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Hoje é quinta-feira, 4 de julho de 2024

A tragédia ambiental do Rio Grande do Sul e a Laudato Si

“Os esforços existentes para reduzir as mudanças climáticas têm sido profundamente inadequados, porque muitos daqueles que detêm mais recursos e poder econômico ou político parecem concentrar-se sobretudo em mascarar os problemas ou ocultar os seus sintomas”. (Papa Francisco - Laudato Si)

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “Editoriais”

Tragédia ambiental no Rio Grande do Sul

Ouça o áudio de "A tragédia ambiental do Rio Grande do Sul e a Laudato Si", do colunista Júlio Vasconcelos:

Nos últimos dias, as notícias sobre a tragédia ambiental no Rio Grande do Sul impactaram assustadoramente, não só o Brasil, mas todos os países do mundo, levando-nos a necessidade de uma profunda reflexão sobre o que estamos fazendo com a nossa Casa Comum. Os números da tragédia divulgados pelas mídias são realmente assustadores!

Dos 497 municípios pertencentes ao Estado, 431 foram fortemente afetados pelas enchentes, com muitas cidades como Lajeado, Estrela e Muçum ficando temporariamente inacessíveis. Em Lajeado, o nível do Rio Taquari superou os 30 metros!

Pelo menos 170 pessoas morreram devido às enchentes, com muitas outras desaparecidas. Mais de 80.000 ficaram desabrigadas devido à destruição de suas casas​.

Várias pontes e estradas foram destruídas e mais de 500.000 pessoas ficaram sem energia elétrica. A água potável e a comunicação por internet e telefone foram interrompidas em mais de 85 municípios.

Surgem então no ar algumas perguntas que não querem se calar: qual o motivo de tanta desgraça? Seria um castigo divino, como andou propagando nas mídias um padre católico, após dizer que o Rio Grande do Sul abraçou a bruxaria e o satanismo? Ou seria um problema da má gestão pública, como afirmam alguns políticos?

Independentemente das questões políticas e religiosas, os estudos indicam que a tragédia está intrinsecamente relacionada às severas agressões que o meio ambiente vem sofrendo nos últimos tempos, provocadas pelas mãos humanas. Mudanças climáticas com elevação da temperatura global (Efeito Estufa), crescimento urbano desordenado e desmatamento com a redução da capacidade de absorção de água pelo solo, erosão do solo e assoreamento dos rios, construção de barragens, represas e outros projetos de engenharia alterando significativamente o fluxo natural de rios e córregos são algumas das causas mais relevantes apontadas por estudos de ambientalistas.

O Papa Francisco, em sua Encíclica Laudato Si – Louvado Sejas –, publicada em maio de 2015, trata justamente do cuidado com o meio ambiente e com todas as pessoas, bem como de questões mais amplas da relação entre Deus, os seres humanos e a Terra. O título da Encíclica foi inspirado no Cântico das Criaturas, de São Francisco de Assis, no qual o santo louva a Deus meditando sobre a bondade do sol, do vento, da terra, da água e de outras forças naturais. O subtítulo da encíclica, “Sobre o Cuidado da Casa Comum”, propositadamente reforça o tema-chave.

Diante do contexto trágico em que estamos vivendo, vale a pena conhecer e refletir sobre algumas das exortações da Encíclica sobre a questão. Nela, o Papa reafirma que existe um “consenso científico muito consistente” de que as mudanças climáticas estão ocorrendo, bem como a evidência de que a atividade humana é o principal motor do aquecimento global e que as mudanças climáticas são “atualmente um dos principais desafios para a humanidade” (LS 25).

Afirma também que os esforços existentes para reduzir as mudanças climáticas têm sido profundamente inadequados, porque “muitos daqueles que detêm mais recursos e poder econômico ou político parecem concentrar-se sobretudo em mascarar os problemas ou ocultar os seus sintomas” (LS 26).

Diante do problema catastrófico, a Encíclica delineia várias maneiras de abordar a emergência climática e a crise da biodiversidade. As recomendações incluem uma redução drástica nas emissões de carbono e de outros gases de efeito estufa, o desenvolvimento de fontes de energia renovável e capacidade de armazenamento relacionada a uma transição para métodos de produção e transporte energeticamente eficientes (LS 26). Uma mudança no sistema de utilização de carvão e petróleo para energia solar e eólica e o aumento da proteção das florestas tropicais também fazem parte dessas recomendações (LS 38-39), além de outras mais.

Após várias outras exortações, verdadeiras preciosidades, a Encíclica recomenda a todos um estilo de vida focado menos no consumismo e mais em valores atemporais e duradouros. Propõe o foco na educação ambiental e em uma “conversão ecológica” na qual o encontro com Jesus levaria a uma comunhão mais profunda com Deus, com as outras pessoas e com o mundo natural. Concluindo, afirma que “enquanto a humanidade do período pós-industrial talvez fique recordada como uma das mais irresponsáveis da história, espera-se que a humanidade dos inícios do século XXI possa ser lembrada por ter assumido com generosidade as suas graves responsabilidades” (LS 165).

Quando começo a refletir sobre isso tudo, muito além da tendência de pensar que o problema está somente com os outros, olho ao meu redor e confesso que me assusto com a quantidade de coisas erradas com que me deparo no dia a dia, fruto de atitudes inconsequentes. Desperdício absurdo de água com mangueiras abertas durante longos períodos, deixando os vizinhos sem água, lâmpadas acessas em residências e locais públicos sem nenhuma necessidade, descartáveis jogados aleatoriamente no meio ambiente, nos rios, nas ruas e nas praças públicas, alimentos não consumidos e estragados jogados fora de forma inadequada, enquanto muitos morrem de fome, tocos de cigarros acessos jogados pelas ruas e pelas estradas gerando incêndios desastrosos, consumismo exacerbado, compra e utilização excessiva de automóveis de grande porte para uma única pessoa como forma de status e muitos outros.

Pode parecer simplório diante da tamanha complexidade do problema, mas acho que vale lembrar o pensamento do Gandhi: “como seres humanos que somos, nossa grandeza não está em sermos capazes de refazer o mundo, mas de sermos capazes de refazer a nós mesmos”. Se cada um de nós fizer a sua parte, quer seja um governante, um político, um empresário ou um simples cidadão, com certeza, o resultado final será muito diferente! O meio ambiente agradece! 

Quem tem ouvidos, que ouça!

Júlio Vasconcelos
Júlio César Vasconcelos, Mestre em Ciências da Educação, Professor Universitário, Coach, Escritor e Sócio-Proprietário da Cesarius Gestão de Pessoas
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