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Hoje é quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Como tratam quem torce pelo Clube Atlético Mineiro

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “Editoriais”

Arena MRV, pertencente ao Clube Atlético Mineiro

Ouça o áudio de "Como tratam quem torce pelo Clube Atlético Mineiro", do colunista Alexandre Amorim:

Hoje, uma segunda-feira daquelas que nascem com um tempo medonho, nuvens pesadas, ameaçando chuva bem no horário de saída do trabalho. Mais um início de semana com um gosto amargo na boca. E como queria eu, atleticano, poder dizer que esse sabor amargo fosse apenas pela derrota do Galo para o Flamengo na Arena MRV.

Mas o gosto amargo vem do expor de um problema mais profundo: a experiência terrível e desrespeitosa que os torcedores vêm enfrentando na Arena MRV. Imaginemos, em pleno século XXI, uma arena “a mais tecnológica da América Latina” que falha em cumprir o Estatuto do Idoso, ignorando o conforto dos torcedores mais antigos, aqueles que construíram a história do Clube Atlético Mineiro. Ao mesmo tempo, ignora também normas básicas de segurança e atenção ao público. A administração atual, representada pela SAF, revela um descompromisso preocupante com os princípios fundamentais de acolhimento e respeito.

Este tipo de desrespeito encontra reflexo em declarações de autores como José Miguel Wisnik, que em “Veneno Remédio: O Futebol e o Brasil” argumenta que o futebol reflete nossa sociedade, tanto em suas belezas quanto em suas mazelas. Wisnik ressalta que “o futebol se constitui em símbolo de nossa sociedade não apenas por sua popularidade, mas pela complexidade de suas interações sociais”. É a representação de um descuido social que ultrapassa as quatro linhas e atinge diretamente a dignidade dos torcedores.

Como torcedor, fui à Arena MRV com meu pai, já idoso e cansado, que aos 74 anos não consegue mais suportar 90 minutos em pé. E o que recebemos em troca do dinheiro investido nos ingressos? Um descaso profundo. Nenhum funcionário para orientar ou resolver disputas, nenhuma assistência aos que desejavam apenas ver o jogo em paz, nem mesmo um gesto básico de empatia para com os idosos. O filósofo Byung-Chul Han, em “A Sociedade do Cansaço”, descreve a exaustão emocional causada pelo descaso das grandes corporações e pela ausência de amparo ao ser humano comum, um fenômeno que se estende para o torcedor que, ano após ano, investe tempo e dinheiro em um sistema que o ignora.

Após 45 minutos de frustração, deixamos o estádio sem conseguir a mínima atenção. A resposta formal ao nosso e-mail foi um desdém vazio: “Desculpe pelo transtorno. Esperamos que continue a apoiar o Clube Atlético Mineiro.” Mas vale lembrar, como faço questão de reforçar: apoiar o Clube Atlético Mineiro é algo que a minha família fará para sempre. Contudo, a SAF, que agora administra o Galo, não representa o verdadeiro Atlético Mineiro, e isso precisa ser destacado. A SAF transformou o clube em uma entidade desumanizada, com foco exclusivo em lucros.

Afinal, como aceitar que, em um evento esportivo de tamanha relevância, famílias inteiras tenham sido expostas a um ambiente inseguro e despreparado? Crianças, mulheres, idosos e homens que pagaram por um ingresso caro foram deixados à mercê de invasores e criminosos. Essa falha gritante de segurança na Arena MRV não é apenas desrespeitosa, mas coloca em risco a vida dos torcedores. O sociólogo Richard Giulianotti, especialista em estudos do futebol, explica que, ao não se tratar os torcedores com dignidade e respeito, os clubes e arenas afastam aqueles que são seus maiores sustentadores e defensores.

Por essa razão, ao decidir não renovar o programa Galo na Veia e não mais adquirir produtos do Atlético, eu escolhi que a minha melhor forma de protesto é o voto com minha carteira. A minha indignação será demonstrada na recusa em entregar dinheiro a quem enxerga o torcedor apenas como um número de planilha. Essa decisão, acredito, deve ser uma reação coletiva dos torcedores. É a única maneira de exigir responsabilidade daqueles que se recusam a entender o impacto da má gestão.

Portanto, para aqueles que compartilham deste sentimento de indignação, faço um convite: votem com suas carteiras. Boicotem a Arena MRV, renunciem ao consumo de produtos que sustentam essa administração, e escolham o conforto de suas casas para assistir ao Galo. Organizem um churrasco, convidem os amigos e a família, mas recusem-se a compactuar com essa situação lamentável.

Ao adotarmos essa postura, demonstramos à SAF e aos gestores da Arena MRV que o respeito ao torcedor não é uma escolha, mas uma obrigação. Como dizia o escritor Galeano, “no futebol como na vida, o respeito e a dignidade não podem ser comprados ou vendidos”. Que nossa ausência e nosso silêncio no estádio ecoem como um grito de protesto contra a ganância e a negligência.

Picture of Alexandre Amorim
Alexandre Amorim é mineiro, pai e defensor da utilização de novas tecnologias em prol da liberdade, educação e desenvolvimento cultural da comunidade de Mariana. Estudante perpétuo, é orgulhosamente um bibliotecário e acredita no impacto positivo da leitura para o futuro.
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