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Hoje é quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Reflexões sobre o Santuário de Aparecida

“A prática religiosa só é válida quando repercute no nosso caráter. A fé é vã se não nos torna mais justos, honestos e promotores da verdade”. (Padre Fábio de Melo)

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “Editoriais”

santuário de Aparecida do Norte

Ouça o áudio de "Reflexões sobre o santuário de Aparecida", do colunista Júlio Vasconcelos:

Recentemente tive a grata oportunidade de visitar o Santuário de Aparecida, no interior do Estado de São Paulo. Confesso que fiquei estupefato com a grandiosidade faraônica do Santuário, com a quantidade imensa de lojas vendendo todo tipo de artigos religiosos e até água benta, de bares, de lanchonetes, de restaurantes e de outros estabelecimentos comerciais. Chamou-me muito a atenção também a enorme quantidade de ônibus luxuosos com seus romeiros provenientes de todas as localidades do Brasil e a fé inabalável de alguns deles, esfolando seus joelhos no trajeto da passarela entre a velha e a nova Basílica, em busca de uma graça a ser alcançada ou como forma de agradecimento por outra recebida.

Algum tempo atrás, tive também a oportunidade de visitar o Santuário de Fátima em Portugal e a impressão que eu tive é que o tamanho da infraestrutura de lá não chega nem aos pés do que eu vi aqui. A Catedral Basílica do Santuário de Aparecida tem espaço para mais de 30.000 pessoas e é considerado o maior templo católico do Brasil e o segundo maior do mundo, menor apenas que a Basílica de São Pedro, no Vaticano. Tive dificuldades para entrar: estava abarrotada! O Santuário é o maior espaço religioso do país, com mais de 143 mil m² de área construída. Em 2017, registrou 13 milhões de visitantes, o maior de sua história. Estima-se que tenha um faturamento anual em cerca de R$ 100 milhões, valor esse gerado principalmente através de doações dos fiéis, vendas de artigos religiosos e receitas provenientes de diversos serviços oferecidos aos peregrinos e visitantes do Santuário, incluso estacionamento de veículos e aluguel de stands no monumental Shopping da Fé, entre outros.

Durante a visita, perambulando entre os prédios colossais, a multidão de fiéis e a quantidade enorme de velas acesas, com membros do corpo humano feitos de cera se derretendo tetricamente na Capela das Velas, fiquei me perguntando por que, diante de tanta manifestação religiosa, nosso País continua sendo campeão em termos de ocorrências de corrupção e crimes bárbaros.

De acordo com os relatórios do Estudo Global sobre Homicídios, em 2023 o Brasil liderou o ranking mundial de homicídios em números absolutos. Quando se leva em conta o número de mortes per capita, o Brasil fica na 11ª posição no ranking global, com 22,38 homicídios a cada 100 mil habitantes – quase quatro vezes mais do que a média global de 5,8 por 100 mil habitantes. Segundo a Transparência Internacional, o Brasil caiu 10 posições no Índice de Percepção da Corrupção (IPC) em 2023. Segundo a Jus Brasil, o preço da corrupção no Brasil chega a R$69 bilhões de reais por ano!

Incomodado com isso tudo, continuei me perguntando que tipo de cristãos somos nós! Será que Maria não via seu corpo como o Templo Sagrado do Divino Espírito Santo e vivia se expondo com leviandade? Será que ela ensinou seu Filho a matar os outros, estuprar, ser desonesto, ladrão e corrupto? Será que Jesus construiu fortalezas enormes e acumulou bens e dinheiro nos cofres, fruto das doações que recebia na época? Será que os Apóstolos assumiram cargos importantes nas instituições públicas ou na hierarquia da religião judaica? Será que os primeiros seguidores de Jesus viviam estuprando, brigando entre si, agredindo-se mutuamente e matando-se uns aos outros? Será que foram essas as lições que nos foram deixadas? Se não foram e se foram radicalmente opostas a isso tudo, por que não conseguimos colocar em prática?

Há mais de dois mil anos um grupo de doze homens simples e analfabetos conseguiu levar a Boa Nova do Divino Mestre para o mundo, convertendo multidões ao verdadeiro espírito do cristianismo, tanto que muitos deram a própria vida em nome do Evangelho, sendo crucificados ou literalmente devorados por feras, no Coliseu, em meio aos urros insanos da multidão. Por que será que um País como o Brasil, com mais de 185 milhões de cristãos, não consegue reverter a dura realidade que se nos apresenta, estampada de forma recorrente em todas as mídias no nosso dia a dia?

Sinceramente, tem horas que gostaria de ter uma varinha mágica para, num simples toque, conseguir mudar toda essa nossa triste realidade! Mas, infelizmente, isso não é possível! Enquanto isso, vou tocando em frente, tentando, de forma intensa, apesar dos percalços, dar a minha humilde contribuição com pequenos atos do dia a dia e orando a Deus para que transforme de forma profunda o coração dos homens. De certa forma, no meio dessa confusão, conforta-me lembrar dos ensinamentos de Gandhi: “Como seres humanos, nossa grandeza não está tanto em sermos capazes de refazer o mundo, mas sermos capazes de refazer a nós mesmos”…

Quem tem ouvidos, que ouça!

Picture of Júlio Vasconcelos
Júlio César Vasconcelos, Mestre em Ciências da Educação, Professor Universitário, Coach, Escritor e Sócio-Proprietário da Cesarius Gestão de Pessoas
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