soube fazer foi trabalhar com a terra. Então, nesse momento, ela, com o nosso vizinho, Sr. Joaquim Gabriel, Dona Loura, ela faz uma parceria, né, que se fala meeiros. Então ela leva esses filhos para trabalhar na terra…
Mas, uma coisa bacana é que a gente trabalhava, mas a gente nunca deixou de estar na escola que para ela era prioridade uma vez que ela não lia e não escrevia. Meu pai era um leitor assíduo, um leitor voraz, tanto que os nomes dos seus filhos e filhas têm muito a ver com a literatura, ele era muito leitor daqueles livrinhos de bolso e um amante do cinema estava sempre em Belo Horizonte para ver os filmes.
Então a gente vem de uma infância pobre, mas feliz. Brincávamos nas nossas cachoeiras, a gente deu muito trabalho para a minha mãe, hoje eu reconheço isso porque tivemos uma infância muito feliz, mesmo com as dificuldades, por ser nove filhos, claro que se fosse nos dias de hoje, temos certeza que a luta seria muito maior. Mas como ela já era de luta, ela nos guiou nesse caminho. Eu acho que a minha mãe é a minha referência em toda luta que fiz e faço na minha vida, ela veio chegando naturalmente.
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Aída Anacleto e os estudos
Eu estudei na Escola Coronel Benjamin Guimarães, Tive a felicidade de ter Dona Hebe como nossa diretora, Dona Petita. Depois eu consegui, através do Padre Paulo, Cônego Paulo, uma bolsa para estudar na Escola Estadual Dom Silvério, que naquela época ainda era admissão.
Então eu tive essa grata alegria de ter tido professores excelentes, né, como Padre Flávio, Seu Geraldo, e vários outros, né, D. Cecília Godói, Aparecida Santos e vários outros. Mesmo na minha infância, na escola Coronel, Benjamin, eu tenho a alegria e satisfação de ainda ter vários professores naquele momento, como Betinha Camelo, e outros.
Então, a gente vem dessa construção de professores comprometidos com a causa, e ali eram para alguns ainda, porque a escola não era realmente pública. Eu sou muito grata ao Cônego Paulo por nos dar essa chance de construir meu caminho.
Depois eu fui para fazer magistério lá no Padre Avelar. Fiz, mas eu só fui um dia trabalhar. Não deu certo. Eu entendi que não iria dar conta de trabalhar com quatro séries, que era muito serial, e na zona rural era muito difícil, eu ainda muito jovem, porque a gente sempre trabalhou, inclusive, para ajudar em casa. Então, eu, quando me formei no Padre Velar, ‘pra’ minha mãe foi muito lindo, foi muito importante. Ela está ali, a primeira filha, né? E ela cozinheira, se tornou cozinheira do rancho do Barão. E que a gente viveu momentos muito felizes naquele lugar.
Então, assim, eu venho de uma construção sempre em luta, né? Depois, eu fui ‘pra’ universidade, ‘pra’ fazer um cursinho pré-vestibular em Ouro Preto, que a UFOP ofertava, na Escola de Minas, e que contribuiu também ‘pra’ que eu chegasse à universidade. E eu entrei para fazer o curso de letras. Então, eu fiz letras e depois eu fiz história. E quando fazia história, eu também aproveitei para fazer muitas disciplinas da filosofia.
Os primeiros passos de Aída Anacleto na militância
Naquele momento, chega o curso de Direito em Mariana. Aproveitei para fazer as disciplinas que eu tinha condições e tempo para entrar. E, neste momento também, a gente fazia uma luta operária aqui na cidade, porque ainda não existia o Sindicato Metabase Timbopeba. Então, eu sou dessa construção. Eu trabalhei no Cepsil. Então, na madrugada, a gente ia lá para construir o Partido dos Trabalhadores e também o sindicato. Nós estamos falando de 1987. Eu entrei na universidade em 1985.
Então, esse momento que a gente consegue ganhar, o Sindicato Metabase Timbopeba, é um divisor de águas, porque ele era uma associação de trabalhadores, com sede em Antônio Pereira, e foi aí que, quando ganhamos as eleições, e era todo mundo muito jovem, nós ficamos um tanto assustados. Isso se dá a essa carta de compromisso do sindicato, dessa construção, foi o ex-ministro Almir Pazianotto, foi ele o único sindicato distrital do país.
Então, ele era um sindicato de suma importância. E naquele momento, logo em seguida, na primeira Assembleia dos Trabalhadores, deflagrou-se uma greve dos trabalhadores na Vale aqui. Então nós estávamos, neste momento, com os trabalhadores, que chegou também Dom Luciano, o delegado, todo mundo veio abraçar os trabalhadores e foi uma greve que se expandiu para todos os estados desse país onde a Vale estava. Então, o sindicato se tornou uma fonte de pesquisa muito empoderada daquele momento.
Então, eu acho que eu sempre vivi num mundo político, porque eu sempre entendi que tudo é política. Se eu tenho acesso à terra, é uma política da agroecologia, da valorização do meio ambiente. Então, eu sempre cresci da dignidade do trabalhador do campo. Eu tenho aquele lema dele sempre, se o campo não planta, a cidade não janta.
E a gente aprendeu também nesse percurso do Sindicato Metabase, que eu trabalhei por 14 anos e aprendi muito. Principalmente nesses momentos grevistas, que a gente vai entender qual é a luta e porque se faz a luta. E é um momento diferente, que hoje a gente tem essa dificuldade do trabalhador ter esse entendimento. Claro que é por causa de momentos diferentes, mas a gente tinha o apoio, inclusive, de muitos professores da universidade naquele momento.
Começo da vida política de Aída Anacleto
E, a partir daí, quando chego em Mariana, em 2004, eu me candidatei, inclusive, a vereadora nas eleições de 2004. Aí eu tive 402 votos. Eu falei, opa! É, eu acho que ‘tá’ bacana, né? E em 2008 consegui 802 votos. Dobrei. Mas nesse período também o Partido dos Trabalhadores fez uma coligação, que foi naquele momento com o Celso Cota, e por ele abraçar as nossas bandeiras, como, por exemplo, o orçamento participativo. E eu tive a alegria e a honra de implementá-lo em Mariana, e foi um trabalho muito árduo.
Eu ainda não sei por que é que a nossa população não se rebela e cobre essa legislação. Porque inclusive foi, sempre é, uma das pautas que a gente coloca como moeda ‘pra’ se coligar com o partido.
Eu sou a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira na Câmara de Mariana, ‘pra’ mim isso é uma honraria muito grande. Foi um período de muito trabalho, porque tudo que a gente faz é com muita intensidade, né? E o nosso mandato coletivo e participativo, nós o construímos com base nas lutas que a gente sempre acreditou.
Então nós tivemos, nós temos em nossa cidade 33 leis que são de nossa autoria, que a gente apresentou durante esses quatro anos. Foi um período muito conturbado de nossa política, porque foi quando nós tivemos sete prefeitos.
E aquele ditado, né? Pau que se bate em Chico, bate em Francisco. E como eu tinha que exercer a minha função que o povo me delegou, eu sempre tive esse olhar. Eu sempre fui muito radical nesse sentido. Para mim, a minha parceria é com o povo. Eu nunca abri mão disso. Então, a gente teve pautas muito sensíveis, que foram abraçadas somente por mim. Como aquela luta que eles queriam retornar com a mina Del Rey.
Então, aquela luta é uma luta de Aída, né? Porque a Câmara, ela não abraçou essa causa, somente o efeito naquele momento era o vereador Bambu, que estava presidente da Câmara, né? E que esteve em nossa audiência pública, que a gente fez através da Assembleia Legislativa, uma vez que a gente não tinha esse apoio na Câmara Municipal.
Então, eu busquei a parceria com o meu amigo e companheiro Rogério Corrêa. Então, a gente tem essa relação muito próxima desde sempre, sabe? Desde quando ele era vereador em BH. E eu aprendi muito com ele nessa caminhada. E por isso que nos entendemos bem até hoje, né?
Esse período da Câmara de Mariana me ensinou muito. Foi onde eu tive muitas dores, passei por muitos momentos difíceis, por causa do entendimento que a gente não vai ocupar lugares, enquanto mulheres pretas, nós não podemos chegar em qualquer lugar sem o nosso preparo. Se a gente está na universidade, a gente tem que fazer com muito afinco. Qualquer luta que a gente faz, a gente faz com conhecimento de causa, porque senão o sofrimento é muito maior. Então foi onde eu passei por um processo de racismo, por causa das pautas que sempre defendi. Todas as leis que existem em defesa do povo preto, do povo negro marianense, é de nossa autoria. Eu digo nossa porque o mandato é coletivo e ninguém constrói nada só.
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Federação PT/PV/PcdoB
A Federação Brasil da Esperança, nasce nas eleições de 20222, e ela acontece em todos os municípios deste país. E aqui, Mariana, a gente tem a grata alegria de ter pessoas muito bacanas à frente destas agremiações, destes partidos. O PV, o seu presidente, que é o Manoel Douglas, o Preto, e o PCdoB que é o Diney e o secretário Alex Bailão, a gente conseguiu trabalhar de forma muito interessante
Eu acho que a respeitabilidade sempre prevaleceu e a gente está muito unido, sabe? Essa construção foi muito interessante aos meus olhos, e acredito que deles também. Nós saímos muito afinados, e foi tudo muito tranquilo, sem aquele estresse normal de quando se está nesse processo eleitoral, de construção eleitoral, né?
Então, nós conseguimos ter os nossos pré-candidatos, além do que nós precisamos, porque agora é só o início, né? Foi só esse período aí da janela litoral de registro de filiação. E que foi muito importante, porque várias pessoas neste viés ideológico acabaram se chegando. Claro que nós sofremos muita pressão para que outras pessoas estivessem ou no Partido dos Trabalhadores ou até mesmo na federação. Mas nós já estávamos alinhados, nós tivemos várias reuniões e todas muito tranquilas, mas saímos já com alinhamento.
Então, essa federação, ela caminha junto, e de forma plena. Eu acho que até então, naquele momento, só se fez a discussão das proporcionais, em nenhum momento houve discussão sobre majoritária. Eu acho que o prefeito Celso, que também estava engajado nessa organização dos possíveis pré-candidatos que seriam aliados a ele nesta caminhada.
E acho que agora que a poeira baixou, começa essa construção dessa chapa que eu ainda não sei, mesmo o Partido dos Trabalhadores estando vice, eu ainda não sei o que passa na cabeça dele ou do grupo político do qual ele pertence. Então, o que eu sei é o que todos nós da Federação sabemos. Nós temos de novo as mesmas pessoas à disposição. É tanto o nosso vice-prefeito, o Cristiano Villas Boas, tem também o doutor Leandro, né, que se desincompatibilizou, que é do PV, e a gente também tem ouvido, né?
Então, acho que o prefeito Celso tem um probleminha nas mãos para resolver no futuro próximo. Muda-se de partido. Então, acho que está muito cedo. Muita água tem para rolar debaixo dessa ponte e nós teremos a nossa pré-convenção e a nossa convenção.
Análise de Aída Anacleto sobre o quadro eleitoral de Mariana
Eu acho que nós vamos estar consolidando os nossos candidatos, a gente pretende ocupar uma cadeira, o Partido dos Trabalhadores pretende retomar a sua cadeira, que foi construída com muita luta, e ela foi entregue assim, num momento muito delicado de pandemia, onde nem todos nós fomos para as ruas, como é o meu caso, eu me tornei presidenta tempestiva do Partido dos Trabalhadores.
É claro que, eu não estou aqui num processo eleitoral, para estar presidenta mais uma vez, nessa nossa luta. A gente só está frente ao Partido dos Trabalhadores porque alguém soltou a mão. Então, caiu no meu colo e eu acho que muita gente, inclusive, não deve ter gostado da gente estar nesse lugar por causa que a gente te leva tudo dentro da legalidade. Não gosto muito dessa coisa de jeitinho brasileiro não, porque dá muito trabalho.
A população flutuante e as eleições em Mariana
Quando você vê, por meio dos dados do SUS, a gente tem 110 mil habitantes, que a gente constatou isso no final de dois mil e vinte, meados de 22, de 23. Porque isso interfere diretamente na qualidade dos serviços prestados. Então, as mineradoras, ao trazer os trabalhadores, porque não é mão de obra qualificada, porque a gente vê, é uma juventude que vem de lugares muito distantes, que deixa o seu modo de vida, sua família, e aí você se depara, inclusive, com esse aumento gigantesco da população de rua em nossa cidade.
Então as mazelas da mineração, ela está muito presente em nossa cidade. É uma cidade linda, pequena, mas precisa ter um outro olhar. E eu entendo que esse olhar passa pela educação, que é a espinha dorsal de qualquer planejamento que está estabelecido nas políticas, por educação, a cultura como eixo fundamental, mas cultura que eu falo é de valorizar realmente o que a nossa população produz na cidade e no campo.
Parar com esse negócio de que cultura é só esse show, shows mega shows. Não, não é isso. É bacana você conhecer essa moçada que vem, mas eu preciso que valorize aquela de trabalhar, que depende da arte ‘pra’ sua sobrevivência. E a gente tem muita gente que produz artesanato, que valoriza a juventude preta, a juventude que ‘tá’ aí nos cantos do nosso município.
Parar com esse processo de higienização, de colocar a nossa moçada lá ‘pros’ cantos e só trazer esportes que contemplam a uma camada social. Porque se acha que nós não estamos enxergando, nós estamos. Porque quando se é do movimento negro, quando se é de um conselho que trata da pauta da igualdade e de um núcleo de estudos afro-brasileiros e indígenas, a gente sabe e entende muito bem o que está acontecendo.
Então, essa cidade que tem tanto recurso, ela precisa dividir melhor esse bolo. Ela precisa ter uma coordenadoria de juventude que tenha um olhar realmente para essa moçada, porque é inadmissível que a gente tenha nos grupos de equidade dados reais que nos assustam, como a violência contra a mulher como cresceu, a violência sexual contra a nossa juventude e as nossas crianças na cidade e no campo. Então, tem que se falar disso.